Trabalho, gênero e raça: análise da precarização do trabalho nas telecomunicações do rio de janeiro

AutorMaria Cristina Paulo Rodrigues
CargoAssistente Social
Páginas923-944
Artigo recebido em: 03/04/2018 Aprovado em: 05/11/2018
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v22n2 p923-944
TRABALHO, GÊNERO E RAÇA: análise
da precarização do trabalho nas
telecomunicações do Rio de Janeiro
Maria Cristina Paulo Rodrigues1
Resumo
O presente artigo resulta de pesquisa que investiga as transformações nas tele-
comunicações após a sua privatização, em 1998, tendo como foco o Trabalho
nas empresas do Rio de Janeiro. Mostra que esse trabalho foi profundamente
exibilizado e precarizado, também como parte das estratégias adotadas pelo
capital, a nível global, para enfrentar mais uma de suas grandes crises, a partir
da década de 1970. Aponta, ainda, que a fl exibilização das relações de traba-
lho atinge especialmente determinados grupos (jovens, mulheres, negros), o
que compromete as formas de organização e representação dos trabalhadores.
Conclui, no entanto, que a análise dos documentos acessados – fi chas de homo-
logação, e-mails de denúncias, Acordos e Convenções Coletivas de Trabalho
– além de entrevistas com dirigentes sindicais e questionários com demitidos
nos permite dizer que há uma resistência dos(as) trabalhadores(as) contra essa
lógica da precarização.
Palavras-chave: Precarização, desigualdade, gênero, raça, resistência.
WORK, GENDER AND RACE: analysis of precarization of
telecommunications work in Rio de Janeiro
Abstract
This article is the result of research that investigates the transformations in
telecommunications after its privatization in 1998, focusing on companies in
1 Assistente Social, Doutora em Políticas Públicas e Formação Humana pela Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Professora Adjunta da Escola de Serviço Social da
Universidade Federal Fluminense (UFF). E-mail: rodriguesmcris@globo.com / Endereço:
Universidade Federal Fluminense - UFF: Rua Prof. Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/
nº, Campus do Gragoatá, Bloco E. São Domingos, Niterói/RJ. CEP: 24210-201.
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Maria Cristina Paulo Rodrigues
Rio de Janeiro. This work has been deeply relaxed and precarious, also as part
of the strategies adopted by the capital, at global level, to face another one of its
great crises, from the decade of 1970. Points out, that the fl exibilization of labor
relations aff ects certain groups (young people, women, black people), which
compromises the forms of organization and workers representation. However,
it concludes, that the analysis of the documents accessed - homologation fi les,
e-mails of denunciations, Collective Agreements and Conventions of Work - in
addition to interviews with union leaders and questionnaires with dismissed
allow us to say that there is resistance from the workers against this logic of
precariousness.
Key words: Precariousness, inequality, gender, race, resistance.
1 INTRODUÇÃO
Em uma longa pesquisa etnográfi ca, que durou 15 anos e re-
sultou no livro Retorno à condição operária, Beaud e Pialoux (2009)
afi rmam que os operários existem, mas não os vemos mais, asso-
ciando essa invisibilidade à reabilitação da empresa reestruturada
desde o início dos anos 1980, que ganha nova força no controle do
trabalho – tanto em seus elementos objetivos, quanto naqueles que
os autores chamam de cultura de ofi cina, sustentada nas práticas so-
lidárias entre os trabalhadores para o enfrentamento da vigilância
patronal. Mas a invisibilidade também pode ser associada ao adeus
ao proletariado dado por inúmeros intelectuais marxistas num qua-
dro em que as relações de trabalho se deterioravam cada vez mais e
as formas de resistência coletiva, como os sindicatos e partidos, per-
deram infl uência. Por isso, e a despeito de toda essa dura realidade,
Beaud e Pialoux (2009, p. 11) defendem que se continue a estudar
a realidade operária, “[...] porque essa é uma questão cada vez mais
atual, e porque é preciso continuar a ir às fábricas para ver como se
trabalha”.
As refl exões apresentadas no presente artigo se fi liam a essa
perspectiva e propósito, concordando com os autores que ir às fábri-
cas, hoje, é se colocar o desafi o de desvelar tanto os elementos de
exploração quanto de dominação do trabalho pelo capital. E nesse
sentido, se propõem a dialogar também com Alves (2013) que iden-
tifi ca a precarização do trabalho como um dos elementos principais
da lógica da acumulação do capital na contemporaneidade, o que a
faz assumir uma dupla dimensão: da precarização social do trabalho
(expressa na degradação da condição salarial) e da precarização do-
-homem-que trabalha (expressa na degradação do homem, que se vê

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