Bibliotecas universitárias portuguesas no universo da web 2.0

AutorAlexandra Santos - António Andrade
CargoMestre em Ciências da Informação e da Documentação Faculdade de Filosofia Universidade Católica Portuguesa - Doutor em Tecnologias e Sistemas de Informação Faculdade de Economia e Gestão
Páginas116-131

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Alexandra Santos

Mestre em Ciências da Informação e da Documentação

Faculdade de Filosofia Universidade Católica Portuguesa

alexasantos54@hotmail.com

António Andrade

Doutor em Tecnologias e Sistemas de Informação Faculdade de Economia e Gestão

Professor da Universidade Católica Portuguesa

aandrade@porto.ucp.pt

1 A biblioteca e a WEB 2 0

Na clarividente opinião de Davis (1998, p. 109), “a recolha de informação define tanto a civilização como a recolha de alimentos define as culturas nómadas que precederam o aparecimento de comunidades urbanas, armazenamento de produtos agrícolas e hierarquias sociais estratificadas”.

A Internet, em particular com o seu serviço Web (WWW), facilita, sobretudo, desde a primeira geração da sua massificação o acesso à informação. Todavia, veio permitir um novo equilíbrio no consumo e na produção de informação com as tecnologias Web 2.0. A emergente Web 3.0, ou Web semântica, lança profundas interpelações a uma economia de serviços baseados em trabalhadores do conhecimento, ao equipararse a factores diferenciadores de cada ser, como se vislumbra, entre outras, com a proposta Wolfram Alpha.

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative CommonsDOI 10.5007/1518-2924.2010v15nesp2p116

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Tipicamente as organizações viram na Internet um canal para informar e outras descobriram uma possibilidade de transaccionar e de interagir. No plano da interacção colocase a possibilidade de usar este canal para a prestação do serviço ou para acolher a capacidade dos utilizadores de gerarem conhecimento útil para a organização. No caso das bibliotecas a sua capacidade de agregar serviços da Web 2.0 é fundamental para a sua renovação face às modernas exigências. Adoptando a estratégia de um ambiente de participação, concedendo aos utilizadores o poder de criar e de contribuir com conteúdos por eles produzidos, pode incrementar a aprendizagem social e melhorar o grau de satisfação dos utilizadores.

As bibliotecas deparamse com uma nova geração de utilizadores online que possuem uma particular inteligência tecnológica e integram o acesso à informação e o seu uso em todas as esferas da sua vida (LIU, 2008).

Existem percepções positivas das inúmeras vantagens que as tecnologias da Web 2.0 trouxeram para a actividade humana e que poderemos ver transferidas para o universo das bibliotecas. A possibilidade do utilizador ser cada vez mais participativo nos serviços é uma maisvalia mas, também, um desafio para as próprias bibliotecas. O meio digital suportado pela Internet integra o multimédia, o que pressupõe a conjugação de diversos elementos e da interactividade, o que é um desafio acrescido às bibliotecas centradas, tradicionalmente, no elemento papel.

Maness (2006) refere que a Biblioteca 2.0 é “the application of interactive, collaborative, and multimedia webbased technologies to webbased library services and collections”. Assim, a Biblioteca 2.0 incorpora novas ferramentas e serviços que permitem que os utilizadores (individuais ou organizações) personalizem a gestão da informação e construam conteúdos, introduzindo a informação produzida num media social, desenvolvendo, assim, o conceito de “inteligência colectiva”.

A Biblioteca 2.0 facilita e encoraja uma cultura de participação, desenhando as perspectivas e contribuições dos profissionais da biblioteca, parceiros tecnológicos e da comunidade abrangente (CHAD; MILLER, 2005).

A verdade é que a combinação dos serviços da Web 2.0 nas bibliotecas universitárias tem de ser feita tendo em conta a sua utilidade e o resultado das implicações da adopção desses serviços (MCMANUS, 2009).

As instituições devem considerar os riscos associados ao uso das tecnologias e serviços da Web 2.0 e identificar as estratégias para lidar com as potenciais ameaças de modo a que consigam alcançar o equilíbrio entre os riscos e os benefícios, de forma a maximizar os dividendos que podem ser ganhos pela utilização da Biblioteca 2.0 (KELLY et al., 2008).

De modo geral, Adie (2008) identifica as fraquezas que a Web 2.0, e por inerência a Biblioteca 2.0, acarreta: confidencialidade, segurança, fiabilidade, usabilidade e protecção de dados. Para Miller (2005) “Libraries should (…) push their genuinely valuable content, services and expertise out places where people might stand to benefit from them; places where a user would rarely consider drawing upon a library support”.

Assim, tendo em conta o processo de abertura (ou não) de serviços e conteúdos receptivos à inteligência colectiva, esta pesquisa centrase no universo das bibliotecas das principais universidades portuguesas que adoptam tecnologias Web 2.0, concretamente algumas

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plataformas de publicação, discussão, partilha, relacionamento, agregação e colaboração, analisáveis no plano do seu acesso, participação e edição de conteúdos, sejam eles feitos exclusivamente pela instituição ou pelos próprios utilizadores.

