Stress at work: a challenge for managers of Brazilian organizations/Estresse no trabalho: um desafio para os gestores das organizacoes Brasileiras/Estres en el trabajo: un desafio para los gestores de las organizaciones Brasilenas.

AutorPereira, Luciano Zille
CargoArtigo--Gestao de Pessoas em Organizacoes
  1. INTRODUCAO

    A velocidade e a frequencia com que as mudancas vem ocorrendo no ambiente organizacional tem sido uma importante caracteristica do mundo atual dos negocios. Isso ocorre, principalmente, em decorrencia de transformacoes de ordem economica, politica, social e tecnologica, implicando para as pessoas e organizacoes a necessidade permanente de desenvolvimento e adaptacao, para antecipar novas demandas (CANDIDO; ABREU, 2002).

    Na realidade brasileira, os gerentes comecaram a enfrentar, principalmente a partir da decada de 90, situacoes ambiguas, em razao dos processos de reestruturacao pelos quais passou grande parte das organizacoes, tendo em vista as exigencias do novo sistema capitalista em construcao. Nesse processo de transformacao, o contexto passa a ser marcado por competicao intensificada, desregulamentacao dos mercados, desenvolvimento de novas tecnologias de informacao e producao, novas politicas organizacionais e legislacoes governamentais.

    Em funcao dessas transformacoes, impoe-se um novo estilo na gestao dos negocios bem diverso daquele que marcou a economia brasileira nos anos anteriores. Mudancas organizacionais acontecem a todo o momento, em grande parte sob a egide dos gestores, que passaram a lidar com tensoes intensificadas e constantes no ambiente de trabalho, as quais provocam quadros de estresse ocupacional, entendido aqui como o estresse decorrente das relacoes que o individuo estabelece com seu ambiente ocupacional (ZILLE, L. P., 2011; ZILLE, L. P.; BRAGA; ZILLE, G. P., 2011).

    Em face desse novo momento que se apresenta para os ocupantes de funcoes gerenciais, torna-se cada vez mais irrefutavel a relevancia de aprofundar estudos sobre esta categoria de trabalhadores, considerando a pressao que o trabalho lhes impoe e suas implicacoes sobre o desencadeamento do fenomeno do estresse ocupacional.

    Tendo em conta as mudancas significativas por que passam as organizacoes, e seus consequentes impactos no trabalho dos gestores, o objetivo geral deste trabalho foi identificar os niveis de estresse, as principais fontes de tensao excessiva no trabalho e os indicadores de impacto na produtividade desses profissionais.

    Esse objetivo foi atingido a partir de um estudo descritivo, por meio de survey. A coleta de dados foi realizada com uso do questionario aderente ao Modelo Teorico de Explicacao do Estresse Ocupacional em Gerentes--MTEG (ZILLE, 2005) e os dados foram tratados estatisticamente a partir da utilizacao dos softwares Excell e PASW --Predictive Analytics Software--Statistics 18, Versao 18.0.0 (MALHOTRA, 2001; HAIR, 2005).

    O estudo, realizado em 2011 com os 637 gestores pesquisados, apontou que 75,7% deles apresentaram manifestacoes de Estresse Ocupacional em niveis que variaram de leve a moderado e intenso. As fontes de tensao no trabalho que mais explicaram esses niveis de estresse foram: ter o dia muito tomado com uma serie de compromissos de trabalho assumidos, com pouco ou nenhum tempo livre, e nao conseguir se desligar dos contextos relacionados ao trabalho, mesmo fora deles. Em relacao aos indicadores de impacto na produtividade, os mais significativos foram: a dificuldade de lembrar fatos recentes relacionados ao trabalho, o que anteriormente era facilmente lembrado, dificuldade na tomada de decisoes e fuga das responsabilidades de trabalho, que anteriormente eram assumidas de forma natural.

    Esses resultados abrem espaco para o aprofundamento de pesquisas sobre o tema em referencia, fornecendo dados importantes para analises e comparacoes em relacao as pesquisas nacionais e internacionais.

    Para contextualizar as transformacoes que vem ocorrendo no ambiente organizacional, e importante compreender o estresse ocupacional, suas abordagens conceituais e as pesquisas relacionadas ao tema, para que se possam analisar os niveis de estresse, as principais fontes de tensao excessiva no trabalho e os indicadores de impacto na produtividade. Em seguida, sao apresentados os procedimentos metodologicos, os resultados e, a guisa de conclusao, consideracoes que puderam ser inferidas da pesquisa.

  2. ESTRESSE OCUPACIONAL

    Stress e uma palavra derivada do latim. Durante o seculo XVII ganhou conotacao de adversidade ou aflicao. No final do seculo seguinte, seu uso evoluiu para expressar forca, pressao ou esforco. O conceito de stress nao e novo, mas foi apenas no inicio do seculo XX que estudiosos das ciencias biologicas e sociais iniciaram a investigacao de seus efeitos na saude fisica e mental dos individuos. Desde entao, o stress passou a ser visto como um estado do organismo apos o esforco de adaptacao que pode produzir deformacao na capacidade de resposta do comportamento mental e afetivo para com as pessoas (NASCIMENTO et al, 1998). Para fins deste trabalho, o termo stress, em ingles, sera grafado em portugues: estresse.

