Teoria crítica da raça e da sociedade nos Estados Unidos

AutorTukufu Zuberi
CargoProfessor de Relações Raciais e Professor de Sociologia e Estudos Africanos, na cadeira da família Lasry, da Universidade da Pensilvânia. O Professor Zuberi tem escrito extensivamente sobre raça, populações africanas e populações diaspóricas africanas. Em 2009 recebeu o prêmio Oliver Cromwell de melhor livro, por seu volume coeditado, 'White ...
Páginas16-39
Teoria crítica da raça e da sociedade nos Estados Unidos
464
Caderno s do CEAS, Salvador, n. 238, p. 464-487, 2016.
Resumo
O artigo faz uma análise sobre a Teoria Crítica
da Raça (TCR) no direito e sua relação com as
teorias críticas da raça nas ciências sociais.
Aborda a inserção de negros nas ciências sociais
como agentes de mudança que desenvolveram as
ideias antecedentes que a TCR introduziu no
direito. Tendo como recorte principal a academia
e sociedade estadunidenses, elucida que a crítica
de acadêmicos e movimentos negros demonstra
a função hegemônica e estruturalista das ciências
sociais e traz a TRC como parte de um
movimento contra o poder racial branco.
Concordando com o apelo de Kimberlé Williams
Crenshaw, em seu artigo Twenty Years of
Critical Race Theory: Looking Back to Move
Forward, por uma mais ampla definição da TCR
e por uma próxima fase deste movimento para
envolver acadêmicos de várias disciplinas, este
artigo demonstra que o apelo de Crenshaw é
visionário e um passo necessário para
pesquisadores interessados no fim da supremacia
branca e na elevação da ciência dos direitos
humanos e da igualdade.
Palavras-Chaves: Raça. Teoría Crítica da Raça.
Ciências Sociais.
Tukufu Zuberi
Professor de Relações Raciais e Professor de
Sociologia e Estudos Africanos, na cadeira da família
Lasry, da Universidade da Pensilvânia. O Professor
Zuberi tem escrito extensivamente sobre raça,
populações africanas e populações diaspóricas
africanas. Em 2009 recebeu o prêmio Oliver
Cromwell de melhor livro, por seu volume co-
editado, “White Logic, White Methods”. E-mail:
tukufu@penn.edu
Tradução de: Fabiana Pires Rodrigues de Sousa,
Gianmarco Ferreira e Marcos Lustosa Queiroz
(UnB).
INTRODUÇÃO
Como um cientista social, eu sempre me preocupei com a justiça social; assim, tenho
estado profundamente interessado no desenvolvimento dos movimentos sociais para transformar
a sociedade. As obras In the Matter of Color, de A. Leon Higginbotham Jr.
1
e And We Are Not
Saved
2
, de Derrick Bell ajudaram-me a apreciar a hipocrisia histórica da democracia e do direito
1
Ver A. Leo n Higginbotham, Jr., In The Matter of Color: Race And The American Legal Process (1978)
(recontando, entre outros, que os Estados Unidos foram criados com a noção de que todos os homens eram criados
iguais, embora “inicie sua experiência de autogoverno com um legado de mais de um milhão e meio de negros
escravizados - pessoas a que eram negadas a cidadania e eram escravizados [...] so mente por uma questão de cor”).
2
Ver Derrick Bell, And We Are Not Saved: The Elusive Quest For Racial Justice, p. 7 (1987) (discutindo a
“Contradição Constitucional” e “as p reocupações que parecem ter levado mesmo aqueles elaboradores (Framers)
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UNIDOS1
CRITICAL RACE THEORY OF SOCIETY1
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Caderno s do CEAS, Salvador, n. 238, p. 464-487, 2016.
americano. Foi o movimento da Teoria Crítica da Raça (TCR), contudo, com pioneiras como
Kimberlé Williams Crenshaw e outros, que começou a institucionalizar o questionamento crítico
das pretensões intelectuais da supremacia branca na lei
3
. Este movimento se compara com a
tradição das ciências sociais em trabalhar por direitos humanos e justiça social e contra o
racismo, sexismo e outras formas de opressão. Eu gostaria de me valer desta oportunidade para
fazer considerações a respeito da tradição das teorias críticas da raça nas ciências sociais e como
esta tradição pode estar relacionada com o movimento da TCR que se desenvolveu no direito.
Nesse sentido, serei capaz de fazer comentários sobre as duas questões centrais trazidas por
Crenshaw em seu artigo, Twenty Years of Critical Race Theory: looking back to move forward
4
.
Nesse artigo, Crenshaw clama por uma mais ampla definição da TCR e pela próxima fase deste
movimento para envolver acadêmicos de outras disciplinas além do direito
5
. Eu começarei meus
comentários com considerações sobre as condições e tradições nas ciências sociais que poderiam
facilitar a realização desta possibilidade. Em seguida, discutirei como o movimento da TCR é
uma companhia poderosa e inovadora das tradições críticas da pesquisa sobre raça nas ciências
sociais. E concluo explicando como eu concordo com o chamado de Crenshaw para uma comum
e necessariamente combativa direção dos pesquisadores críticos da raça para além da loucura
intelectual da cegueira da cor no movimento pós-racial.
As ciências sociais são tanto o estudo da relação entre indivíduos e da relação entre a
aglomeração de indivíduos. As várias disciplinas que compõem as ciências sociais são parte do
que Foucault se referiu como sendo “as ciências do homem”
6
. O conhecimento produzido nas
opostos à escravidão a sancionar seu reconhecimento numa constituição que, em seu preâmbulo prega ‘assegurar as
Bênçãos da Liberdade para nós e para nossos sucessores’”)
3
Ver, por exemplo, Critical Race Theory: T he Cutting Edge, pp. xv-xvi, (Richard Delgado & Jean Stefancic eds.,
Segunda Edição, 20 00) (observe que a TCR “desafia a ortodoxia racial, balança a academia do direito, questiona as
premissas liberais pacificadas e leva a uma busca por novos caminhos de pensar o mais intratável e insolúvel
problema [nos Estados Unidos] - a raça”); Critical Race Theory: The Key Writtings That Formed The Movement, p.
xiii (Kimberlé Crenshaw et al. (ed), 1995) [referida a seguir como Critical Race Theory: The Key Writings] (“Da
maneira co mo nós concebemos isto, a teoria crítica da raça engloba um movimento de [...] acadêmicos [...] cujos
trabalhos desafiam os modos em que a raça e o p oder racial são construídos e representados na cultura jurídica
americana e, mais em geral, na sociedade americana como um todo”).
4
Kimberlé Williams Crenshaw, Twenty Years Of Critica l Race Theory: Looking Back To Move Forward , 43
CONN. L. REV., p. 1253 (2011) [referida a seguir como Crenshaw, Twenty Yea rs].
5
Id. pp. 1294-95.
6
Michel Foucault, The Order Of Thing: An Archaeology Of The Human Sciences, pp. 364-65 (Pantheon Books
1970) (1966); Tukufu Zuberi & Eduardo Bonilla-Silva, Telling The Real Tale Of The Hunt: Towar d A Race

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