The role of the gaucho editor before the production and marketing of digital books/O papel do editor gaucho diante da producao e comercializacao dos livros digitais/El papel del editor gaucho frente a la produccion y comercializacion de los libros di gitales.

Autorde Oliveira, Danusa Almeida
CargoArtigo-Administracao Geral
  1. INTRODUCAO

    No portal PublishNews (2013a), site dedicado a noticias sobre o mundo editorial, a colunista Cindy Leopoldo (1), no artigo intitulado E-book nao e assunto de editor, questiona o motivo de se falar com frequencia em e-books (livros digitais). Sua conclusao e de que estes nao somente encantam como tambem assustam leitores e editores. Encantam principalmente os editores, porque eles percebem o quanto as etapas do processo de impressao do e-book deixam de seguir a mesma logica de funcionamento dos impressos, economizando tempo e recursos. Por outro lado, os e-books assustam porque "[...] nem leitores, nem editores (e menos ainda as livrarias) estao prontos para o "desaparecimento" dos livros impressos e alguns acham que os e-books vieram justamente para isso" (LEOPOLDO, 2011, online).

    Essas observacoes sobre como os e-books estao sendo discutidos colocam em questao as inumeras mudancas provocadas no setor editorial e apontam a dificuldade de prever as principais mudancas no papel do editor, uma das figuras mais relevantes no processo de producao do livro. Da mesma forma, nao e simples responder sobre o futuro do livro a partir desse cenario difuso e incerto. Por meio de uma analise rapida e superficial, tende-se a apontar as tecnologias digitais como o principio do fim, que levaria os livros digitais a substituirem os impressos. No entanto, e valido lembrar que, apesar do lancamento de diferentes suportes multifuncionais e de aparelhos especificos que possibilitam a leitura de e-books, a producao e o consumo de livros digitais no Brasil ainda e pequena.

    De acordo com a terceira edicao da pesquisa Retrato da leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pro-Livro e aplicada no ano de 2011, a comercializacao dos e-books tem se tornado significativa a medida que o mercado editorial insere tais livros em seus negocios. Deve-se ter em mente, porem, que os aparelhos e suportes criados ainda tem um custo elevado, impossibilitando muitos leitores de adquirir e testar essa tecnologia, apesar de a pesquisa revelar que 9,5 milhoes de leitores afirmam consumir ebooks. Ainda que o numero de nao leitores de livros digitais seja predominante, e representativo o numero de leitores que adotam os e-books, razao pela qual estes se mostram um nicho interessante para livrarias e editoras.

    Tambem e interessante assinalar que a mesma pesquisa, ao perguntar aos entrevistados o que gostavam de fazer em seu tempo livre, revelou que 28% preferem ler (desde jornais, revistas, livros, ate textos na internet). Esse dado indica que se leu menos em 2011 (88,2 milhoes de leitores) do que no ano de 2007 (95,6 milhoes de leitores). O item que aborda o "interesse" pela leitura mostrou que 50% leem pouco por falta de tempo; 14% dizem nao gostar de ler por achar desinteressante; 8% preferem outras atividades; 5% nao tem paciencia e 1% admite ler apenas quando e obrigado. De fato, o tempo escasso em razao de outras atividades acaba sendo um fator relevante para os leitores, que nao conseguem dar continuidade a leituras de longa narrativa. No entanto, os 14% que alegam nao possuir interesse ultrapassam o numero de pessoas que afirmam ter limitacoes (10%), nao ter concentracao (2%), ou nao ter acesso aos livros (4%).

    Diante desses resultados, e possivel questionar: o momento de crise pertence ao livro ou a cultura letrada? As novas tecnologias acabam, em grande parte dos casos, imprimindo algum tipo de mudanca na organizacao da sociedade e de determinados grupos sociais. Por esse motivo, e importante questionar como ficam aqueles que lidam diretamente com a producao do livro, caso do editor. Qual e seu papel nessa transicao? Para responder a essa questao, o presente trabalho foca a figura do editor, a fim de refletir e debater sobre tal inquietacao.

    Para o presente trabalho, o recorte utilizado esta centrado nos editores gauchos e no mercado editorial do Rio Grande do Sul. A Regiao Sul possui um numero expressivo de leitores, que chega a 11,3 milhoes, permanecendo como a terceira regiao com maior penetracao de leitores. Portanto, para a construcao deste trabalho, buscase abordar autores de estudos ligados ao livro, alem de apresentar como fonte de pesquisa os dados do ja mencionado estudo Retrato da leitura no Brasil. Alem disso, parte do trabalho tem como base as informacoes obtidas de entrevista concedida por Geraldo Huff (2012), jornalista e coordenador-geral da Artmed/Panamericana Editora, uma editora vinculada ao Grupo A (com sede em Porto Alegre) dedicada a atualizacao profissional a distancia. A contribuicao de Huff tambem se da por sua experiencia como presidente da Camara Rio-Grandense do Livro em 2002.

  2. ALGUMAS QUESTOES SOBRE A CULTURA LETRADA

    Talvez pudesse viver sem escrever, mas nao creio que pudesse viver sem ler. Ler--descobri --bem antes de escrever. Uma sociedade pode existir--existem muitas, de fato--sem escrever, mas nenhuma sociedade pode existir sem ler. (MANGUEL, 1997:20).

