A tolice da inteligencia brasileira ou como o pais se deixa manipular pela elite Jesse de Souza.

Autorde Carvalho Matheus, Andre Luiz
CargoResena de libro

A tolice da inteligencia brasileira ou como o pais se deixa manipular pela elite Jesse de Souza.

Sao Paulo: LeYa, 2015, 256p.

Em A tolice da Inteligencia Brasileira ou como o pais se deixa manipular pela elite, o ex-presidente do IPEA, o sociologo e expresidente do IPEA, Jesse Souza, atualmente professor titular de ciencia politica da Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisa as origens das ideias que contribuiram para a tese de que os brasileiros sao malemolentes, sensuais, cordiais e decidem exclusivamente com o sentimento, em detrimento da razao, e que teriam tido o respaldo teorico de academicos com o peso de Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Roberto da Matta. A obra e dividida em quatro partes e oito capitulos.

Para que os privilegios injustos possam se reproduzir no tempo e necessario convencimento, ou seja, e preciso uma "violencia simbolica", nao uma "violencia fisica", com o consentimento mudo dos excluidos de privilegios. Nessa perspectiva, o autor argumenta que, "os privilegiados sao donos dos jornais, das editoras, das universidades, das TVs e do que se decide nos tribunais e nos partidos politicos" (p.10).

No primeiro capitulo, intitulado, "A falsa ciencia", o autor explica que os seres humanos recorrem a formas especificas de interpretar e compreender a vida. Essas interpretacoes foram obras de profetas religiosos no passado e, nos ultimos duzentos anos, esse guiar, o dizer o mundo e como agir nele, tornaram-se obras de intelectuais seculares. Os intelectuais com maiores prestigio e influencia no Ocidente foram Karl Marx, com a economia politica, e o sociologo alemao Max Weber. Deste ultimo o ocidente moderno usou as suas categorias para se auto interpretar e legitimar. Assim, para Jesse Souza, nao existe no mundo tema que seja discutido que nao envolva a "palavra do especialista", a ciencia herda o prestigio que pertencia a religiao no contexto pre-moderno.

No capitulo 2, "Um teatro de espelhos do patrimonialismo brasileiro", para o autor, Max Weber ofereceu os conceitos centrais pelos quais foram pensados e tornados operacionais uma divisao racista entre "gente" superior, nas sociedades avancadas, e "subgente" inferior, nas sociedades latino-americanas e perifericas.

O sociologo Talcott Parsons, considerado o mais influente sociologo norteamericano do seculo XX, utilizou as categorias weberianas para idealizar e criar uma imagem da sociedade norte-americana reproduzida por teoricos latino-americanos, desde 1930, cujo conceito central, que ainda domina as academias brasileiras, foi o de "patrimonialismo" compreendido pelo autor como a-historico e sem rigor na analise da obra weberiana.

Isso porque, os conceitos weberianos utilizados para opor moderno e tradicional na tentativa de explicar a singularidade do Ocidente no aparecimento do capitalismo, em seus estudos sobre religioes, explicarem "entraves para a expansao do capitalismo em escala global", situando o Brasil e a America Latina como nao integrantes desse Ocidente.

Jesse Souza elege Gilberto Freyre como o criador e propagador da corrente culturalista que desenvolveu as nocoes de personalismo e patrimonialismo que justificam a singularidade cultural e pre-moderna a brasileira, esses nucleos geraram ideias como o "jeitinho brasileiro" que enxergam o Brasil atraves do "capital social de relacoes pessoais".

Souza examina como o mito da brasilidade e sua celebracao das virtudes ambiguas da pre-modernidade se transformam em "ciencias" conservadora (p.31), mas que sempre buscou ser uma teoria critica da sociedade. Assim, se Freyre e o paifundador da concepcao dominante nas ciencias sociais de como os brasileiros se interpretam, seria em Sergio Buarque de Holanda que a "teoria da modernizacao" assume ou ganha outras roupagens. O tema "patrimonialismo", por aparentar senso critico, dramatizou conflitos aparentes e falsos, entre o mercado idealizado e Estado "corrupto" deixando as sombras as contradicoes sociais de uma sociedade que naturalizou desigualdades sociais e o cotidiano de exclusao.

No capitulo 3, "Cordial e colonizado ate o osso", o autor examina o conceito de homem cordial de Sergio Buarque de Holanda, respeitado tanto pela esquerda como pela direita, uma "vaca sagrada" na academia brasileira que deve muito dos pressupostos de seu pensamento ao seu "pai espiritual": Freyre. Esse, atraves de uma sociologia espontanea, em que se percebe o mundo como produzido por intencionalidades dos sujeitos em interacoes, que imagina que os juizos sao subjetivos e os agentes independentes e criadores do mundo, a dimensao institucional que e a mais essencial na vida social.

O autor ilustra seu...

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