The mobbing construct in student-teacher relationship from the perspective of university professors/O constructo assedio moral na relacao aluno-professor na perspectiva de professores universitarios/El constructo acoso moral en la relacion alumno-profesor en la perspectiva de profesores universitarios.

AutorPaixao, Roberto Brasileiro
CargoArtigo--Gestao de Pessoas em Organizacoes
  1. INTRODUCAO

    Pesquisas demonstram que grande parte dos professores universitarios possui alto nivel de satisfacao laboral em razao da natureza de seu trabalho (SORCINELLI, 1994). Tal satisfacao ocorre, dentre outros aspectos, porque o trabalho academico oferece significativa autonomia, constitui-se em caminho interessante para o desenvolvimento intelectual, contribui positivamente na vida de outras pessoas, alem de promover rapido sentimento de realizacao (OLSEN; SORCINELLI, 1992; SORCINELLI, 1994; SORCINELLI; AUSTIN, 2010; SADLER, 2012).

    A pesar desses sentimentos de satisfacao e de realizacao, nem tudo sao flores na profissao do professor. Sao muitos, tambem, os aspectos que perturbam o dia a dia dos docentes universitarios. Tensao, pressao, ansiedade, angustia e preocupacao sao emocoes que acompanham a labuta cotidiana dos profissionais da educacao superior (FINK, 1984; TURNER; BOICE, 1987; SADLER, 2012).

    A literatura internacional aponta alguns fatores que tem contribuido para esses tipos de emocoes que acompanham a carreira docente: tempo reduzido para pesquisa e preparacao das aulas, falta de tempo para se relacionar e trocar experiencias com outros professores, ausencia de feedback, carencia de reconhecimento e de recompensa e dificuldades de equilibrio entre a vida pessoal e a profissional (SORCINELLI, 1994; SORCINELLI; AUSTIN, 2010).

    No Brasil, essa realidade nao e diferente. Agrava-se mais ainda quando consideramos o cenario de expansao do ensino superior publico, com grande elevacao na oferta de vagas, e tambem de expansao do ensino superior privado, marcado por orientacoes substancialmente mercantilistas (SOUZA-SILVA; DAVEL, 2005).

    Notadamente no cenario privado, os valores educacionais podem se prostituir, trazendo uma serie de maleficios nas relacoes que permeiam o processo de ensino-aprendizagem. Um desses maleficios, por exemplo, e o estudante ser visto como um cliente que jamais deve ser contrariado. Para nao aborrece-lo, o processo educacional e banalizado. O professor facilita as avaliacoes, nao exige um bom desempenho, como deveria, vulgarizando sua atuacao. E a concepcao de buscar satisfazer o aluno a qualquer custo, pois ele e uma fonte de lucro (SOUZA-SILVA; DAVEL, 2005). Pratica-se, assim, a maxima do finge-se que se ensina e finge-se que se aprende. A consequencia disso e a aprovacao dos alunos nas disciplinas sem que eles apresentem qualquer proficiencia nelas. No ensino superior publico, apesar de nao haver a visao clientelista, o alunado se posiciona em relacao a obrigacao do Estado pela educacao, muitas vezes de uma maneira rispida, sob a forma consumista, afetando principalmente o professor, seu interlocutor imediato. Alem disso, o poder do professor e instituido de forma superficial, visto que sua autoridade muitas vezes nao se configura (SENNET, 2009).

    Nesse sentido, o papel do professor acaba sendo menosprezado e desvalorizado. O problema nao para por ai. Na busca incessante de satisfazer o aluno de qualquer forma, os valores se degradam e os desmandos e excessos ocorrem. E nesse contexto que acontecem as atitudes desrespeitosas na relacao aluno-professor, culminando no assedio moral (AM).

    O assedio moral na relacao aluno-professor acontece quando a concepcao do aluno-cliente e enfatizada e quando os valores essenciais que permeiam a educacao sao esquecidos e desvalorizados. Assim, o professor acaba se submetendo a situacoes de constrangimento moral e se afasta de seus papeis educacionais mais essenciais. Descaracteriza-se o processo educativo e desmoraliza-se a figura do professor.

    Nesse contexto, o objetivo deste artigo e buscar compreender o constructo assedio moral do aluno para com o professor. De forma complementar, tem-se o intuito de identificar os tipos de assedio que estariam presentes nessa relacao peculiar, a partir de informacoes obtidas por quem poderia ser vitima da acao ilicita, o professor universitario. Espera-se, com a presente pesquisa, contribuir para os estudos sobre assedio moral, mas com a especificidade de analise do vetor discente-docente, relevante fundamentalmente pelo atual contexto do ensino superior no Brasil e no mundo, mas tambem pela carencia de pesquisas nesta linha. Enquanto Paixao et al. (2013) concentraram a analise na ocorrencia e no trato do assedio moral na relacao aluno-professor, esta pesquisa mantem o enfoque no entendimento do constructo envolvido.

    O presente artigo esta estruturado em cinco secoes, incluindo esta introducao. Na segunda secao, e apresentado o referencial teorico que serve de suporte a pesquisa, com enfase na conceituacao do assedio moral e de seus tipos e na apresentacao de estudos envolvendo alunos e professores. Em seguida, na terceira secao, expoese o metodo utilizado, o discurso do sujeito coletivo, de cunho qualiquantitativo, alem da descricao dos procedimentos metodologicos. Na quarta secao sao apresentadas as analises obtidas a partir dos dados coletados, bem como a confrontacao dos mesmos com o referencial teorico. Por fim, na quinta secao sao tecidas consideracoes finais acerca da pesquisa, de suas contribuicoes e limitacoes, e feitas sugestoes para novos estudos.

  2. REFERENCIAL TEORICO

    2.1. Conceitos de Assedio Moral

    O assedio moral (AM) apresenta-se sob muitas expressoes, a depender do pais analisado; tem, porem, basicamente, um unico significado. Acoso moral (Portugal), mobbing (EUA), bulling (Inglaterra), harcelement moral (Franca) e ijime (Japao) sao exemplos de expressoes para o assedio moral. Todas elas expressam um descumprimento das regras de trato social definidas pela sociedade e cuja sancao e dificil por ser difusa sua ocorrencia (FIUZA, 2004; VEGA; COMER, 2005).

    O termo assedio expressa o sentido de insistencia inconveniente, certa perseguicao em relacao a outrem. Ja o termo moral esta relacionado com os principios ou valores que norteiam as relacoes, o agir e o pensar dos individuos. Assim, analisando especificamente o aspecto linguistico do termo, percebe-se que o AM constitui uma acao com implicacao moral. No entender de Santos (2005), o AM esta consubstanciado na coacao, no constrangimento ou na perseguicao recorrente dos principios e valores de uma pessoa, mediante tratamento desrespeitoso, inconveniente e ofensivo a dignidade humana.

    Alguns autores destacam-se na contribuicao ao entendimento do AM a partir da otica psicologica. Dentre eles, podemos citar: Leymann (1996), Hirigoyen (2002a, 2002b), Poilpot-Rocaboy (2003), Pedroso et al. (2006).

    Para Leymann (1996), o AM corresponde a uma violencia moral, em geral de cunho psicologico e nao fisico, evidenciada de forma bastante sutil e dissimulada, mas intencional, que, em geral, provoca estresse psicossocial na pessoa agredida. E considerada uma acao desprovida de etica, sistematica e com alto potencial de exclusao.

    Para Hirigoyen (2002a, 2002b), AM e toda e qualquer atitude, acao ou conduta abusiva, identificada por uma diferenciacao comportamental por parte do agressor, que age com palavras, atos e gestos agressivos, que podem vir a causar danos a personalidade, a dignidade ou a integridade fisica do assediado.

    Poilpot-Rocaboy (2003) indica que o AM e materializado na recorrencia ou repeticao dos atos, ou seja, em atitudes duradouras. Os objetivos basicos do assediador consistem na intimidacao, na desvalorizacao e no isolamento das vitimas, de forma a causar algum tipo de desestabilizacao emocional. Tal desestabilizacao pode ter consequencias diversas, como a conducao para estados de distracao, a perda de poder, a perda de beneficios e ate mesmo a demissao.

    Um ponto de convergencia em relacao ao conceito de AM entre Leymann (1996), PoilpotRocaboy (2003) e Hirigoyen (2002b) e a pratica sistematica, ou seja, repetitiva, habitual e continuada. O AM desestabiliza a vitima, constrange-a, humilha-a, causa-lhe danos, na maioria das vezes psicologicos, que podem leva-la a desistir do trabalho. Contudo, esses mesmos autores divergem, ainda que em parte, em relacao a se os danos seriam meramente psicossociais ou tambem fisicos, ou mesmo se os atos nao seriam apenas ofensas a dignidade, e se seriam ou nao deliberados.

    Vale ressaltar que o AM constitui-se em um ato ilicito no ambito civil ou trabalhista. Nesse sentido, Rodrigues Pinto (2006) argumenta que se trata de um dano moral decorrente da violacao de alguns valores humanos fundamentais relacionados ao patrimonio imaterial do assediado. Assim, mesmo que nao atingindo a higidez psiquica da vitima, a mera imposicao ao assediado de situacoes de humilhacao e vexame diminutivos da dignidade humana ja sujeitaria o agressor a responsabilizacao pela reparacao do dano. Seguindo esse entendimento, Pamplona Filho (2006) esclarece que a manifestacao de doenca psiquico-emocional nao e elemento essencial para a caracterizacao do AM, mas sim a violacao do direito da personalidade.

    Em resumo, o AM deve possuir os seguintes elementos caracterizadores: a) sujeitos, sendo o assediador e o assediado; b) a conduta, referindose aos comportamentos ou atos atentatorios aos direitos da personalidade; c) reiteracao e sistematizacao da conduta; e d) consciencia do agente, ou seja, do assediador (ALKIMIN, 2006).

    2.2. Tipos de Assedio Moral

    De acordo com Hirigoyen (2002a), o AM pode ser classificado em quatro tipos: a) horizontal, quando ocorre entre pessoas de mesmo nivel hierarquico; b) vertical ascendente, no qual um superior hierarquico e assediado por subordinados ou pessoas de um nivel hierarquico inferior, sofrendo discordancia ou retaliacao; c) misto, quando ocorre tanto o AM horizontal quanto o AM vertical ascendente; e d) vertical descendente, quando um individuo em posicao hierarquica superior assedia subordinados ou pessoas de nivel hierarquico inferior. Na visao dessa autora, o AM misto, em geral, comeca como um assedio horizontal, que culmina em AM vertical ascendente, em razao da omissao do superior hierarquico.

    Rezende (2006: 122) tambem discorre sobre categorias de AM, seguindo a logica...

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