The "echo" of Marxism: the social metabolism of capital and environmental thinking/O "eco" do marxismo: o metabolismo social do capital e o pensamento ambiental.

AutorSilva, Luiz Felipe Barros

Introducao

Neste texto pretendemos refletir sobre as interpretacoes da obra de Karl Marx e de Friedrich Engels no campo do pensamento ambiental e ecologico. E comum observar que muitos entusiastas da defesa do meio ambiente entram em acordo com teses reforcadas ao longo da historia que padecem de serios problemas teoricos ou claros erros de interpretacao reproduzidos por geracoes de pensadores.

Hoje sabemos que o legado de Marx e Engels nao e avesso a um pensamento que enfatize fervorosamente a defesa do meio ambiente, mas sim o contrario disso. O estudo mais importante de suas vidas delineou os tracos fundamentais do capitalismo, a causa social real das devastacoes ambientais. Contudo, esse efeito nao foi o foco especifico dos pensadores, mas sim o efeito diretamente social sobre a humanidade. Mesmo assim, o tema da natureza foi frequentemente mencionado por eles, ja que esta inscrito no elemento que e a base natural da humanidade, o trabalho.

A natureza nao e mero acessorio no pensamento marxiano, ela possui importancia fundamental, ja que representa a ineliminavel base natural da humanidade. Por isso, Marx e Engels passaram a vida em contato com as descobertas mais fundamentais de seu tempo no campo das ciencias da natureza.

Parece-nos que a questao definitivamente essencial e a de que negar ou refutar a teoria marxiana foi e ainda e uma exigencia absolutamente fundamental de alguns "ecocentristas", ja que permanecem com a mesma matriz teorica que o proprio Marx procurou transcender e que compreende a relacao entre humanidade e natureza como uma oposicao inconciliavel. Esse e um ponto de vista dualista em que a balanca so pode pender para um dos lados: na relacao ser humano e natureza, ou se e antropocentrista ou se e ecocentrista.

Marx e Engels afirmaram que a humanidade tem sua particularidade essencial insuperavel como sendo uma transformacao incessante de sua base natural, tendo esta como seu objeto. Por isso, Marx foi taxado de "economicista", "prometeista", "determinista". Diversas outras tentativas de refutar o que ele estava apontando como problema central nao conseguiram transcender teoricamente suas descobertas.

Isso e evidente no fato de os ecologistas ainda precisarem mencionar Marx em seus escritos, mesmo que de maneira discordante, inclusive reproduzindo algumas teses bem repetitivas para comprovar para si proprios que estao seguindo o receituario ecologista tradicionalmente antiMarx e pro-natureza. Todavia, Marx continua a ser, ainda assim, o referencial obrigatorio para uma boa tese sobre a globalidade dos problemas ambientais.

Como consequencia, todos os que vao acusar Marx de ter sido um antropocentrista que repudiava a natureza terao ao fim e ao cabo que negar o capitalismo como a forca social fundamental que poe e repoe os problemas ambientais e sociais sempre de forma piorada, e que por isso exige uma revolucao social do trabalho, a grande descoberta do pensador alemao. Esses autores tem preferido as explicacoes que se concentram em causas psicologicas, individuais ou meramente politicas, fruto de decisoes personalistas equivocadas.

Utilizamos aqui fundamentalmente a producao teorica de John Bellamy Foster (2005) e Guillermo Foladori (2001, 2005) acerca da relacao entre marxismo e pensamento ambiental, importantes pesquisadores que procuram desvendar a relacao entre essas tao diferentes formas de pensar (1).

Marx e o metabolismo do homem com a natureza

E visivel nos primeiros escritos de Marx (sobretudo das decadas de 1840 e 1850) que a relacao que a humanidade estava estabelecendo entre si e com o restante do ser natural encontrava serios problemas. Esse

foi um dos questionamentos que o levaram a sintetizar as diretrizes funda-mentais de seus pressupostos filosoficos e economicos nos Manuscritos economicofilosoficos de 1844.

Apesar de seu pensamento passar por um amadurecimento muito grande nos anos subsequentes, ja entao era possivel observar o que Marx (2015) entendia sobre o significado da natureza para o ser humano. Um dos trechos que exemplifica essa afirmacao e o seguinte: "a universalidade do homem aparece praticamente na universalidade que faz de toda a natureza seu corpo inorganico", como "meio de vida imediato" e como "objeto/ materia e o instrumento da sua atividade vital" (MARX, 2015, p. 310-311).

Mas, alem de observar a natureza como um meio de vida imediato e um instrumento da atividade metabolica humana, ha outro aspecto:

O homem vive da natureza significa: a natureza e o seu corpo, com o qual ele tem de permanecer em constante processo para nao morrer. Que a vida fisica e espiritual do homem esteja em conexao com a natureza, nao tem outro sentido senao que a natureza esta em conexao corn ela propria, pois o homem e uma parte da natureza. (MARX, 2015, p. 310-311).

A natureza, portanto, tem um estatuto especifico na definicao de Marx (2015). Dizer que ela e o corpo inorganico do homem significa que ela e tanto seu meio de vida imediato e objeto/instrumento da atividade vital, na condicao de ser a materia a ser transformada para o ser humano realizar o seu metabolismo, quanto que o homem realiza seu metabolismo sem deixar de ser natureza, que ele proprio e parte do ser natural. O homem requer a natureza como natureza para que ele continue existindo, mas esta relacao tambem pressupoe que haja uma transformacao continua da natureza atraves do trabalho.

Para Marx (2015, p. 306), "O trabalhador nao pode criar nada sem a natureza, sem o mundo exterior sensivel. Ela e o material no qual o seu trabalho se realiza, no qual este e ativo, a partir do qual e por meio do qual produz". Assim, a categoria responsavel por esta conexao da materialidade natural com a materialidade social, para Marx e Engels, e o trabalho.

Em Engels, encontramos o seguinte trecho:

O trabalho e a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. Assim e, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porem, e muitissimo mais do que isso. E a condicao basica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, ate certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o proprio homem. (ENGELS, 2004, n. p.).

Se o trabalho criou o proprio homem, para os autores, certamente nao o fez sozinho. Em outra passagem de O capital, no capitulo I, em que Marx (1983) trata da mercadoria, ele menciona algo muito semelhante ao relembrar William Petty, que dizia que, se o trabalho e o pai do ser humano, a terra e a mae. Dessa forma, foi possivel pensar a formacao de um ser social, de uma materialidade, que e nao apenas organica, biologica, mas tambem social, e que possui uma dimensao material completamente especifica, com suas proprias leis.

A ideia de natureza nos manuscritos culminara em uma formulacao mais precisa e madura ulteriormente, que aparecera tanto em sua obra O capital, como na sua analise da realidade como um todo (MARX, 1985).

Segundo Foster (2005, p. 213-214, p. 217-218, p. 221-223), o conceito de metabolismo e incorporado por Marx para fazer mencao ao aspecto organico contido nas forcas sociais que determinavam o desenvolvimento humano. Desde 1951, Marx entra em contato com a tese de Justus Von Liebig, que identificou a relacao entre o "esgotamento do solo e a poluicao das cidades com esgoto humano...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT