Empresas na sociedade nacional e na sociedade local: perspectivas internacionais de análise da empresa

AutorPaola Cappellin, Paula Menezes
CargoProfessora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. - Estudante de Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA/UFRJ).
Páginas47-72
Dossiê
Empresas na sociedade nacional
e na sociedade local: perspectivas
internacionais de análise da empresa*
Paola Cappellin**
Paula Menezes***
Resumo
A reflexão que guia este artigo é atualizar a análise sociológica da empresa,
pela teoria do embeddedness. Abandonamos a visão mecânica da combinação
entre necessidade e utilidade da grande empresa fordista para adotar a
perspectiva de ver esta organização como complexa construção histórica
(GRANOVETTER e MCGUIRE 1998, MINGIONE, 1999). Para isso, o artigo faz
uma revisão da contribuição da literatura italiana e francesa, desde os anos
1980, que sugere mergulhar sobre a relação entre economia e sociedade.
Nas conclusões, apresentamos elementos para atualizar estas discussões,
especialmente no que tange à dinâmica empresa-território. Propõe-se obser-
var os limites e possibilidades desta literatura, que a partir do conceito de
embeddedness, historiciza as interpretações dos fenômenos econômicos.
Palavras-chave: empresa, desenvolvimento local, economia e sociedade,
embeddedness.
1. Introdução
O
ponto de vista das relações entre a economia e a sociedade
sugere refletir sobre a imagem da empresa como parte da so-
ciedade, nacional e local. Estaríamos hoje lidando com o abandono
* Este texto é um dos produtos da pesquisa em curso “A expansão da igualdade de
oportunidades no território: trabalho e direitos numa perspectiva de gênero”.
UFRJ / CNPQ (2008-2010).
** Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Endereço eletrônico: cappellin@
uol.com.br.
*** Estudante de Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e An-
tropologia (PPGSA/UFRJ). Endereço eletrônico: menezes.paula@gmail.com.
48 p. 47 – 71
Volume 8 – Nº 15 – outubro de 2009
da imagem tradicional que a considerou agente econômico movido
pela utilidade individual e pela necessidade de competir durante
o longo período da produção em massa de tipo fordista1? Olhar a
empresa como ator social, que maximiza o crescimento e a rentabili-
dade, se combinaria com a análise da diversidade de interações que
a põem em contato com o entorno social, jurídico e político, pelos
contratos escritos ou pactuados, as trocas formais e informais, as
colaborações, as dinâmicas de confronto e de negociação? Reatar a
empresa ao contexto do território nacional e local é uma perspectiva
de análise que não é nova, mas retorna com maior pujança, quando
as modalidades de industrialização descentralizada, não-fordista e
flexível, se expandem. A reflexão que guia este artigo é proporcionar
subsídios para atualizar a análise sociológica das empresas, pela
teoria do embeddedness, (GRANOVETTER,1985) abandonando a visão
mecânica da combinação entre necessidade e utilidade da grande
empresa para adotar a perspectiva de sua complexa construção
histórica (GRANOVETTER & MCGUIRE, 1998; MINGIONE, 1999).
Desta forma, passado e presente cultural, social e jurídico poderiam
subsidiar o estudo do agir da empresa, interpretando-a pela sua
imersão na configuração das relações sociais (Gramsci, 1950).
A empresa como conjunto complexo, em suas conexões con-
tínuas com o seu entorno, absorve e renova tradições e fomenta
inovações. As modalidades de organizar seus interesses materiais,
expor e defender suas expectativas de ganhos concorrenciais, de
responder às legislações e normas sociais, demonstram o quanto
neste espaço social se explicita a prerrogativa de fazer escolhas.
A empresa se apresentaria, assim, como um ator social ativo. Na
história da industrialização, a convivência das práticas econômicas
com relações extra-econômicas, tem permeado não só a transfor-
mação do projeto econômico de fazer empresa. Não é por acaso
1 Estamos nos referindo à crise da produção em massa de tipo fordista nos
apoiando nas referências de G. Arrighi, isto é, a crise do “sistema de máquinas
especializadas, operando no interior de empresas gigantescas, com integração
vertical e administração burocrática”. Por outro lado, o autor faz referência ao
quanto esta crise possibilita o ressurgimento de sistemas de especialização
flexível, executadas por unidades empresariais coordenadas por processos de
troca através do mercado, denominadas como empresas “pessoais ou familia-
res”. (Cfe. ARRIGHI, (1996), PIORE e SABEL (1984) e HARVEY (1989)).

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