Trabalhadores do Brasil, mis Queridos Descamisados: Uma (re)Invenção sobre os Trabalhadores no Varguismo e no Peronismo

AutorMayra Coan Lago
CargoMestre pelo Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (PROLAM/USP)
Páginas26-41
DOI: 10.11606/issn1676-6288.prolam.2015.1022907
26
TRABALHADORES DO BRASIL, MIS QUERIDOS
DESCAMISADOS: UMA (RE)INVENÇÃO SOBRE OS
TRABALHADORES NO VARGUISMO E NO PERONISMO(*)
TRABALHADORES DO BRASIL, MIS QUERIDOS DESCAMISADOS:
A (RE)INVENTION ABOUT THE WORKERS IN VARGUISM AND PERONISM
Mayra Coan Lago(**)
Universidade de São Paulo, São Paulo (Sp), Brasil
Resumo: Pretendemos estudar os imaginários sociais sobre os trabalhadores, produzidos pelo
discurso oficial, no varguismo e no peronismo. Posteriormente, pretendemos comparar os ima-
ginários sociais sobre os trabalhadores no Estado Novo, com os do Primeiro Peronismo, visando
compará-los. Para tal, analisaremos a dimensão simbólica, a partir do estudo dos discursos
políticos das festas cívicas dos Primeiros de Maio e a dimensão “material”, a partir do estudo da
legislação trabalhista e das políticas sociais promulgadas nestes momentos. A partir da análise
da dupla dimensão, propomos a ideia de uma (re)invenção sobre os trabalhadores.
Palavras-chave: Trabalhadores; Varguismo; Peronismo.
Abstract: First, at all, this paper aims to study the social imaginary about workers produced by
the official speech in varguism and peronism. Later, we compare the social imaginary about the
workers in the Estado Novo with the First Peronism trough the symbolic dimension. The docu-
ments analyzed derived from the First of May civic festivals, labor law and social policies pro-
mulgated in these moments. Our analysis propose the idea of a (re) invention about workers.
Key-words: Workers; Varguism; Peronism, Workers in Latin America.
(*) O trabalho apresenta os principais resultados da dissertação de mestrado intitulada “Trabalhadores do Brasil, Mis Queridos
Descamisados: uma (re)invenção do trabalhador no varguismo e no peronismo” defendida no Programa de Pós-graduação
Interunidades em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo em abril de 2015, sob a orientação do
Professor Doutor Julio Manuel Pires.
(**) Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (PROLAM/
USP). E-mail: . Recebido em:13.03.2015; aceito em: 24.06.2015.
Trabalhadores do Brasil, mis Queridos Descamisados: uma (re)invenção sobre os Trabalhadores no varguismo e no peronismo
27
1 INTRODUÇÃO
A entrada na cena política nacional de Getúlio Vargas no Brasil, na década de 1930,
e a de Juan Domingo Perón na Argentina, na década de 1940, demarcam em cada um dos
países o início de uma série de transformações nos âmbitos político, econômico, social e
cultural. Os governantes, embora estivessem inseridos em contextos distintos, conside-
ravam que a mudança era imprescindível para a “continuidade” de seus países e, assim,
eles deveriam ser os “verdadeiros” representantes destas mudanças e dos “novos” países.
No Estado Novo (1937-1945) de Vargas e no Primeiro Peronismo (1946-1955) de
Perón, o papel do Estado(1), do governante e da sociedade seriam repensados. Ademais,
para os governantes, a entrada em cena política de uma parte da sociedade esquecida
até então era fundamental: os setores populares. Dentre a gama dos atores políticos que
compunham os “setores populares”, identificamos os trabalhadores como aqueles que
receberam especial atenção dos governantes, sendo sua força política e apoio fundamen-
tais para a realização dos projetos políticos propostos.
Para Maria Helena Capelato (2009), com o advento do Estado Novo ocorreu a
consolidação da política de massas no Brasil que, na década seguinte, foi introduzida
na Argentina. De acordo com José Luis Beired (1999), a “política de massas” pode ser
caracterizada pela “quebra” da antiga ordem e a construção de novos sistemas de poder,
baseados no reconhecimento das maiorias sociais. Ainda, de acordo com o historiador,
dois vetores fundamentais balizaram esta “quebra” na América Latina: os Governos que
desenvolveram instrumentos de integração e mobilização dos setores sociais; e os mo-
vimentos políticos, de extração popular, que buscaram alcançar o poder, seja por meio
de eleições ou pelo uso da força. O terceiro vetor “adicional” seria as transformações das
estruturas sociais que acompanharam a industrialização.
Os regimes nacional-populares desenvolveram uma política de massas por meio de
um eficiente sistema de comunicação, composto pelo rádio, pelo cinema e a pela im-
prensa, e por espetáculos de poder, isto é, as festas cívicas e as manifestações de massa
em espaços abertos com a presença do líder, inspiradas nos regimes nazifascistas da Eu-
ropa. Para complementar estes dispositivos, havia a censura e a repressão aos opositores
(CAPELATO, 2009).
No tocante aos trabalhadores, os governantes propunham a reformulação do trato
da “questão social”. Como Angela de Castro Gomes (2002) demonstrou, no caso brasilei-
ro, e nós consideramos também para o caso argentino, tal reformulação seria composta
pela combinação de aspectos materiais, como as políticas sociais e a legislação traba-
lhista, e de aspectos “imateriais” ou simbólicos, referentes aos imaginários sociais dos
trabalhadores, tocando em temas delicados como a cidadania, a “consciência política”,
a identidade coletiva e a participação política.
Para tratarmos do que compreendemos por imaginários sociais, utilizaremos as
contribuições de Bronislaw Bazcko (1985) e de Patrick Charaudeau (2013). Vale dizer
(1) Neste trabalho, entendemos e utilizaremos a noção de Estado, sob um sentido mais amplo e geral, proposto por Max
Weber (2004), isto é, o Estado como uma comunidade humana, constituído por uma autoridade (ou um governo) e
um território.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT