The internal consulting as a space for the knowledge conversion/A consultoria interna como espaco para a conversao do conhecimento/La consultoria interna como espacio para la conversion del conocimiento.

AutorFreitag, Maria Salete Batista
CargoArtigo--Administracao Geral
  1. INTRODUCAO

    A literatura reconhece que sao varios os atores e mecanismos que favorecem o processo de conversao do conhecimento. Yonn, Song e Lim (2009) destacam o papel dos gerentes e supervisores na conducao da diversidade de conhecimento e experiencias individuais em situacoes de trabalho, tornando possivel o compartilhamento de ideias e possibilitando a troca interpessoal de conhecimento.

    Alguns mecanismos sao apontados por Kodama (2006), quando o autor considera que esse processo requer a interacao ativa entre as pessoas organizadas por meio de alguns formatos, dentre eles o trabalho em equipe e as comunidades estrategicas que atuam em processos de aprendizagem.

    Na classificacao atribuida as funcoes das organizacoes no sentido de gerar conhecimento, Nonaka e Takeuchi (1997) consideram que os profissionais situados entre o nivel estrategico e o operacional apresentam uma condicao diferenciada de atuacao nos processos de conversao do conhecimento. Esse espaco na estrutura organizacional e denominado por esses autores de modelo middle-up-dow, no qual os profissionais atuam como lideres de equipe ou de forca-tarefa mediante um processo em espiral de conversao do conhecimento. A descricao desse modelo apresentado por esses autores sugere que os consultores internos atuam nessa posicao em razao da natureza dos servicos por eles desenvolvidos e pela posicao organizacional que ocupam.

    Apesar desse entendimento e da importante contribuicao desses profissionais como facilitadores da criacao do conhecimento nas praticas de trabalho, pouco se sabe acerca das acoes desses especialistas, menos ainda sobre como eles se veem desempenhando esse papel.

    Com o objetivo de colaborar para a superacao dessa lacuna, este trabalho pretende responder a seguinte questao: Qual e o entendimento dos consultores internos sobre sua atuacao no processo de conversao do conhecimento? Em busca de respostas a esse questionamento, este estudo tem como objetivo compreender e explicar os sentidos atribuidos por dez consultores internos da Petrobras UN-RNCE, conforme Quadro 1, as suas praticas junto aos seus colaboradores nesses processos.

    A relevancia deste trabalho esta em pretender evidenciar o potencial de conversao do conhecimento tacito em explicito nas praticas cotidianas desenvolvidas pelos consultores mediante interacoes sociais com seus colaboradores, apontando a dimensao de suas acoes e as lacunas na pratica e na formacao deles, por forca dessa amplitude.

    Na sua organizacao, este artigo apresenta inicialmente a fundamentacao teorica; em seguida, a metodologia do estudo a analise dos resultados e, por fim, as consideracoes, limitacoes e recomendacoes do estudo.

  2. FUNDAMENTACAO TEORICA

    Esta investigacao tem como foco a conversao do conhecimento na pratica da consultoria interna. Diferentemente das abordagens que tratam da aprendizagem organizacional enfatizando as fontes e o valor do conhecimento (CARBONE et al., 2005), as discussoes neste trabalho direcionam-se a abordagem que contempla a dinamica relacionada aos processos de criacao do conhecimento, situada no binomio conhecimento=processos (SVEIBY, 1998). Para tanto, a fundamentacao teorica contempla o papel da consultoria interna, a conversao do conhecimento e a relacao entre aprendizagem e experiencia.

    2.1. A amplitude e os formatos da pratica da consultoria interna

    Apresentando o conceito de consultoria com enfoque no processo, Schein (1972:8) considera essa funcao como: "um conjunto de atividades desenvolvidas pelo consultor, que ajudam o cliente a perceber, entender e agir sobre fatos inter-relacionados que ocorrem no seu ambiente".

    Em uma concepcao mais ampla da funcao, os consultores sao considerados por Reich (1994) como analistas simbolicos, que apresentam alguns formatos em suas praticas: sao responsaveis pela identificacao e solucao de problemas; trabalham tipicamente em equipes compartilhando problemas, numa versao sofisticada que contempla a aprendizagem pelo exercicio da pratica; aprendem, nas praticas de trabalho, a simplificar a realidade por meio da construcao de imagens abstratas que podem ser rearranjadas, embaralhadas, experimentadas e socializadas com outros especialistas, em um processo continuo de formacao e de aprendizagem em torno das situacoes problematicas do cotidiano. Essas experiencias proporcionam a aprendizagem, a descoberta de novos conhecimentos e o desenvolvimento de novas abordagens, conduzindo a um aumento de repertorio de saberes para o enfrentamento de problemas cada vez mais complexos.

    No entendimento de Nonaka e Takeuchi (1997), os profissionais situados em um contexto organizacional com as caracteristicas do modelo middle-up-down, como orientadores de equipes ou de forca-tarefa, desempenham um papel de destaque na criacao do conhecimento. Atuando como um dos principais protagonistas das organizacoes, eles desempenham funcoes mediadoras, contemplando, de um lado, as orientacoes estrategicas e, de outro, a realidade problematica presente do cotidiano do trabalho.

