Três crônicas mínimas sobre jogos da memória

AutorMônica Sette Lopes
Páginas93-98
Três crônicas mínimas
sobre jogos da memória
Crônica nº 1
No meio da tristeza, o amigo disse que ela não se pre-
ocupasse. Era sabido. Quando chegasse ao paraíso, se tudo des-
se certo, Deus enviaria para recebê-la os cachorrinhos da vida
inteira. Eles estariam lá perlhados. Abanando o rabo. Pulando.
Babando. Demonstrando cada um a seu modo de sempre a ale-
gria de vê-la. Isso deu um calor lá dentro. Um alívio. Ela libera-
ria Deus para seus afazeres, tantos pedidos maiores, tantas ur-
gências a atender, tantas questões da humanidade inteira. Que
Ele a deixasse com os seus bichinhos, essa experiência da mor-
te ensinada no antes, desde a infância. Eles que mostraram na
curta intensidade como era morrer, como era deixar para trás,
como era viver depois da morte. Eles estariam lá para começar
de novo. E ela chorou o choro dos dias de ver a passagem do
passado vivido. A impressão é de que os dias estavam sempre
disponíveis nas coisas. Todos eles. Organizados no aleatório dos
jogos sintéticos, movidos pelo acaso, a denunciar a lembrança

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