O súbito em que o direito e a poesia se encontram

AutorCleiciele Tayara Reinbold
CargoAssistente jurídico
Páginas269-269
ALÉM DO DIREITO
269
REVISTA BONIJURIS I ANO 30 I EDIÇÃO 655 I DEZ18/JAN19
Cleiciele Tayara Reinbold ASSISTENTE JURÍDICO
O SÚBITO EM QUE O DIREITO E A POESIA
SEENCONTRAM
discursos sociais: “mantenha-se
humano”.
Desse modo, a sensibilidade
devia invadir as vísceras do judi-
ciário, com o único propósito de
acentuar a vastidão, vastidão da
arte! Encarar o direito como arte
é antídoto. Ademais, a arte não
aliena ninguém, mas sim traz
em voga o humano, nos toca ver-
dadeiramente, nos mostra faces
ocultas.
Ainda, as tais vidas, histó-
rias, ideologias, tornam-se en-
cantadoras depois que vistas
sob uma ótica humanizada.
Qual é o real objetivo disso
tudo? Tirar o nosso heroísmo
do nosso próprio cotidiano! Sal-
var quem atingimos com nos-
sos feitos, mas também salvar a
nós mesmos.
A sensibilidade é o fio con-
dutor para arte e consequente-
mente para humanização. Nos
enxergarmos em nossa essên-
cia é a receita para que não nos
tornemos meros aplicadores
dos institutos normativos. De
fato, esse deve ser o súbito em
que o direito e a poesia se en-
contram, é aí que a beleza faz
morada. n
SEMPRE ACREDITEI que o di-
reito e a poesia eram irmãos de
sangue. A poesia merece repro-
vação caso não cumpra seu pa-
pel, o direito igualmente.
Histórias, conflitos, ideolo-
gias, verdades, lágrimas, vidas!
O maravilhoso Charlie Cha-
plin por trás de sua arte alertou:
Não sois máquina! Homens é
que sois!”. O incrível Roger Wa-
ters apregoa sempre em seus
Ernani Buchmann ADVOGADO
MAS QUE PROVA É ESSA?
ANTES DA REFORMA universi-
tária dos anos 1970, a grade cur-
ricular das faculdades de direito
não diferia muito. A ordem das
matérias também era semelhan-
te, com introdução à ciência do
direito, direito romano, teoria ge-
ral do estado e economia políti-
ca, ministradas no primeiro ano.
O regime de aulas era folgado,
iniciando às 9h30 e terminando
às 11h30, sábados inclusive.
O professor de economia po-
lítica era autor de um livro refe-
rencial no assunto no Brasil. Na
sala de aula, mostrava-se com-
placente, permitindo entradas e
saídas das aulas. As provas cos-
tumavam trazer duas questões,
ambas bem explicadas nas pági-
nas do seu livro.
Era então que o professor abria
um jornal e deixava os alunos
pesquisarem as respostas. Aquele
trabalho de cópia, que se manteve
por anos, alcançando inúmeras
turmas de primeiro ano, era sem-
pre distinguido com notas entre
sete e dez. As razões para a osci-
lação eram misteriosas. O fato é
que, ao fim de cada ano, todos se
viam aprovados por média.
Certo dia, depois de uma pro-
va, nosso benfeitor, digo, pro-
fessor, entrou bufando na sala
dos professores. Jamais alguém
havia visto o pacífico mestre tão
indignado.
Imaginem vocês o absurdo
que aconteceu ainda há pouco,
durante uma prova!
Contou que a prova já ia a
meio quando um aluno pediu a
sua atenção:
– Professor, mas essa não é a
prova de direito romano?
Sentado ao lado de uma jane-
la, sorvendo com parcimônia seu
cafezinho, um velho professor
catedrático não deixou o episó-
dio sem resposta.
Caro colega – disse ele –,
compreendo o inusitado da si-
tuação, mas tenho para mim que
não faria muita diferença. Mes-
mo que não tivesse perguntado,
com certeza ele teria recebido ao
menos um sete. n

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