Por uma teoria psicossocial: os elos perdidos em G. H. Mead

AutorAntônio Augusto Oliveira Gonçalves - Eliane Schmaltz Ferreira
CargoInstituto de Ciênciais Sociais, Universidade Federal de Uberlândia - Instituto de Ciências da Universidade Federal de Uberlândia. Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais-UFU
Páginas19-49
http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2013v14n105p19
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, ISSN 1984-8951
v.14, n.105, p.19-49 ago/dez 2013
Por uma teoria psicossocial: os elos perdidos em G. H. Mead
For a Psychosocial Theory: the missing links in G. H. Mead
Antônio Augusto Oliveira Gonçalves
1, Eliane Schmaltz Ferreira2
Resumo
A incursão proposta neste artigo trilha o caminho inverso da compartimentação
disciplinar, no âmbito da ciência e da filosofia, buscando assim ultrapassar algumas
comodidades analíticas. O objeto de estudo em questão é a teoria psicossocial de
George Herbert Mead, um filósofo e psicólogo social norte-americano que viveu de
1863 a 1931. Partimos de um estado da arte, uma metodologia de caráter
inventariante e descritiva. Da leitura e da interpretação do levantamento
bibliográfico, que incluía desde artigos redigidos por Mead até textos clássicos de
epistemologia. Foi possível estabelecer dois movimentos inversos, mas
complementares, num duplo esforço apreciativo paradoxalmente centrífugo e
centrípeto. Colocamos em evidência preceitos de cadência histórica, vasculhamos
aquilo que estava além da psicologia social de Mead - os antecedentes filosóficos e
o plano das relações interpessoais e científicas de seu tempo. A interlocução entre
as considerações biográficas de Mead e o desenvolvimento histórico da psicologia
social permitiu compreender as raízes do pensamento meadiano e os seus
desdobramentos ulteriores.
Palavras-chave: História da Ciência. George Herbert Mead. Psicologia social.
Abstract
The incursion proposed in this article trail the opposite way of the disciplinary
compartmentalization in the scope of science and philosophy, seeking to overcome
some analytical commodities. The object of study in question is the psychosocial
theory of George Herbert Mead, a North American philosopher and social
psychologist who lived between 1863-1931. We start with a state of the art, a
methodology of executrix character and descriptive. From the reading and the
interpretation of bibliographical survey, from articles written by Mead to classic texts
of epistemology, it was possible to establish two inverse but complementary
movements in a dual appreciative effort paradoxically centrifugal and centripetal. We
put in evidence precepts of historical cadence; we rummaged what was beyond
social psychology of Mead, the philosophical background and the interpersonal
relations and scientific plan of his time. The interlocution among the biographical
considerations of Mead and historical development of social psychology allowed to
understand the roots of Meadian thought and its further unfolding.
Keywords: History of Science. George Herbert Mead. Social Psychology.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
1 Instituto de Ciênciais Sociais, Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: antonioaugusto.sociais@hotmail.com
2 Instituto de Ciências da Universidade Federal de Uberlândia. Docente do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais - UFU. E-mail: esferreira@ufu.br
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, ISSN 1984-8951
v.14, n.105, p.19-49 ago/dez 2013
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Introdução
Respaldado por um levantamento bibliográfico correspondente ao limiar de
alcance da análise, este artigo, na sua projeção de pesquisa, pressupõe o seguinte
rascunho epistêmico: um estado da arte da psicologia social de George Herbert
Mead, poder-se-ia então, partir de um exame rico em evidências das raízes
europeias, sobretudo, as filiações ao idealismo alemão, as linhas de influência de
Dilthey, Charles Darwin e Albert Einstein. Por conseguinte, assim que tivéssemos
munidos das estirpes do pensamento meadiano, a tarefa de percepção da
morfologia e fecundidade da flor americana, na Universidade de Chicago, em 1900,
tornar-se-ia mais consistente e menos dispendiosa, segundo os critérios de
economia de explicação aludidos por Eco
3 (1996). O processo da analepse
exegética, portanto, prevê uma dimensão de investigação que revisita os contextos
intelectuais de contato entre Mead e outros teóricos, tal como Wilhelm Wundt,
Ebbinghaus e Cooley, a ponto de identificar, em termos acertados, os pilares
filosóficos e científicos do arcabouço meadiano. Nessa perspectiva, Morris (1934, p.
IX) consegue deslindar a escola de pensamento a que pertence G. H. Mead:
Filosoficamente falando, Mead era um pragmático; cientificamente falando,
ele era um psicólogo social. Pertencia a uma antiga tradição a tradição de
Aristóteles, Descartes, Leibniz; de Russel, Whitehead, Dewey que não
consegue ver nenhuma separação essencial, ou nenhum antagonismo,
entre as atividades da ciência e da filosofia, e cujos membros são, eles
próprios, cientistas e filósofos ao mesmo tempo.
Por isso, Farr (1996) salienta que a chave para compreensão do sistema em
filosofia de Mead está na sua psicologia social, ao passo que a clavis da teoria
3 A maior economia possível na explicação é um critério de Eco no qual diferencia a interpretação
de espírito da interpretação paranóica. Para ilustrar, utilizemos um exemplo pormenorizado pelo
próprio Eco. No Renascimento, constatou-se uma analogia morfológica entre a orquídea com dois
bolbos esferóides e os testículos. Bacon (1620 apud ECO, 1993) esm iúça que a orquídea possui dois
bolbos porque durante todos os anos se forma um bolbo nupérrimo que medra ao lado do antigo, e,
enquanto, aquele desenvolve, este murcha. Logo, nota-se alguma diferença no que tange ao
processo de fertilização entre os bolbos e os testículos, assim, a analogia formal estremece face a
incapacidade inerente de transpor o fenômeno morfológico para o âmbito das relações de causa e
efeito. Desse modo, o pensamento hermenêutico apoia-se na semelhança morfológica que não se
segue nos dados atinentes a atividade sexual, no caso dos testículos. Logo, a explicação auferida do
cotejamento entre os elementos é pouco compensatória e não satisfaz o critério de economia de
explicação, devido ao fato de se apoiar numa interpretação paranóica. Para maiores detalhes, vide:
ECO, Um berto. Sobreinterpretação de T extos. In: COLLINI, Stefan. Interpretação e
Sobreinterpretação. Lisboa: Editorial Presença, 1993. p. 45-61.

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