    Na associacao do papel da consultoria aos modelos middle-up-down de Nonaka e Takeuchi (1997) e de analista simbolico de Reich (1994) encontram-se elementos que vao alem da pratica de resolver problemas do cotidiano, como as relacoes interativas na criacao do conhecimento e a aprendizagem na resolucao de problemas que agem sobre as estruturas sociais.

    A amplitude das praticas de consultoria e evidenciada por Vieira, Feitosa e Correia (2007), que apontam, dentre alguns beneficios inerentes aos servicos prestados pelos consultores as organizacoes, os subsidios ao processo de tomada de decisao e aprendizagem mediante o desenvolvimento, compartilhamento e aplicacao do conhecimento na melhoria dos processos organizacionais e no gerenciamento de seus colaboradores, no intuito de favorecer maiores retornos com suas atividades. Essa posicao dos autores deixa evidente a amplitude da pratica dos consultores, pondo em relevo o papel que desenvolvem na aprendizagem de natureza coletiva.

    Esse tipo de aprendizagem, segundo Nickel e Coser (2007), encontra-se relacionado aos niveis conceitual e operacional. O nivel conceitual compreende o raciocinio e os aspectos logicos, e tem o papel de facilitar os processos de mudanca, contribuindo para a geracao de novas acoes e solucoes. Ja o nivel operacional relaciona-se diretamente com o conceitual, compreendendo os aspectos vinculados a operacionalizacao das habilidades especificas que podem ser aprendidas e executadas.

    Alguns elementos podem influenciar na aprendizagem de natureza coletiva presente na pratica dos consultores internos. Wick e Leon (1996) apontam dois aspectos basicos que sao relevantes nesse tipo de aprendizagem. O primeiro diz respeito a aprendizagem por intermedio de insights, conhecimentos e modelos mentais compartilhados. Para que a mudanca ocorra, e necessario que as pessoas que tomam as decisoes aprendam juntas e compartilhem crencas e metas. O segundo aspecto esta relacionado ao conhecimento e a experiencias passadas, ou seja, a memoria organizacional, que depende de mecanismos institucionais tais como: politicas, estrategias e modelos explicitos (WICK; LEON, 1996). Refletir sobre os dois aspectos mencionados motiva o entendimento da autoformacao e da formacao do outro como elementos presentes nos processos de aprendizagem de natureza coletiva, proporcionados pela experiencia dos consultores na resolucao, com seus colaboradores, de problemas.

    Para Pineau (1988), a autoformacao corresponde a uma dupla apropriacao do poder de formacao, na qual o individuo tem um duplo papel, de sujeito e de objeto, na formacao de si mesmo, em uma operacao denominada de autorreferencial. Esse desdobramento do individuo no processo de autoformacao alarga, clarifica e aumenta as capacidades de aprendizagem e de criacao do conhecimento. No entendimento de Galvani (2002), nao ha autoformacao sem a articulacao da interdependencia entre pessoa e meio ambiente e a tomada de consciencia reflexiva. Para esse autor, se essa articulacao e desconsiderada, existem apenas acoplamentos reflexos e condicionantes. Em consequencia, nao ha a possibilidade de autonomizacao do sujeito.

    A aprendizagem na sociedade do conhecimento, segundo Pantoja e Borges-Andrade (2009), apresenta-se como questao central para a sobrevivencia e sucesso das organizacoes contemporaneas. Esses autores defendem que, alem das condicoes formais para a aprendizagem, as organizacoes devem ainda viabilizar suportes necessarios para os processos informais na troca de informacoes entre pessoas com niveis de experiencia diferentes.

    Durante e Teixeira (2007) argumentam que os processos de aprendizagem e geracao do conhecimento dependem das condicoes ofertadas pela organizacao e do empenho de seus dirigentes e gestores no sentido de promover um ambiente de trabalho motivador, gerenciando de forma mais eficaz o conhecimento criado. Nessa mesma linha de pensamento, Argyris e Schon (1985) consideram que as organizacoes devem fornecer as condicoes para melhorar as acoes de aprendizagem.

    2.2. A conversao do conhecimento na acao e as interacoes sociais

    Argumentando que o conhecimento e construido por meio de interacoes sociais diante de situacoes problematicas do cotidiano, Berger e Luckmann (1999:42) afirmam: "enquanto as rotinas na vida cotidiana continuarem sem interrupcoes, sao aprendidas como naoproblematicas". A duracao do "setor nao problematico" da realidade cotidiana vai ate o surgimento de um novo conhecimento, ou seja, ate que seja interrompida sua continuidade pelo aparecimento de um novo problema. Isso acontecendo, "a realidade da vida cotidiana procura integrar o setor problematico dentro daquilo que ja e nao-problematico" (BERGER; LUCKMANN, 1999).

    Pantoja e Borges-Andrade (2004) observam que, apesar de a aprendizagem em organizacoes estar geralmente associada aos processos formais de treinamento, desenvolvimento e educacao (TD&E), existem outras formas de transmissao de conhecimento...

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