Um novo modus vivendi baseado em 'vidas secas'

AutorAna Carolina de Mari Rocha
CargoGraduanda em Direito pela UFMG. Bolsista da FAPEMIG em pesquisa de Iniciação Científica da UFMG. E-mail: anacarolinamari@hotmail.com
Páginas9-25
Dom Helder - Revista de Direito, v.2, n.2, p. 9-25, Janeiro/Abril de 2019
UM NOVO MODUS VIVENDI BASEADO
EM “VIDAS SECAS”
Ana Carolina de Mari Rocha1
1 Graduanda em Direito pela UFMG. Bolsista da FAPEMIG em pesquisa de Iniciação Cientíca da UFMG. E-mail:
anacarolinamari@hotmail.com
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Os direitos humanos são analisados à
luz da obra literária Vidas Secas visando
compreender questões socioambientais e
culturais envolvidas no sertão nordestino
brasileiro que perduram até hoje. Busca-se
descortinar a realidade de esquecimento e
enfatizar o tempo em que acontecem, e as-
sim demonstrar a atemporalidade da his-
tória. O problema consiste na indagação
acerca da possibilidade de uma hermenêu-
tica jurídico-social atual por meio da obra
de Graciliano Ramos escrita em 1938. O
estudo tem os ideais de “solidariedade” de
Zygmunt Bauman e “outridade” de Enri-
que Le como marcos teóricos principais.
Além disso, a ideia de “alteridade” traba-
lhada por Emmanuel Levinas foi utilizada
como referencial teórico subsidiário. Uti-
liza-se pesquisa doutrinária, de maneira
analítico-descritiva, para concluir sobre a
atemporalidade do texto e a emergência
da necessária formação de um padrão de
outridade em relação à região sertaneja, e
a outras igualmente esquecidas. São espa-
ços que necessitam de uma ressignicação
coletiva capaz de transformar seus mora-
dores em verdadeiros atores sociais aptos a
inuenciarem o ambiente em que vivem.
Palavras-chave: ambiente; outridade; al-
teridade; direitos humanos; multidiscipli-
naridade.
Resumo
Artigo recebido em: 05/12/2018.
Artigo aceito em: 10/06/2019.
10 UM NOVO MODUS VIVENDI BASEADO EM “VIDAS SECAS”
Dom Helder Revista de Direito, v.2, n.2, p. 9-25, Janeiro/Abril de 2019
Introdução
O livro Vidas Secas leva à constatação de uma situação socioambiental não
meramente ctícia, mas real, de esquecimento e abandono do sertão nordestino e
de seus moradores. É uma realidade que perdura, desde que o livro foi escrito, há
quase cem anos no cenário brasileiro, devido a um forte desinteresse, econômico e
social, de investimento na região.
A obra aborda diversos aspectos de opressão sobre as personagens que repre-
sentam, de certa forma, a ‘coletividade dos sertanejos nordestinos’. Das várias re-
leituras possíveis de serem feitas sobre o texto, desde discussões acerca da domina-
ção e subjugação pelo uso (ou falta) do conhecimento linguístico a até teorizações
sobre a forma como as personagens enxergavam o Estado dentro de suas posições
sociais, a presente pesquisa tenta dar ênfase à dimensão ambiental envolvida na
narrativa. A partir disso, busca compreender como os diversos espaços descritos ao
longo do livro contribuem para xar relações hegemônicas e acentuar as desigual-
dades existentes, e como isso interfere nas demais releituras relacionadas.
O problema da pesquisa, portanto, é tentar averiguar a possibilidade de uma
hermenêutica jurídico-social atual por meio de Vidas Secas. Objetiva-se, generica-
mente, a demonstrar a atemporalidade da obra de Graciliano Ramos e a analisar
os direitos humanos atingidos sob padrões de Direito Ambiental, de alteridade
e de outridade. Especicamente, objetiva-se a analisar o livro, as personagens e
seus ambientes por meio de uma leitura multidisciplinar e multirreferencial; a
In this paper the book Vidas Secas is used
as support to the understanding of Human
Rights over the life, culture and socio-envi-
ronmental matters in the Northeast region
of Brazil, the Sertão, which endures to this
day. It intends to reveal the reality of the Ser-
tanejo life and emphasize the time in which
it happens, thus demonstrating the time-
lessness of the story. e matter consists in
questioning the possibility of a modern social
and legal hermeneutics through the work of
Graciliano Ramos, written in 1938. e
study carries the ideals of ‘solidarity’ from
Zygmunt Baumann and ‘otherness’ from
Enrique Le as fundamental frameworks.
Besides, the idea of ‘alterity’ from Emmanuel
Levinas’ work was utilized as a subsidiary
theoretical framework. rough doctrinal
research, in an analytically-descriptive man-
ner, it concludes on the timeliness of the text
and the emergency of an necessary formation
of a pattern of alterity in relation to the Ser-
tanejo region, and other equally forgotten
regions. ey are spaces that need a collective
re-signication capable of transforming its
inhabitants into true social actors capable of
inuencing the environment in which they
inhabit.
Keywords: environment; otherness; Human
Rights; alterity; multidisciplinarity.
Abstract
A NEW MODUS VIVENDI BASED
ON “VIDAS SECAS”

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