Uma aproximação entre a igualdade em Wittgenstein e a identidade em descombes

AutorMariana Teixeira Santos Moura
CargoDoutora e Mestre em Direito, Economia e Sociedade na União Europeia pela Universidade de Salamanca (Salamanca, Espanha). Professora da Universidade do Estado da Bahia. Contato: marianatsmoura@gmail.com
Páginas107-122
* Doutora e Mestre em Direito, Economia e Sociedade na União Europe ia pela Universidade de Salamanca
(Salamanca, Espanha). Professora da Universidade do Estado da Bahia. Contato: maria natsmoura@gmail.com
UMA APROXIMAÇÃO ENTRE A IGUALDADE EM WITTGENSTEIN
E A IDENTIDADE EM DESCOMBES
AN APPROXIMATION BETWEEN EQUALITY IN WITTGENSTEIN AND
IDENTITY IN DESCOMBES
Mariana Teixeira Santos Moura *
RESUMO
Artigo destinado a analisar se o conceito de igualdade para Wittgenstein é o mesmo que identidade
para Vicent Descombes em seu livro Les embarras de l’identité. Para tanto, toma-se de Wittgenstein o
conceito de igualdade e segue-se com Descombes o fio condutor da investigação acerca da identidade
para pensar, com os autores, o problema próprio sobre a equivalência entre os conceitos para,
finalmente, situar o sentido de identidade.
Palavras-chave: Igualdade. Identidade. Vincent Descombes. Wittgenstein.
ABSTRACT
This article aims to analyze whether the concept of equality for Wittgenstein is the same as identity for
Vicent Descombes in his book Les embarras de l'identité. For this, Wittgenstein takes the concept of
equality and follows with Descombes the guiding line of the investigation about the identity to think,
with the authors, the own problem on the equivalence between the concepts to finally situate the sense
of identity.
Keywords: Equality. Identity. Vincent Descombes. Wittgenstein.
1 INTRODUÇÃO
Alguns questionamentos fundamentais acerca da identidade se mostram
aparentemente semelhantes: “Quem sou eu?”, “Quem é ele?”, “Quem somos nós?”. Mas qual
a diferença entre estes tipos de perguntas? Há um elemento singular que marca cada uma
destas perguntas. A noção de identidade dá variação ao substantivo, mas também se utiliza de
adjetivos para qualificar e, portanto, individualizar, promovendo a identificação que se busca
na pergunta: “Quem é ele?”.
Similarmente, ao se elaborar a pergunta “Quem sou eu?” é também possível se
contentar com uma identificação enquanto levantamento de dados que individualizem o
sujeito mediante uma identidade jurídica. Sujeito de direitos e deveres. Contudo, talvez o
110 | Uma aproximação entre a Igualdade em Wittgenstein e a Identidade em Descombes
Revista Direitos Fundamentais e Alteridade, Salvador, V. II, Nº 01, p. 109 a 124, jan-jun, 2018 | ISSN 2595-0614
sentido do questionamento seja alcançar uma identidade mais profunda, de caráter filosófico,
a respeito do “eu”, contínuo, invariável, único. Ou seja, cernir a identidade pessoal do sujeito
moral.
Junto a isso, nos séculos XX e XXI, se considera a identidade enquanto traço,
como unidade de conexão social, portanto, característica psicossocial que transcende a
individualidade, mas confere uma identidade de pertencimento a determinada coletividade,
um termo mais plural: identitário, que inclui, no indivíduo, a pluralidade. Termo utilizado por
Erikson, após a Segunda Guerra, nos estudos sobre a “crise de identidade” e a dificuldade do
restabelecimento da relação de pertencimento, por sua vez tomadas das contribuições de
Freud e William James sobre algo que é mais próprio de si, a busca do autoconhecimento.
Seguindo a estrutura organizacional do livro Les embarras de l’identi de
Vincent Descombes, desde o primeiro capítulo, observa-se a relevância semântica da palavra
identidade. Neste contexto, toma-se de Wittgenstein o conceito de igualdade e segue-se com
Descombes o fio condutor da investigação acerca da identidade.
Por um lado, chama a atenção o fato do Dicionário de Wittgenstein de Glock não
trazer igualdade, mas apenas identidade, entre os verbetes, da mesma forma que o Dicionário
de Ferrater Mora. Ainda que Abbagnano contemple os dois verbetes, mas sem fazer menção
expressa a Wittgenstein. Por outro lado, Descombes utiliza diretamente entre as referências a
Wittgenstein o uso do seu conceito de igualdade, aplicado às elaborações sobre a identidade.
Neste contexto, surge a inquietação: o conceito de igualdade para Wittgenstein é o mesmo
que identidade para Descombes?
2 O PROBLEMA LEXICAL DA IDENTIDADE
A lexidade da palavra identidade decorre da complexidade mesma do conceito de
identidade. O sujeito não se constitui a partir de si, pois o próprio sujeito está tecido da
sedimentação do processo social que forma a sua subjetividade. Não se trata, portanto, de algo
que se acrescenta a uma identidade já dada. O “si próprio” se constitui neste processo. Logo,
não há um “si próprio” a prior i, independente desse entrelaçamento psicossocial, pese
considerações em sentido contrário. Para Descombes (2013, p. 36-40), o psicossocial forma a
identidade, mas, com Erikson, ainda se questiona: até que ponto o psicossocial forma a
identidade?
Neste sentido, a contribuição de Wittgenstein aparece na forma pela qual o sujeito
declara a sua identidade. Tomam-se as proposições §215 e §216 das Investigações filosóficas
para análise:

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT