Thomas More: da utopia à eternidade

AutorCézar Cardoso de Souza Neto, Lucas Camargos Bizzotto Amorim
Páginas62-89
CAPÍTULO 3
Tomas More: da utopia à eternidade
Cézar Cardoso de Souza Neto1
Lucas Camargos Bizzotto Amorim2
1. Introdução
O exemplo do humanista Tomas More3 tem repercutido ao lon-
go dos séculos, transcendendo questões históricas, políticas, religiosas e
literárias nas quais o Patrono dos Políticos tem se revelado sempre uma
inesgotável fonte de pesquisas, descobertas e conhecimentos.
Para uma melhor compreensão de More faz-se necessária assimi-
lar a complexidade oculta em uma personalidade rica e muito cativante
de Tomas More. A diculdade se encontra na aparente crítica suave, po-
rém, dotada de uma ironia apurada, própria do humanismo, que muitas
vezes passa despercebida e que ele cultivava para submeter o espírito a
uma atividade mais bem humorada.4
Neste texto buscamos analisar um pouco deste grande humanis-
ta, em uma leitura de sua obra Utopia5, publicada em 1516. Nesta obra
se observa o mundo complexo de sentimentos e ideias que no decorrer
de poucos anos se tornou um fator decisivo na formação ocidental. Daí
advém a sua importância losóca, política, jurídica, literária e histórica
que apresentamos.
A ética testemunhada com o preço de sua própria vida evidencia
1 Doutorando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais.
² Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais.
³ A bibliograa sobre Thomas More está no subcapítulo 2.
BERGLAR, Peter. La hora de Tomás Moro: Solo frente al poder. Madrid: Editorial Palabra,
1993. p. 10.
Neste estudo usamos o texto MORUS, Thomas. Utopia ou a Melhor Forma de Governo. 2.
ed. Tradução, prefácio e notas Aires A. Nascimento; Estudos e introdução José V. de Pina Martins.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009.
Cézar Cardoso de Souza Neto & Lucas Camargos Bizzotto Amorim • 63
a convicção que toma a forma de sua atitude religiosa. More proclama
sua e age estritamente de acordo com a própria consciência, tendo
plena consciência dos resultados prováveis dessa ação, porém, mostra-
-se rme e assume o que crê.
De acordo com Berglar, não há incompatibilidade entre esta
perspectiva racional e a de uma fé teológica de grande profundidade.
Estas características iluminam-se reciprocamente e contribuem para
uma melhor compreensão de um autor, complexo, entretanto, coerente,
encantador e exemplar como São Tomas More, um dos mais importan-
tes humanistas, considerado como o mais original e radical deste movi-
mento na Inglaterra do século XVI.6
2. A riqueza de um político honesto: a família e os ideais7
O humanista Thomas More – ou Morus – nasceu no dia 07 de fe-
vereiro de 1478, em Londres. De família da nobre, lho de Sir John More,
Juiz e Cavaleiro Real da corte de Eduardo IV, conhecido pela seriedade
e retidão e de Agnes Graunger More, piedosa e sábia mulher, dedicada
às leituras e orações.
Quando estudante pensara em ingressar na vida religiosa. Po-
rém, dedicou-se ao estudo do Direito e da Filosoa, casou-se em 1505
com Jane Colt, tendo quatro lhos, Margaret, Elizabeth, Cecily e John.
Após o falecimento de Jane, em 1510, casou-se novamente em 1511 com
Alice Middleton. Respeitado advogado, honrado e competente. Exerceu
a docência por breve período, em 1503.
Membro da Câmara dos Comuns, em 1504 foi eleito Speaker (pre-
sidente), por ser um responsável e assíduo parlamentar. Em 1510, rece-
beu a nomeação de Under-Sheri da capital, tornando-se juiz membro
da Commission of Peace em 1511. Nomeado membro de honra da corte de
Henrique VIII em 1520, representando o reino inglês como Embaixador
Real em diversas oportunidades em muitos reinos europeus.
Em 1516, após concluir a escrita durante uma embaixada, More
publicou sua obra De Optimo Reipublicae Statu deque Nova Insula Utopia,
Sobre o Melhor Estado de uma República que Existe na Nova Ilha Uto-
pia, ou como cou conhecida sua obra, Utopia.
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. Trad. Renato Janine Ri-
beiro. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p. 234.
Para esta informação bibliográca, utilizamos o texto de Peter Berglar. BERGLAR, Pe-
ter. La hora de Tomás Moro... cit., p. 12-67.

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