    O romancista e editor Alberto Manguel (2003) considera o ato de ler uma arte e cre que, entre aqueles que sabem ler, ainda e reduzido o numero de pessoas que mantem o interesse pela leitura. O autor faz tais afirmacoes quando menciona o habito de leitura desde a Londres do seculo XVIII ate a Paris do seculo XX, apontando que, apesar da passagem do tempo, os nao leitores continuam, aos seus olhos, sendo maioria Manguel (2003). Nesse discurso do autor, jornais, revistas e outros materiais impressos nao sao citados, mas e possivel que sua afirmacao nao se restrinja apenas aos livros, pois ele proprio costuma lembrar que se faz leitura dos elementos mais variados que compoem nosso mundo, e usa como exemplo o astronomo que le um mapa de estrelas, um zoologo que le o rastro dos animais, o jogador que le o gesto, os pais que leem o rosto dos filhos, o agricultor que le o ceu, ou seja, "todos eles compartilham com os leitores de livros a arte de decifrar e traduzir signos" (MANGUEL, 1997:10).

    Por parte de alguns individuos, o desinteresse pela leitura pode ate desestimular o consumo de impressos, mas, em relacao ao universo em que se esta mergulhado, e natural ler elementos e decifrar codigos. Desse modo, "Todos lemos a nos e ao mundo a nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos para compreender, ou para comecar a compreender" (MANGUEL, 1997:20). Aprende-se primeiro a ler e decodificar, para depois escrever e registrar. Por isso, o homem e um leitor nato mesmo ignorando, em determinados momentos, codigos estabelecidos e construidos socialmente. Isso ocorre porque ler e desvendar significados que possibilitam a producao de sentido. O sujeito e capaz de utilizar seu conhecimento ja adquirido para entender o que se faz novo aos seus olhos, dando origem a um ciclo em que o saber se torna cumulativo por meio da leitura constante e frequente. Esse fato leva o historiador Roger Chartier (1998b: 77) a dizer que "A leitura e sempre apropriacao, invencao, producao de significados".

    Quando se fala especificamente do livro, e imprescindivel lembrar o quanto o ato de ler esta vinculado a utilizacao da imprensa de Gutenberg, que proliferou inumeros materiais impressos alem do proprio livro. Alguns, muitas vezes, sem qualidade e com um tempo de vida curto, mas cuja contribuicao foi a desestabilizacao do longo processo de obscuridade e proibicoes que circundavam a leitura, o que, por seu turno, criou como consequencia um novo cenario, em que se fazia necessario aprender a ler e escrever (CHARTIER, 2009). O direito a aquisicao da leitura pode ser considerado uma conquista social no momento em que tal privilegio deixou de estar centrado na figura do clero e de uma minoria pertencente a realeza. E quando os impressos proliferaram, ganhando espaco no periodo do Renascimento, a historia passou a registrar a padronizacao dos livros, possibilitando a construcao de um pensamento mais sistematico e linear por parte dos leitores. Alem disso, durante a leitura, ocorreu um maior envolvimento do corpo, a inscricao em um determinado espaco, gerando reacoes e proporcionando novas relacoes consigo e com os outros (CHARTIER, 1998a). Pensar por esse prisma provoca inquietacoes quanto as formas de leitura que desapareceram ou que se tornaram menos frequentes, cedendo espaco a outros habitos de leitura. Foi o corpo que, ao encontrar maneiras distintas de se adaptar ao livro, levou esses mesmos livros as ruas, fazendo com que a leitura deixasse de ser um costume restrito as bibliotecas e ao espaco domestico? Ou foi o fato de os leitores se espalharem pelos bancos das pracas, pelas sombras das arvores ou pelas escadarias dos predios que possibilitou novas posicoes de ler o livro, passando o envolvimento do corpo a obedecer a diferentes gestos? A leitura em voz alta que atendia a grupos reunidos para ouvir um conto, um poema ou uma noticia cedeu espaco a leitura individual e silenciosa, apesar de esta denunciar em si mesma alguns murmurios em tom mais baixo que, ainda na atualidade, insistem em acompanhar o movimento dos olhos na decodificacao do texto. Nas palavras de Chartier (1998:14), observar e estar atento as "[...] redes de praticas e as regras de leituras proprias as diversas comunidades de leitores [...] e uma primeira tarefa para se chegar a uma historia da leitura preocupada em compreender, nas suas diferencas, a figura paradigmatica desse leitor que e um furtivo cacador". Portanto, estudar tais mudancas e investigar as transicoes pelas quais a leitura continua passando no periodo pos-moderno tornam-se essenciais para que se entenda o desenvolvimento da propria cultura letrada.

    Por isso, entre as reflexoes de Manguel (2003) ha uma discussao sobre a forma com que a leitura e levada em consideracao por distintas sociedades, pois ha os livros considerados e eleitos pela tradicao como sendo classicos, assim como ha os livros adotados pelo leitor em razao da emocao, da compreensao e das experiencias despertadas. O modo de leitura, o posicionamento do leitor...

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