Tarsila do Amaral: A construção de uma narrativa sobre 'Brasilidade

AutorDalmo de Oliveira Souza e Silva
CargoDoutor em Artes pela Universidade de São Paulo
Páginas116-126
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2015v12n2p116
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Adaptada.
TARSILA DO AMARAL A CONSTRUÇÃO DE UMA NARRATIVA SOBRE
BRASILIDADE
Dalmo de Oliveira Souza e Silva
1
Resumo:
O texto discute a construção de uma narrativa sobre o conceito de brasilidade e,
envolvendo as matrizes portuguesas, indígenas e africanas no discurso e no
repertório modernista inaugurado pela Semana de Arte Moderna de 1922. Nesse
sentido, levanta a produção de Tarsila do Amaral e sua participação nos movimentos
Pau-Brasil e Antropofágico, tendo como ponto de análise a tela Abaporu, 1928
obra inspiradora do movimento antropofágico e síntese da construção de uma
brasilidade inerente à concepção moderna.
Palavras-chave: Tarsila do Amaral. Modernismo. Arte Brasileira.
Entre as diversas notas de jornal que circularam em 3 de fevereiro de 1922,
uma delas trazia com grande entusiasmo a notícia de uma projetada Semana de
Arte Moderna, em São Paulo, que estava despertando o mais vivo interesse nas
rodas intelectuais e mundanas(ABRIL CULTURAL, s.d., p. 5). Dezesseis dias
depois, o tom era outro: “na última pagodeira da Semana Futurista, foi preciso fechar
as galerias para evitar que o palco se enchesse de batatas” (Idem). Organizada com
o apoio financeiro das famílias paulistas mais abastadas, a Semana de Arte
Moderna escandalizou seus patrocinadores. Tudo isso porque um pequeno grupo de
intelectuais, reunidos em torno de Paulo Prado
2
e com o auxílio de escritores, tais
como Manuel Bandeira, Ribeiro Couto e Graça Aranha, resolveu inserir as ousadias
da arte moderna em São Paulo (SEVCENKO, 1992, p. 268)
3
.
1
Doutor em Artes pela Universidade de São Paulo. Professor titular da Universidade Metodista de
São Paulo, Faculdade de Jornalismo e Relações Públicas, Campus Rudge Ramos. São Bernardo do
Campo, SP, Brasil. E- mail: dallmolazarini@gmail.com
2
O patrocínio efetivo dos artistas paulistas era um apanágio de patronos abastados. O retorno a São
Paulo, em particular de Paulo Prado (filho do Conselheiro Antônio Prado), premido pela irrupção da
Guerra, após uma longa itinerância de diletante pela Europa, por designação de sua própria família,
iria mudar em definitivo o cenário político e cultural vigente. Era em sua casa e na de Olívia Guedes
Penteado igualmente recém-chegada da Europa pelo início da Guerra e viúva desde 1915 do
grande fazendeiro de café Ignácio Penteado que os jovens interessados em artes modernas
encontravam as últimas revistas, livros, informação, obras, chegados da Europa, e as portas abertas.
3
A ideia surgiu em fins de 1921, num dos serões no salão de Paulo Prado, incitada ao que parece
por Di Cavalcanti e Marinette, a m ulher francesa de Paulo. Juntos, eles teriam lembrado as

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