O sonho de Julius e Ethel Rosenberg: antissemitismo, opinião pública e a U.S. Information Agency.

AutorJúlio Barnez Pignata Cattai
CargoMestre e doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo, São Paulo/SP, Brasil
Páginas470-487
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DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2017v24n38p470
O sonho de Julius e Ethel Rosenberg:
Antissemitismo, opinião pública e a U.S. information agency
The dream of Julius and Ethel Rosenberg:
Anti-semitism, public opinion and the U.S. information agency
Júlio Barnez Pignata Cattai*
Resumo: No presente artigo, analisamos a atuação, no início dos anos 1950,
da agência de informação e propaganda do governo dos EUA, a United States
Information Agency, em relação ao processo movido na justiça do país contra
o casal de judeus Julius e Ethel Rosenberg, acusados de espionagem em favor
da União Soviética. Especicamente, analisamos a atuação de tal agência em
dois importantes jornais brasileiros do período, o “Correio da Manhã” e a
“Tribuna da Imprensa”. Mais do que discutir a singularidade do processo do
casal Rosenberg, nosso objetivo é chamar atenção o fato de que, para além
dos campos já conhecidos e consideravelmente explorados pela historiograa
sobre a Guerra Fria, havia outro campo importante de disputa no período: o
da propaganda cultural – no que a historiograa, notadamente estadunidense,
tem chamado de “Cultural Cold War”.
Palavras-chaves: Antissemitismo – Cultural Cold WarUnited States
Information Agency.
*Mestre e doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo, São Paulo/SP,
Brasil. E-mail: juliocattai@gmail.com
Artigo
471
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 470-487, dez. 2017.
Abstract: In this article, we analyze the performance, in early 1950’s, of the
United States Information Agency in relation to the case brought in to the
justice of the country against the Jewish couple Julius and Ethel Rosenberg,
accused of espionage in favor of the Soviet Union. Specically, we analyze the
performance of such agency in two major Brazilian newspapers of the period,
“Correio da Manhã” and “Tribuna da Imprensa”. More than discussing the
uniqueness of the couple Rosenberg process, we aim to call attention to the
fact that, in addition to the elds already known and greatly exploited by the
historiography of the Cold War, there was another important eld of dispute
during the period: the cultural propaganda, which the historiography especially
in the United States has been calling the “Cultural Cold War.”
Keywords: Antisemitism - Cultural Cold War - United States Information
Agency.
– Ninguém acredita nas infâmias que estão publicando
contra você – disse Gertrude, abaixando muito a voz, como
se os dois homens que estavam ali pudessem não ouvir. –
Todas as pessoas decentes estão indignadas ao ver o governo
usar essas calúnias para enfraquecer o manifesto a seu favor
que tanta gente importante assinou, Roger. 1
Sir Roger Casement estava preso na Inglaterra, após sua captura na
Irlanda, pelas forças britânicas, em meados dos anos 1910, acusado de alta
traição e espionagem contra o governo britânico. O título de nobreza, que então
perderia, ganhara dos ingleses como reconhecimento de trabalhos realizados
no Congo belga e na região do rio Putumayo, na Amazônia peruana: relatórios
produzidos nos muitos anos que passou naquelas regiões dando conta dos
abusos das empresas que se dirigiam a elas sob o signo da civilização e de Deus.
Seus detalhados relatórios para o Foreign Oce chocaram as opiniões públicas
europeia e estadunidense, que passaram a exercer pressão sobre o império belga
por mudanças em relação ao “intento civilizatório” do rei Leopoldo II na África
e sobre a Companhia inglesa de exploração de borracha, de Júlio César Arana,
no Peru. Casement tornara-se, assim, um célebre intelectual do Império. No
entanto, sua participação, na Irlanda, em abril de 1916, no Levante da Semana
Santa, movimento que lutava pela independência do país do jugo britânico,
faria mudar sensivelmente a opinião que se tinha de Roger.
A desconstrução da imagem do irlandês – que, em sentido contrário,
conseguiu o apoio de uma porção de intelectuais, entre eles George Bernard
Shaw, pela comutação de sua pena – junto à opinião pública pelo governo
britânico passou, então, pela circulação de alguns de seus diários pessoais,
os chamados “Black Diaries”, que traziam relatos obscenos de sua vida

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