    Selye (1956) considerou o estresse como a resposta inesperada do corpo a qualquer estimulo que seja solicitado, correspondendo a situacoes as quais o organismo deve se adaptar.

    Somando-se ao trabalho de Selye (1956), na decada de 1970, Albrecht (1979:113) definiu o estresse como "o conjunto de condicoes bioquimicas do corpo humano, refletindo a tentativa do corpo de fazer o ajuste as exigencias do meio." Assim, na visao desse autor, o estresse nao e tratado como uma doenca, mas sim como uma condicao de descontrole da funcao fisiologica normal do corpo humano. Na mesma direcao, Couto (1987:38), Admas (1980), Cooper et al. (1988), Levi (2005), Maslach (2005) e Zille (2005) consideram o estresse como um estado em que ocorre um desgaste anormal do organismo humano e/ou uma reducao da capacidade de trabalho, ocasionados, basicamente, por uma desproporcao prolongada entre o grau de tensao a que o individuo esta exposto e sua capacidade de suporta-lo. Nesse sentido, o estresse pode estar presente em todos os ambientes e niveis sociais, independentemente de variaveis como sexo, idade e ocupacao.

    A reestruturacao do trabalho e do emprego, nas ultimas decadas, tem levado pesquisadores como Cahill e Schnall (1999) e Quinlan, Mayhew e Bohle (2001) a argumentar que esses eventos podem produzir estresse e, como consequencia, doencas fisicas e psicossomaticas nos trabalhadores. Situacoes como o aumento da jornada de trabalho, comum na funcao gerencial, apontam para preocupacoes com a intensificacao e sobrecarga de trabalho. O enxugamento e as praticas de emprego temporario podem prejudicar a capacidade dos trabalhadores e das organizacoes de acumular e reter o conhecimento sobre seguranca, e desencorajam o relato de riscos de acidentes ou a utilizacao dos servicos de saude por parte dos trabalhadores, pelo medo de perda do emprego.

    De acordo com Zille (2005:61),

    [...] as sociedades estao passando por um processo de intensificacao do ritmo em que as mudancas acontecem. Aliado a essa conjuntura verifica-se uma deterioracao da qualidade de vida dos individuos. Dessa forma, o estresse apresenta-se como um estado importante, que vem atingindo as pessoas de uma forma geral. Cada periodo da historia contribui de maneira positiva para o desenvolvimento global, mas cobra um preco por esse beneficio, sendo o estresse um dos precos mais habituais da atual epoca de turbulencia sociocultural por que passa a humanidade. Rifkin (1995) destaca que milhares de trabalhadores estao perdendo seus postos de trabalho, em razao da substituicao do trabalho humano pelas chamadas tecnologias inteligentes, que vem sendo desenvolvidas em larga escala em todo o mundo. Para esse autor, o novo mundo do trabalho esta deixando os individuos alienados, vitimas de um acentuado estresse proveniente de pressoes decorrentes de um ambiente de trabalho de alta tecnologia e crescente inseguranca.

    Nesse cenario, o estresse no trabalho fica cada vez mais evidente e recebe cada vez mais destaque, podendo ser entendido, de acordo com Brief, Schuler e Sell (1981), como uma condicao que surge a partir da interacao dos individuos com seu trabalho, e ser desencadeado pelas mudancas que acontecem com as pessoas quando sao "forcadas" a se desviar de suas funcoes naturais. Essas mudancas acontecem quando o corpo e a mente das pessoas estao em estado de equilibrio e ocorre um evento diferente relacionado ao trabalho que interrompe esse estado, ou seja, que quebra a homeostase.

    Para Adams (1981), Couto (1987), Cooper et al. (1988), Karasek e Torres (1996), Karasek (1998), Levi (2003, 2005) e Zille (2005), o estresse intenso ou muito intenso gera varios impactos no individuo, como, por exemplo, mudancas nos habitos alimentares; mudancas no consumo de alcool e cigarro; dores, mal-estar e problemas de estomago; agitacao nervosa, ansiedade, insonia, dificuldade de se concentrar; preocupacao excessiva; sentir-se tenso, ansioso, irritado, fadigado e nervoso; sentir-se confuso, prostrado, vencido, depressivo e irritavel.

    O estresse intenso e muito intenso afetam tambem varios comportamentos e atitudes no trabalho, como, por exemplo, o absenteismo, atrasos no comparecimento ao trabalho, falta de atencao na realizacao das tarefas, atitudes negativas, resistencia a mudancas, baixo nivel de cooperacao e hostilidade. Portanto, os gerentes precisam estar atentos aos sinais de estresse neles proprios e nos trabalhadores de sua area de responsabilidade (ADAMS, 1981).

    As principais fontes de estresse entre gerentes do mundo...

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