A tensão permanente entre expansão e crise do capitalismo: As Revoluções Tecnológicas e as bolhas Financeiras

AutorRubem Mafra, Marcia Siqueira Rapini, Tulio Chiarini
Páginas71-96
71
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8085.2017v20n2p71/
Rev. Text. Econ., Florianópolis, v. 20 n. 2, p. 71 96, ago/dez. 2017 ISSN 2175 -8085
A tensão permanente entre expansão e crise do capitalismo:
as revoluções tecnológicas e as bolhas financeiras
The permanent conflict between expansion and crisis of capitalism:
Technological Revolutions and financial bubbles.
Rubem Polo Costa Mafra
rubem.mafra@gmail.com
Universidade Federal de Minas Gerais UFMG
Márcia Siqueira Rapini
msrapini@cedeplar.ufmg.br
Universidade Federal de Minas Gerais UFMG
Tulio Chiarini
tulio.chiarini@int.gov.br
Instituto Nacional de Tecnologia INT
Resumo: Partindo do conceito de paradigmas tecno-econômico desenvolvido por Freeman e
Perez (1988) e pela articulação entre o capital produtivo e financeiro (Perez, 2002) na
consolidação de cada Revolução Tecnológica associada, este ensaio articula inovação e bolhas
financeiras. Nas quatro primeiras Revoluções Tecnológicas Era da Mecanização; Era do Vapor
e das Ferrovias; Era da Engenharia Pesada, Aço e Eletricidade; e Era do Óleo, Automóvel e
Produção em Massa o capital financeiro foi responsável pela especulação econômica
relacionada às inovações e à construção de uma nova infraestrutura industrial. A quinta
Revolução Tecnológica Era da Microeletrônica traz uma peculiaridade: a financeirização da
economia modificou a lógica da relação entre o capital produtivo e o capital financeiro. Em
outras palavras, o capital produtivo não se sobrepôs ao capital financeiro, o que pode ser
explicado por profundas transformações estruturais no capitalismo.
Palavras-chave: Revolução Tecnológica; Bolhas Financeiras; Crises do Capitalismo
Abstract: In this essay we theoretically articulate innovation and financial bubbles based on the
concept of techno-economic paradigms developed by Freeman and Perez (1988) and on the
relation between productive and financial capital during each Technological Revolution (Perez,
2002). In the first four Technological Revolutions Age of Mechanization; Age of Steam and
the Railways; Age of Steel, Electricity and Heavy Engineering; Age of Oil, the Automobile and
Mass Production the financial capital was responsible for the economic speculation related to
innovation and to the new industrial infrastructure construction. The Fifth Technological
Revolution the Age of Information and Telecommunications has a peculiarity: the
financialization of the economy has modified the relationship between productive capital and
financial capital. In other words, the productive capital did not overlap the financial capital,
which can be explained by profound structural transformations in the capitalist system.
Keywords: Technological Revolution; Financial Bubbles; Capitalism Crisis
Recebido em: 26-09-2017. Aceito em: 27-11-2017.
72
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8085.2017v20n2p71/
Rev. Text. Econ., Florianópolis, v. 20 n. 2, p. 71 96, ago/dez. 2017 ISSN 2175 -8085
INTRODUÇÃO
Este ensaio apresenta evidências que demonstram que a conduta e o desempenho das
empresas são influenciados por Revoluções Tecnológicas. Essas podem ser definidas como
rupturas radicais interligadas capazes de formar uma constelação de tecnologias interdependentes
que formam um cluster de clusters (isto é, um sistema de sistemas). Desse modo, uma Revolução
Tecnológica tem a capacidade de afetar profundamente o sistema econômico e social, resultando
no surgimento de um novo paradigma técnico-econômico (PEREZ, 2009).
Será apresentado neste ensaio que, nas quatro primeiras Revoluções Tecnológicas Era da
Mecanização; Era do Vapor e das Ferrovias; Era da Engenharia Pesada, Aço e Eletricidade; e Era
do Óleo, Automóvel e Produção em Massa , o capital financeiro foi responsável pela
especulação econômica relacionada às inovações e à construção de uma nova infraestrutura
industrial. O capital produtivo, em cada um desses períodos, assumiu a liderança da construção
da infraestrutura industrial a partir da forte especulação e do descolamento do preço dos ativos da
economia real, isto é, a partir da geração de uma bolha financeira.
Na quinta Revolução Tecnológica Era da Microeletrônica também se observa o
estouro de uma bolha financeira Bolha da Internet porém este não foi condição suficiente para
que a lógica produtiva passasse a dominar a lógica financeira. Isso decorre do fato de que um
vasto conjunto de transformações histórico-estruturais resultou em uma economia global de
complexidade superior à economia que originou os big bangs anteriores (ALBUQUERQUE,
2016).
Dentre essas transformações, destaca-se a financeirização da economia, a qual permitiu
modificar a lógica da relação entre o capital produtivo e o capital financeiro. Em outras palavras,
o capital produtivo não se sobrepôs ao capital financeiro de forma que a sistematização teórica
proposta pela economista Carlota Perez não é mais capaz de explicar a dinâmica dos paradigmas
e das associações entre os capitais. As forças deixaram de se alternar.
O ensaio está estruturado da maneira que se segue: na seção 1 são apresentados,
sinteticamente, os esforços teóricos em explicar a relação entre os paradigmas tecno-econômicos
e as bolhas financeiras, sem se preocupar em cobrir todos os trabalhos existentes sobre o tema.
Na seção 2 são apresentadas as bolhas financeiras das quatro primeiras Revoluções Tecnológicas.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT