Survival of post-incubated technology-based companies: study of the entrepreneurial action in mobilization and use of resources/Sobrevivencia de empresas de base tecnologica pos-incubadas: estudo sobre a acao empreendedora na mobilizacao e uso de recursos.

AutorTumelero, Cleonir

Introducao

A melhor compreensao do processo de criacao, incubacao e consequente sobrevivencia de empresas de base tecnologica (EBTs) tem sido foco de varios estudos. Diferentemente de empresas de setores tradicionais, as EBTs geralmente sao criadas por pessoas com alta qualificacao academica, caracterizam se por apresentar maiores riscos tecnologicos e, a depender do setor de atuacao, requerem que os empreendedores facam maior aporte de capital financeiro (Santos, 1987; Santos, 2004; Tidd, Bessant e Pavitt, 2008; Tumelero, Santos, Marins e Carnauba, 2011).

Para Jovanovic (1982), os empreendedores que lideram a criacao de empresas diferem entre si segundo suas capacidades e informacoes acerca dos custos envolvidos nos negocios e da real viabilidade de seu produto. As empresas que sobrevivem, entao, sao aquelas cujos empreendedores sao mais capazes e detem melhores informacoes acerca do mercado e do produto no momento do nascimento da empresa.

Na visao de Nelson e Winter (1982), apesar de as habilidades e informacoes disponiveis diferirem entre as empresas no momento de entrada no mercado, os empreendedores sao capazes de se desenvolver por meio do aprendizado e da adaptacao das acoes da empresa as exigencias da demanda. Dessa forma, ela estara apta, apos sua entrada no mercado, a diminuir aquela diferenca, ou ate mesmo sobrepuja-la.

E nesse contexto que as incubadoras de empresas sao relevantes. Na fase de incubacao, as incubadoras oferecem abrigo para as empresas instaladas e oferecem servicos de apoio e assessoria sobre assuntos de gestao, tecnicos e administrativos. Outros servicos sao compartilhados e facilitam a interacao com a infraestrutura das universidades ou de institutos de pesquisa (Medeiros, Martins e Perilo, 1992; Santos, 2005), o que propicia aprendizado e protecao da empresa durante o periodo de incubacao.

Embora nao haja estatistica oficial sobre a quantidade exata de EBTs pos-incubadas ao longo das ultimas tres decadas de incubacao de empresas no Brasil, a Associacao Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) estima que essa quantidade esteja em torno de 1.350 empresas. Desse total, especialistas e gestores de incubadoras estimam que entre 40% e 60% continuam atualmente em operacao e o restante teria passado por processos de fusao ou aquisicao ou teria sido descontinuado.

A fase de pos-incubacao impoe maiores desafios a atuacao das EBTs, uma vez que a sobrevivencia dessas empresas passa a ser de responsabilidade exclusiva do empreendedor, ou seja, sem o apoio da incubadora. Recursos que antes tambem eram oferecidos, e/ou acionados a partir da incubadora, agora devem ser mobilizados tao-somente pelo empreendedor, em um esforco continuado para a geracao de lucros e a sobrevivencia da empresa.

A sobrevivencia de empresas e o tema central da diretriz teorica, relativa ao desenvolvimento economico, que orienta esta pesquisa e que afirma que um novo empreendimento e sustentado pela obtencao, pelo controle e pela recombinacao de recursos (Penrose, 1959; Schumpeter, 1939; Wernerfelt, 1984, 1989). A partir dessa diretriz teorica, o estudo foi estruturado em cinco topicos. O primeiro descreve o problema, os objetivos e a hipotese da pesquisa; ao longo do segundo topico e feita a revisao bibliografica; por meio do terceiro topico e apresentada a metodologia de pesquisa; no quarto topico sao apresentados e analisados os dados da pesquisa; e o quinto topico apresenta as conclusoes da pesquisa.

Esta pesquisa optou por estudar quatro tipos de recursos capazes de apoiar a sobrevivencia de uma empresa, a saber: humanos, tangiveis, financeiros e intangiveis, esse ultimo tipo, especificamente, um recurso de conhecimento. Sabe-se, segundo a literatura cientifica, que ha relacao entre os recursos que uma empresa detem e a sobrevivencia dessa. Todavia, ha lacunas relacionadas a investigacao de como esses dois elementos convergem e atuam. Em principio, e possivel admitir que a simples existencia de recursos, por si so, nao assegura a sobrevivencia de uma empresa.

Dessa forma, nesta pesquisa, procurou-se identificar qual e o agente capaz de garantir que recursos sejam controlados em funcao da sobrevivencia da empresa, chegou-se a conclusao de que o empreendedor, por meio de suas acoes, deve mobilizar e usar tais recursos capazes de garantir essa sobrevivencia.

Os objetivos que orientaram a pesquisa sao:

  1. Verificar se a acao empreendedora para mobilizacao e uso de recursos humanos, tangiveis, financeiros e intangiveis influencia na sobrevivencia de empresas de base tecnologica pos-incubadas.

  2. Contribuir para a compreensao da relacao entre a acao empreendedora para mobilizacao e uso de recursos e o fenomeno da sobrevivencia de empresas de base tecnologica pos-incubadas.

