A trajetória da biblioteca universitária no Brasil no período de 1901 a 2010

AutorMurilo Bastos da Cunha, Fabiene Castelo Branco Diógenes
Páginas100-123
100
v. 21, n. 47, 2016
p. 100-123
ISSN 1518-2924
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 21, n. 4 7, p.
100-123, set./dez., 2016. ISSN 1518-2924. DOI: 10.5007/1518-2924.2016v21n47p100
A trajetória da biblioteca universitária no Brasil no
período de 1901 a 2010
The trajectory of the university library in Brazil in the 1901-2010
period
Murilo Bastos da CUNHA
Professor da Faculdade de Ciência da Informação - UnB - murilobc@unb.b r
Fabiene Castelo Branco DIÓGENES
Bibliotecária do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia -
fabienecastelo@gmail.com
Resumo
O artigo mostra alguns dos caminhos que o Brasil pe rcorreu na educa ção superior,
especialmente em suas universidades e bibliotecas universitárias. Em 1901 foi elaborada a
legislação sobre o funcionamento de bibliotecas ligadas aos institutos de ensino superior;
mas um crescimento maior das universidades se deu apenas a partir d e 1945, e, com ele, a
criação de suas bibliotecas. A Reforma Universitária de 1968 baseou-se na teoria dos
sistemas abertos, provocando impactos também nas bibliotecas que deveriam planejar seus
serviços em relação aos objetivos da universidade. Em agosto de 1973, foi criada a
Associação Brasileira de Bibliotecas Unive rsitárias Brasileiras que, dentre outros objetivos
visava estudar os problemas das bibliotecas universitárias com a finalidade de formular uma
política nacional para seu desenvolvimento. Na déca da de 1980 essas bibliotecas foram alvo
de uma política pública explícita e integrada por meio do Plano Nacional de Bibliotecas
Universitárias no âmbito do Ministério de Educação. Aqui são ainda analisados o Programa
PROSSIGA, o P ortal de Periódicos da CAPES, as aç ões da Biblioteca Digita l de Teses e
Dissertações do IBICT e o Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas. As bibliotecas
universitárias brasileiras vêm se adaptando à s mudanças das políticas globais de Estado, da
educação superior, à s mudanças tecnológicas, têm que conviver internamente com
problemas de pessoal, redução de orçamento, realizar inovações nas atividades tradicionais
e atender às novas de mandas da universidade em relação ao seu papel pedagógico. O texto
conclui aponta ndo que a necessidade de ações governamentais de forma sistêmica ainda é
um sonho para essas bibliotecas.
Palavras-chaves: Biblioteca universitária. Brasil.
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
ENSAIO
Recebido em:
28/04/2016
Aceito em:
10/08/2016
101
Abstract
The article shows some of the ways that Brazil has faced in higher educa tion, especially
concerning its universities and university libraries. In 1901 it was drafted a legislation on the
functioning of libraries linked to h igher education institutions; but only after 194 5, the
growth of universities and the creation of their libraries has received more attent ion. The
theory of open systems based the University Reform of 19 68, affecting their on libraries that
should plan services for the university's goals. In August 1973, it was created the Brazilian
Association of University Libraries with the objectives of studying the problems of university
libraries in order to formulate a national policy for its development. In the 1980s, the
university libraries were subject to an explicit a nd integrated public policy through the
National University Libraries Plan under the Ministry of Education. Are also analyzed the
PROSSIGA Program, the CAPES Journal Portal, the Digital Library of Theses and Dissertations
and the Electronic System for Journal Publishing. Brazilian university libraries are adapting
to changing global State pol icy, higher education, techn ological changes, have to deal with
internally personnel problems, reduced budget, make breakthroughs in traditional activities
and meet new demands of the university in r elation to its educational role. The text
concludes by pointing out that the need for systemic form of government actions is still a
dream for these libraries.
Keywords: University libraries. Brazil.
1 INTRODUÇÃO
Neste ensaio pretende-se mostrar a trajetória das bibliotecas universitárias
brasileiras. Inicialmente, pensou-se ser possível apresentar a história da biblioteca
universitária (BU) no Brasil fazendo um paralelo com a criação e desenvolvimento
da universidade no Brasil, mas apesar das tentativas de busca de material em
bibliotecas, bases de dados, históricos das bibliotecas federais brasileiras na
internet, não foi possível apresentar com riqueza de detalhes a história das BU
brasileiras.
No Brasil, segundo Rubens Borba de Moraes (2006, p. 4-6) só se conhece
livros a partir da segunda metade do século XVI, desde que se instala, em 1549, o
Governo-geral em Salvador, na Bahia, marcando o início da vida administrativa,
econômica, política, militar, espiritual e social. Nessa data também chegaram os
jesuítas que, junto à criação dos colégios, fundaram também as bibliotecas.
Para Luiz Antônio Cunha (2007, p. 26-27) e Moraes (2006, p. 8-9) as
bibliotecas tiveram neste período jesuítico no Brasil, uma boa expansão e acervo em
nível universitário. N o final do século XVI, já existia em Salvador uma biblioteca no
colégio jesuíta. A biblioteca, ligada ao ensino das ciências, que começa na Bahia com
as matemáticas, em 1757, possuía as obras d e Clavius, de Kricher e os livros de
Newton e Descartes. Em 1760, a biblioteca do colégio de Santo Alexandre, no Pará,
tinha mais de 2.000 volumes; já o colégio dos jesuítas do Rio de Janeiro tinha 5.434
volumes em meados do século XVIII.
De acordo com Moraes (Idem, p. 10), com a expulsão da Companhia de Jesus,
as bibliotecas sofreram um grande golpe. Todos os bens foram confiscados, livros
retirados dos colégios ficaram amontoados em lugares impróprios durante anos e a
quase totalidade das obras foi destruída, roubada ou vendida como papel velho.
No início do século XX, quando o Brasil estava ainda em um estágio
incipiente do desenvolvimento do ensino superior, foi elaborada a legislação sobre o
funcionamento de bibliotecas ligadas aos Institutos de Ensino Superior, na ocasião
em que o Presidente Campos Sales aprovou, em 1º de janeiro de 1901, o código dos
Institutos Oficiais do Ensino Superior e Secundário. Lemos e Macedo (1975, p. 167)
comentam que em seu décimo nono capítulo, se r eferia detalhadamente ao
funcionamento das bibliotecas, especialmente as de uso do corpo docente e dos
alunos, mas franqueadas a todas as pessoas.

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