2 Paradigma da biblioteca 2 0?

Os elementos centrais da inteligência colectiva manifestamse nas questões: (1) executa a tarefa e o está a fazer? E (2) o já está realizado e tem sido feito?

O “quem” e o “porquê” percorre um domínio de competências, motivações e de incentivos. O “o quê” e “como” assentam na dimensão da arquitectura da estrutura e dos processos para atingir os objectivos. Só compreendendo o genoma da colaboração em casos modelo como o desenvolvimento do Linux e da Wikipédia, entre outros, permitirá a quem dirige as bibliotecas, ter a necessária visão estratégica para usar a Web 2.0 (MALONE; LAUBACHER; DELLAROCAS, 2009).

A crescente visibilidade da Internet no mundo actual, assim como os seus grandes avanços e desenvolvimentos, faz com que a biblioteca se veja obrigada a acompanhar essas mudanças. A verdade é que ela se tem dado conta das suas próprias limitações tecnológicas, numa altura em que os utilizadores estão acostumados a navegar facilmente em sites como o Amazon e similares (COURTNEY, 2007).

O aparecimento da Web 2.0 trouxe com ela inúmeros desafios: intelectuais, jurídicos e sociais. A Web 2.0 representa uma modificação profunda da “paisagem Internet” e contribui para a supremacia da Web na vida quotidiana (KRAJEWSKI, 2007).

Esta é a era do social networking, da inteligência colectiva, da participação, da personalização, da criação colaborativa, onde diariamente se criam novos ambientes. Mas será que este tipo de ambiente anárquico tem um impacto real? (WARR, 2008).

Partese da convicção que a informação recuperada numa biblioteca é fidedigna, e que já foi anteriormente seleccionada, avaliada e filtrada, de modo a que aquilo a que denominamos de “lixo informacional” tenha sido excluído.

Um dos problemas da escrita colaborativa é que essa filtragem poderá não ser feita, já que qualquer indivíduo poderá introduzir e partilhar conteúdos a qualquer hora e a partir de qualquer lugar desde que esteja ligado à rede, sendo impossível para a biblioteca poder controlar essa introdução, pelo menos em tempo real. Mas esta situação, resolvida de outro modo, fomenta a questão que se prende com a liberdade de expressão, já que fazendo este controlo de publicação de conteúdos será aplicado um determinado tipo de censura “editorial”, indo, assim, contra o que proclama a Web 2.0.

Ferramentas como os blogues e as wikis permitem uma interacção directa com os utilizadores. O número de blogues aumenta de uma forma vertiginosa porque são recursos económicos e simples de agregar e editar, mas é fundamental contar com os recursos humanos necessários para actualizar os seus conteúdos periodicamente. As wikis não têm tido tanta difusão devido aos perigos que encerra a liberdade de inclusão de conteúdos em detrimento da sua qualidade (DOBRECKY, 2007).

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A verdade é que a massificação de conceitos como Biblioteca 2.0 não garante que estas ferramentas se constituam como um novo paradigma na área da biblioteconomia, ou mesmo uma vantagem clara para os próprios utilizadores. O sucesso dependerá da estratégia e da capacidade de gestão dos novos meios. Isoladamente o software social é uma maisvalia, pois há o potencial aproveitamento da inteligência colectiva e social dos utilizadores dos Serviços de Informação. No entanto, é necessário que a instituição trate essa informação e a disponibilize, e não só a recompile (SOUSA et al., 2007, p.102). Cada instituição terá, então, de analisar a sua situação em função das suas possibilidades económicas, tecnológicas e humanas, antes de implementar algumas destas novas tecnologias (DOBRECKY, 2007).

É, igualmente, importante que a biblioteca faça um estudo sobre o que o seu utilizador quer e necessita, antes de tomar alguma decisão sobre que aplicações e iniciativas integrarão na sua biblioteca (CASEY; SAVASTINUK, 2007).

As bibliotecas “must now begin to use these Web 2.0 applications if they are to prove themselves to be just as relevant as other information providers, and start to deliver experiences that meet the modern user’s expectations” (CHAD; MILLER, 2005).

A verdade é que não é difícil teorizar sobre as potencialidades das aplicações da Biblioteca 2.0. O difícil é que este trabalho seja feito de modo a que os impactos negativos não sejam grandes, não só para os utilizadores como para as bibliotecas em si.

3 Potencialidades da WEB 2 0

As rápidas transformações que a Internet tem sofrido ao longo dos últimos anos, modificaram a forma como esta é utilizada. Essas mudanças passam pelo surgimento de novos serviços e novas ferramentas que favoreceram o desenvolvimento de uma nova forma de comunicar e aceder à informação.

A Internet assume um papel de destaque na medida em que viabiliza a criação de ambientes favoráveis à...

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