Diante da situacao-problema e dos objetivos apresentados, foi elaborada a hipotese de pesquisa (H1):

H1--A acao empreendedora para a mobilizacao e uso dos recursos humanos, tangiveis, financeiros e intangiveis nao influencia a sobrevivencia de empresas de base tecnologica pos-incubadas.

Essa hipotese foi submetida a testes, com base nos procedimentos metodologicos previstos.

Revisao da literatura

Os estudos de Penrose (1959) sao considerados importantes contribuicoes para o desenvolvimento da teoria baseada em recursos. As consideracoes da autora focam principalmente a forma pela qual as empresas exploram um conjunto de recursos capaz de lhes proporcionar crescimento e sobrevivencia.

Wernerfelt (1984) afirma que os recursos de uma empresa devem ter quatro atributos: (1) ser valiosos; (2) ser raros; (3) ser originais e diferenciados; e (4) nao devem ser facilmente equivalentes aqueles dos concorrentes. Complementarmente, Wernerfelt (1989) afirma que os recursos de uma empresa podem ser usados de tres formas: (1) independentemente; (2) em conjunto com recursos existentes; e (3) em situacoes nas quais recursos especificos e complementares precisam ser criados. Recursos podem atuar como redutores dos riscos comumente enfrentados por um empreendimento. Empresas recem-criadas, na maioria das vezes, estao envolvidas com processos de experimentacao e aprendizado, em que tudo esta sendo testado. Nessa fase de experimentacao, a empresa empreende um processo de tentativa e erro para testar a viabilidade de seu modelo de negocio, incluindo gestao e operacao. Portanto, a preparacao previa do empreendedor com conhecimentos gerenciais e tecnicos e importante para capacita-lo a determinar quais recursos devem ser mobilizados e usados (Aspelund, Berg-Utby e Skjevdal, 2005; Cooper, Gimeno-Gascon e Woo, 1997).

E fato que a simples existencia de recursos nao garante a sobrevivencia de uma empresa. Dai a intencao deste estudo: investigar a acao empreendedora na mobilizacao e no uso de recursos. Assim, acao empreendedora foi definida como o conjunto de acoes feitas pelo empreendedor. Essas acoes levam em conta as necessidades e/ou oportunidades enfrentadas no dia a dia de uma empresa. Implicam agir para mobilizar e recombinar, alocar e usar os recursos para fazer frente as demandas internas e externas da empresa (Drucker, 1993; McMullen e Shepherd, 2006; Shane e Venkataraman, 2000; Schumpeter, 1939).

De forma mais especifica, passa-se a fundamentar os principais tipos de recursos que podem ser mobilizados e usados por uma empresa a partir da acao empreendedora. No tocante aos recursos humanos, observa-se que eles tem capacidade para gerar valor economico por meio de seu desempenho no trabalho e podem ser mobilizados pelo empreendedor, tendo em vista as dimensoes quantitativa (quantidade de colaboradores necessarios) e qualitativa (competencia profissional) desses colaboradores (Penrose, 1959; Schultz, 1961).

No caso de empresas atuantes em setores de base tecnologica, Aspelund et al. (2005) descrevem uma dinamica diferenciada, ao considerar que tais empresas tem poucos recursos organizacionais e tangiveis ao ser criadas. Essa mesma conclusao foi assinalada por Barney (1991). Todos esses autores afirmaram que, em seus estagios iniciais, tais empresas tem poucos recursos tangiveis e contam principalmente com recursos humanos em pequena quantidade, mas com altas qualificacoes.

A importancia dos recursos humanos no inicio da vida de uma empresa e sublinhada por McGrath, Tsai, Venkataraman e MacMillan (1996) e Wernerfelt (1989). Os autores tambem afirmam que ter um grupo de pessoas competentes na formacao de uma empresa faz aumentar a probabilidade de sobrevivencia dessa, uma vez que as competencias das pessoas envolvidas na gestao e na operacao da empresa sao complementares ou auxiliam no desenvolvimento de novas competencias.

Complementando o conjunto de recursos necessarios a uma empresa, destaca-se a importancia de maquinas, instrumentos, equipamentos (Barney, 1991; Penrose, 1959) e softwares (IBGE, 2010) empregados em pesquisa e producao, os quais apoiam as inovacoes tecnologicas da empresa. Dessa forma, por sua relacao direta com produtos/producao, inovacoes tecnologicas, neste estudo, serao relacionadas a recursos tangiveis, embora tambem possam ser consideradas recursos intangiveis, em razao do conhecimento nelas empregado. Assume-se que EBTs sao importantes meios de comercializacao de inovacoes tecnologicas (Gimmon e Levie, 2010) porque sao capazes de promover a chamada destruicao criativa, conceituada como a funcao dos empreendimentos baseados em inovacao e descrita por Schumpeter (1939).

A novidade presente em uma tecnologia depende da solucao que uma EBT propoe, em termos de produto ou servico, bem como da disponibilidade de recursos que pode mobilizar e alocar para produzir tais inovacoes. Uma dessas solucoes pode ser produzida e ofertada em modulos presentes de forma...

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