A transição da mortalidade por cânceres no Brasil e a tomada de decisão estratégica nas políticas públicas de Saúde da Mulher

AutorRaphael Mendonça Guimarães/Camila Drumond Muzi/Moema de Poli Teixeira/Sonoe Sugahara Pinheiro
Páginas33-50
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A TRANSIÇÃO DA MORTALIDADE POR CÂNCERES NO BRASIL E A TOMADA DE DECISÃO
ESTRATÉGICA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE DA MULHER
Raphael Mendonça Guimarães
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
Camila Drumond Muzi
Instituto Nacional de Câncer (INCA)
Moema de Poli Teixeira
Fundação Cesgranrio
Sonoe Sugahara Pinheiro
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
A TRANSIÇÃO DA MORTALIDADE POR CÂNCERES NO BRASIL E A TOMADA DE DECISÃO ESTRATÉGICA NAS
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE DA MULHER
Resumo: Este artigo tem por objetivo descrever a evolução da transição da mortalidade por cânceres de mama e colo do
útero no Brasil em relação ao desenvolvimento socioeconômico. Foram obtidos dados de mortalidade por câncer de mama
e de colo do útero no Brasil para um período de 20 anos, correspondente a um intervalo bicensitário. Os óbitos foram
corrigidos e as taxas padronizadas. Além disso, indicadores sociais foram mensurados para os três anos censitários
incluídos na série temporal. Observa que os estados brasileiros possuem muita heterogeneidade com relação aos
indicadores sociais e à mortalidade pelos dois cânceres, e parece haver um padrão entre a condição socioeconômica e a
mortalidade por câncer de mama e de colo do útero. Conclui que é necessário, portanto, realizar a avaliação e o
planejamento das ações, considerando cenários de desenvolvimento, para garantir o acesso universal e equitativo das
mulheres às políticas públicas de saúde.
Palavras-chave: Demografia, Mortalidade, Desenvolvimento, Câncer, Políticas públicas, Políticas de saúde.
CANCER'S TRANSITION IN BRAZIL AND STRATEGICAL DECISION-MAKING IN WOMEN´S PUBLIC HEALTH
POLICIES
Abstract: This article aims to describe the evolution of the transition in mortality from breast and cervix cancers in Brazil in
relation to socioeconomic development. There were data obtained of mortality from breast cancer and cervical cancer in
Brazil for a period of 20 years, corresponding to a censitary range. Deaths were corrected and rates standardized. In
addition, social indicators were measured for all three census years included in the time series. It was observed that the
Brazilian states have a lot of heterogeneity with respect to social indicators and mortality for both cancers, and there seems
to be a pattern between socioeconomic status and mortality from breast and cervix cancer. It is therefore necessary to carry
out the assessment and planning of actions, considering development scenarios, to ensure universal and equal access of
women to public health policies.
Key words: Demographics, Mortality, Development, Cancer, Public policies, Health policies.
Recebido em: 20.01.2016. Aprovado em: 22.02.2016.
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1 INTRODUÇÃO
É crescente a carga de doenças
crônicas não transmissíveis em todo o mundo,
e muito se fala a respeito de uma ação global
para conter esta crescente carga,
especialmente nos países de baixa e média
renda, uma vez que este grupo de doenças
representa atualmente 80% da carga de
doença mundial (FARMER; FRENK; KNAUL,
2010).
Em particular, a previsão é de que
haja aproximadamente 13,2 milhões de óbitos
por câncer em todo o mundo em 2030, um
número consideravelmente maior que os 7,6
milhões de óbitos em 2008 (FERLAY et al.,
2010).
Bray e outros (2012) avaliaram os
padrões mundiais de carga de câncer, tanto em
termos de incidência e mortalidade, e previram
cenários futuros em relação aos diferentes
níveis de desenvolvimento socioeconômicos,
medidos usando o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH). Este estudo fornece uma boa
explicação da teoria da transição do câncer,
que serve para fins de pesquisa e orientação
na definição de prioridades para o controle do
câncer.
A transição do câncer pode ser
considerada como uma extensão ou a
conclusão da teoria de Omran da transição
epidemiológica. No princípio desta teoria se
observa uma mudança de doenças infecciosas
para as doenças não transmissíveis, e neste
sentido a teoria da transição do câncer vê uma
mudança da predominância dos casos de
cânceres ligados a infecções para os cânceres
associados a fatores de risco que são
principalmente não-infecciosos e
possivelmente relacionados a um estilo de vida
chamado ocidental. Assim, Clegg, Reichman e
Miller (2009) apontam que, em áreas de alto
IDH na Europa, quatro tipos de câncer
(pulmão, mama feminina, cólon e reto e
próstata) são responsáveis por quase a metade
da carga total de incidência de câncer; nas
áreas de IDH médio, misturam-se altas taxas
de câncer de pulmão, cólon e reto, estômago e
fígado; finalmente, em áreas com baixa IDH, os
tipos de câncer mais frequentes parecem ser
os do colo do útero, o fígado, o sarcoma de
Kaposi e linfoma de não-Hodgkin, todos
tipicamente com origem em agentes
infecciosos (respectivamente, HPV, vírus da
hepatite B e C e HIV).
Nos estudos de Bray e outros
(2012), Clegg, Reichman e Miller (2009) e
Ward e outros (2004), todos explorando o
contexto do desenvolvimento para explicar a
dinâmica de incidência e mortalidade por tipos
de cânceres específicos, fica clara a
associação que o padrão de morbimortalidade
por este grupo de causas tem relação direta
com o contexto socioeconômico.
Emblematicamente, as
disparidades sociais fazem parte do escopo de
discussão da Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde da Mulher (PNAISM). Com o

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