Uma história ambiental da floresta nacional de passo fundo: a aquisição das terras

AutorDébora Nunes de Sá - Marcos Gerhardt
CargoMestranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo, Brasil - Doutor em História pela Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis
Páginas182-202
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2016v13n3p182
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.3, p.182-202 Set.-Dez. 2016
UMA HISTÓRIA AMBIENTAL DA FLORESTA NACIONAL DE PASSO FUNDO: A
AQUISIÇÃO DAS TERRAS
Débora Nunes de Sá
1
Marcos Gerhardt2
Resumo:
Este artigo narra e interpreta o processo de aquisição das terras do Parque Florestal
José Segadas Viana, atual Floresta Nacional de Passo Fundo (FLONA), que, de
acordo com a imprensa, foi marcado por conflitos envolvendo os proprietários das
terras, os intermediários da negociação, o Instituto Nacional do Pinho (INP) e a
imprensa local. A principal fonte utilizada é o jornal O Nacional, que veiculou muitos
textos e notícias sobre o tema no período de setembro a outubro de 1946. Emprega
a abordagem da História Ambiental e afirma que a criação do Parque, com formato
irregular e descontínuo, prejudica a função atual da FLONA como unidade de
conservação.
Palavras-chaves: Floresta Nacional. História Ambiental. Imprensa. Instituto
Nacional do Pinho. Unidade de Conservação.
1 INTRODUÇÃO
Analisa-se o processo de aquisição das terras para criar o Parque Florestal
José Segadas Viana, que foi marcado por um conflito envolvendo diversos atores e
registrado pela imprensa escrita regional. No distrito de Mato Castelhano, município
de Passo Fundo, em 1944, diversos proprietários de terras, sabendo do interesse do
Instituto Nacional do Pinho (INP) na aquisição de uma área rural para criar um “horto
florestal”, em Passo Fundo ou Carazinho RS, contataram o Instituto para oferecer
suas propriedades à venda (O NACIONAL, 28 set. 1946, p. 1; O NACIONAL, 30 set.
1946, p. 1). A compra das terras pelo INP efetuou-se dois anos depois, em 1946 e
foi criado o Parque Florestal José Segadas Viana, hoje a Floresta Nacional de Passo
Fundo (FLONA PF).
A história da FLONA PF tem uma característica peculiar: não inicia com um
remanescente de floresta que se pretende proteger e conservar. Ao contrário, seu
princípio é a compra de terras agricultáveis, com uma pequena área de Floresta
1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo, RS,
Brasil. Bolsista CAPES. E-mail: nunesdesaa@gmail.com
2 Doutor em História pela Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC. Professor
na Graduação em História e no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo
Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: marcos@gerhardt.pro.br
183
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.3, p.182-202 Set.-Dez. 2016
Ombrófila Mista nativa, para a implantação de uma estação experimental de plantio
de árvores nativas. Neste sentido, a atual FLONA PF é, predominantemente, uma
floresta plantada.
Emprega-se a abordagem da História Ambiental, que estuda as interações
humanas com o meio ambiente. O principal objetivo dos estudos vinculados com ela
é compreender e analisar como os seres humanos agiram e agem em relação a
natureza, como são afetados pelo ambiente natural, como o afetam e que impactos
essas interações produzem, isto é, “Em termos bem simples, portanto, a história
ambiental trata do papel e do lugar da natureza na vida humana” (WORSTER, 1991,
p. 201).
O artigo apresenta o contexto de criação das primeiras unidades de
conservação no Brasil, focaliza as Florestas Nacionais e apresenta as principais
características da Floresta Nacional de Passo Fundo (FLONA) e, por último, aborda
o processo de aquisição das terras para o Parque Florestal José Segadas Viana,
atual FLONA de Passo Fundo.
2 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
A concepção presente na criação das primeiras unidades de conservação
protegidas, “[...] provém do século passado, tendo sido criadas primeiramente nos
Estados Unidos, a fim de proteger a vida selvagem (wilderness) ameaçada, segundo
seus criadores, pela civilização urbano-industrial, destruidora da natureza”
(DIEGUES, 2002, p. 15, grifos no original). Para eles, “[...] mesmo que a biosfera
fosse totalmente transformada, domesticada pelo homem, poderiam existir pedaços
do mundo natural em seu estado primitivo, anterior à intervenção humana”
(DIEGUES, 2002, p. 15, grifos no original). Esses espaços eram vistos como ilhas
em que o homem urbano poderia se conectar com a natureza intocada.
O primeiro parque nacional do mundo foi o de Yellowstone, nos Estados
Unidos, criado no final do século XIX. Em seguida
[...] o Canadá criou seu primeiro parque nacional em 1885, a Nova Zelândia
em 1894, a África do Sul e a Austrália em 1898. A América Latina foi um
dos primeiros continentes a copiar o modelo de parque nacional sem
população residente. O México estabeleceu sua primeira reserva florestal
em 1894, a Argentina em 1903, o Chile em 1926 e o Brasil em 1937 com
objetivos similares ao de Yellowstone, isto é, proteger áreas naturais de

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT