A sociedade excludente: exclusao social, criminalidade e diferenca na modernidade recente Jock Young.

AutorPreussler, Gustavo de Souza
CargoResena de libro

A sociedade excludente: exclusao social, criminalidade e diferenca na modernidade recente Jock Young

Rio de Janeiro: Revan, 2002, 314p.

Jock Young, sociologo e criminologista, aborda na obra "Sociedade excludente: Exclusao social, criminalidade e diferenca na modernidade recente", primordialmente os aspectos fundantes da transicao da sociedade inclusiva para a sociedade excludente.

A sociedade inclusiva remonta ao periodo dos "anos dourados" na Europa, e na America do Norte do pos-guerra. Tratava-se de um mundo de pleno emprego, incorporacao gradual da classe trabalhadora, entrada mais plena das mulheres na vida publica e no mercado de trabalho, bem como a tentativa dos Estados Unidos em criar uma igualdade para os afro-americanos.

Nesta sociedade inclusiva, o trabalho e a familia eram os pilares centrais, encaixando-se como num sonho funcionalista. Em parte alguma desenvolveu-se uma sociedade tao inclusiva, cingindo o cidadao do berco ao tumulo, insistindo na cidadania social plena. (YOUNG, 2002, p. 21)

No tocante a criminalizacao, a sociedade inclusiva nao excluia o "outro", nao o catalogava como um inimigo, mas o enxergava como alguem que devesse ser reabilitado, socializado, curado ate ficar como "nos" (YONG, 2002, p. 21). Em verdade, na visao modernista, o outro aquele a quem faltava os atributos do observador.

Entretanto, o sonho de uma sociedade inclusiva e tradicional da familia e da comunidade comecou a desmoronar. Ao longo dos anos 1980 e 1990, no bojo daquela sociedade utopica, figurou um periodo de extremo declinio, culminando em um processo de exclusao social. Notadamente, trata-se da transicao da modernidade para a modernidade recente, ou seja, a transicao de uma sociedade inclusiva para uma sociedade excludente.

Segundo Young, alguns fatores contribuiram para que esta exclusao fosse implementada, como por exemplo, a economia de mercado, que trouxe um salto qualitativo nos niveis de exclusao. O downsizing da economia acarretou a reducao do mercado de trabalho primario, expansao do mercado de trabalho secundario e a criacao de uma subclasse de desempregados estruturais. (YOUNG, 2002, p. 24)

O trabalho seguro e qualificado foi reduzido, dando lugar a forca de trabalho terceirizada, mediante contratos curtos, sem qualquer estabilidade ou vinculo empregaticio. O grande efeito deste processo de exclusao, foi, inevitavelmente, gerar um sentimento de precariedade em todos os trabalhadores.

Essas frustracoes, afirma o autor, conscientemente sao expressas sob forma de privacao relativa. Trata-se da frustracao daqueles a quem a igualdade no mercado de trabalho foi recusada face aqueles com merito e dedicacao iguais. Eis aqui o paradoxo do novo individualismo para Young. A insatisfacao face a situacao social pode dar lugar a uma variedade de respostas politicas, religiosas e culturais e, frequentemente, fechar e restringir as possibilidades criando respostas criminais. (YOUNG, p. 30)

Nesse contexto, o aumento da criminalidade e evidenciado, afinal a criminalidade emerge da inflamavel combinacao de privacao relativa e individualismo. Ocorre que este aumento rapido da taxa de criminalidade refletiu nas transformacoes dos comportamentos e atitudes publicos no desenvolvimento do aparato de controle do crime e da criminologia, alimentou o medo publico do crime e gerou padroes elaborados de comportamento de evitacao. E, consequentemente, resultou num aumento da populacao encarcerada.

Young expoe alguns dados. Nos Estados Unidos, por exemplo, os presos constituem uma populacao excluida significativa, cerca de 1,6 milhoes de pessoas estao presas--uma cidade do tamanho de Filadelfia, se fossem todas reunidas no mesmo lugar--. Alem disso, 5,1 milhoes de pessoas estao em regime de supervisao correcional (prisao, condicional ou sursis), um em cada 37 adultos da populacao adulta residente. Young compara dramaticamente a situacao prisional norte americana com o gulag (1), em que este gulag americano seria agora do mesmo tamanho do gulag russo, e ambos contrastariam com a situacao da Europa Ocidental, em que a populacao carceraria total seria de 200 mil pessoas.

Apos estas reflexoes iniciais, Young indaga aos seus leitores a respeito da existencia de uma possivel distopia de exclusao, onde as divisoes e desigualdades ocorreriam nao apenas entre nacoes, mas no interior das proprias nacoes.

A modernidade recente, ou sociedade excludente, pode ser identificada atraves de um nucleo, de um cordao sanitario e pelas pessoas que estao de fora.

O nucleo corresponde aos que pertencem ao mercado de trabalho primario, aqueles que trabalham em tempo integral, com estruturas de carreiras seguras e solidas. Aqui e o reino da meritocracia. No entanto, trata-se de um nucleo que encolhe sem parar. A parte que mais cresce do mercado de trabalho e a do mercado secundario, em que a seguranca no emprego e muito menor, em que as estruturas de carreira estao ausentes e a vida e experimentada como precaria. (YOUNG, 2002, p. 40)

Tambem e possivel visualizar o chamado cordao sanitario, uma fronteira criada entre o grupo nuclear e os que estao fora deste grupo, atraves de uma serie de medidas, pelo planejamento urbano e, principalmente, pelo dinheiro. Ja os que estao fora, sao grupos que viram bodes expiatorios para os problemas da sociedade mais ampla. Eles sao a subclasse, onde todos os problemas da sociedade lhes sao imputados.

Neste contexto, e destacado pelo autor a dualidade do Sonho Americano e do Sonho Europeu. Para Young, e evidente a natureza excludente do Sonho Americano, onde a nocao de cidadania enfatiza fortemente a ideia de igualdade legal e politica, e muito menos a de igualdade social. Em verdade, o foco esta sobre os bens sucedidos. Por outro lado, no sonho Europeu ha uma mencao a igualdade social, aos direitos de inclusao.

Em que pese a suposta utopia de alcancar o Sonho Americano ou o Sonho Europeu, Young demonstra que o cordao sanitario, que busca diferenciar, afastar e excluir os segmentos mais vulneraveis da populacao, tem conseguido cada vez menos proteger separar o cidadao "honesto" contra o crime e a desordem em ambas visoes. Afinal, a nocao de que o criminoso e um inimigo externo esta fundamentalmente equivocada. Privacao relativa e individualismo ocorrem atraves de toda a estrutura social e em todos os lugares, a...

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