Smart Cities e o desenvolvimento sustetável: revisão e perspectivas de pesquisas futuras

AutorDenise Genari, Luana Folchini da Costa, Thiago Paese Savaris, Janaina Macke
Páginas69-85
Smart Cities e o Desenvolvimento Sustentável: Revisão de Literatura e Perspectivas de Pesquisas Futuras
R C A
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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RESUMO
O processo acelerado de urbanização da sociedade é acompa-
nhado de desaos vinculados às esferas sociais, ambientais e
econômicas. Diante desse contexto, destaca-se a emergência
do tema smart cities, sendo essas consideradas espaços nos
quais ocorre a utilização adequada da infraestrutura disponível,
visando melhorar a eciência econômica e política, permitindo
o desenvolvimento social, cultural e urbano. Com base nessa
perspectiva, o presente artigo tem como principal objetivo
caracterizar os estudos que vinculam os temas smart cities e
desenvolvimento sustentável, além de identicar oportunida-
des de pesquisas futuras. Para tanto, realizou-se uma revisão
sistemática de literatura, utilizando-se o suporte do software
Alceste. Os principais resultados apontam a predominância de
estudos qualitativos, abordando, principalmente, a dimensão
ambiental da sustentabilidade e a dimensão sistêmica vincu-
lada às smart cities, contemplando as tecnologias da informa-
ção e da comunicação. A partir desses achados, sugere-se a
realização de pesquisas futuras que considerem a dimensão
social e econômica da sustentabilidade.
Palavras-chave: Smart Cities. Desenvolvimento Sustentável.
Sustentabilidade. Revisão Sistemática. Software Alceste.
ABSTRACT
The accelerated process of urbanization of society is accom-
panied by challenges associated with social, environmental
and economic spheres. In this context, emphasis is placed
on the emergence of the smart cities theme, which means
spaces where the adequate use of the available infrastructure
occurs, with the objective of improving economic and political
eciency, allowing social, cultural and urban development.
Based on this perspective, the main objective of this article
is to characterize the studies that link the themes of smart
cities and sustainable development, in addition to identifying
future research opportunities.To this end, a systematic review
of the literature was carried out using the Alceste software
support. The main results point to the predominance of stu-
dies based on qualitative research, primarily addressing the
environmental dimension of sustainability and the systemic
dimension related to smart cities, including information and
communication technologies. Based on these ndings, it is
recommended that future research should be carried out also
taking into consideration the social and economic dimension
of sustainability.
Keywords: Smart Cities. Sustainable Development. Sustaina-
bility. Systematic Review. Alceste Software.
SMART CITIES E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
REVISÃO DE LITERATURA E PERSPECTIVAS
DE PESQUISAS FUTURAS
Smart Cities and Sustainable Development:
Literature Review and Prospects for Future Research
Denise Genari
Dra. em Adm. Instituto Fed. de Educ., Ciência e Tecn. do Rio Grande
do Sul e Univ. de Caxias do Sul. Profa do Ensino Básico, Técnico e
Tecnológico. Bento Gonçalves (RS). e-mail: denisegenari@hotmail.com
Luana Folchini da Costa
Mestre em Administração. Universidade de Caxias do Sul. Psicóloga
Organizacional. Caxias do Sul (RS). e-mail: luana.folchini@gmail.com
Thiago Paese Savaris
Mestre em Administração. Universidade de Caxias do Sul. Analista
sênior de Remuneração - Bruning Tecnometal. Panambi (RS).
e-mail: savarist@hotmail.com
Janaina Macke
Dra em Adm. Univ. de Caxias do Sul e IMED Business School. Profa. e
pesquisadora. Caxias do Sul (RS). e-mail: jmacke@terra.com.br
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2018 V20n51p69
Recebido em: 29/05/2017
Revisado em: 07/05/2018
Aceito em: 21/07/2018
Denise Genari • Luana Folchini da Costa • Thiago Paese Savaris • Janaina Macke
Revista de Ciências da Administração • v. 20, n. 51, p. 69-85, Novembro. 2018
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R C A
1 INTRODUÇÃO
As cidades surgiram a partir da necessidade dos
indivíduos de obter segurança e de conviver de forma
coletiva, com maior acesso a recursos e níveis mais
elevados de qualidade de vida (ZUBIZARRETA; SE-
RAVALLI; ARRIZABALAGA, 2015). Em convergên-
cia, as smart cities são denidas como as cidades com
desempenho satisfatório em termos de resultados
econômicos, de governança, de mobilidade e de meio
ambiente, alinhado a cidadãos com comportamento
consciente e independente (GIFFINGER et al., 2007).
Na atualidade, as cidades se apresentam como
sistemas complexos, que são caracterizados pela co-
nexão entre cidadãos e organizações, por diferentes
modos de transportes, de redes de comunicação e de
serviços (HARRISON; DONNELLY, 2011; BATTY
et al., 2012; NEIROTTI, et al., 2014). Nesse sentido,
as cidades são consideradas símbolos de riqueza,
inovação, acessibilidade a serviços e a sistemas edu-
cacionais e oportunidades de emprego, sendo que
esses fatores promovem um fenômeno contínuo de
migração da população da zona rural para as áreas
urbanas (CORSINI; RIZZI; FREY, 2016). O cresci-
mento populacional e da urbanização fomentam uma
variedade de desaos técnicos, sociais, econômicos e
corporativos, que podem comprometer o desenvol-
vimento sustentável nas esferas econômica, social
e ambiental das cidades (NEIROTTI, et al., 2014;
MEIJER; BOLÍVAR, 2016).
O tema desenvolvimento sustentável tem se
apresentado como relevante, principalmente nas
últimas décadas, em virtude do rápido esgotamento
dos recursos naturais, das preocupações com as dis-
paridades de riqueza na coletividade e da importância
da responsabilidade social corporativa (DYLLICK;
HOCKERTS, 2002; LINNENLUECKE; GRIFFI-
THS, 2010; DAO; LANGELLA; CARBO, 2011;
GUERCI; SHANI; SOLARI, 2013). Além disso, as
atuais mudanças climáticas, as discussões acerca das
consequências da globalização, a crise nos mercados
nanceiros e a necessidade de desenvolvimento de
uma orientação, por parte das instituições, para seus
stakeholders, reforça a importância do tema (JAMALI,
2008; ZINK, 2014).
Em convergência com esse cenário, percebe-se,
no âmbito organizacional e acadêmico, o crescente
interesse por estudos que enfoquem a sustentabilidade
e o desenvolvimento sustentável (LINNENLUECKE;
GRIFFITHS, 2010; DYLLICK; MUFF, 2015). Embora
o número de pesquisas tenha aumentado nos últimos
anos (ROCA; SEARCY, 2012; LEAL FILHO et al.,
2018), ainda existem divergências em termos concei-
tuais (GLAVIČ; LUKMAN, 2007; JOHNSTON et al.,
2007; CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008; EHNERT,
2009; BULLER; MCEVOY, 2016), uma vez que a sus-
tentabilidade se apresenta como um componente de
várias disciplinas cientícas. Ademais, o termo even-
tualmente é empregado apenas como uma expressão
teórica e com cunho político ou como uma “expressão
da moda”, fatos que desvirtuam o verdadeiro propósito
da sustentabilidade (LEAL FILHO, 2000).
Também verica-se, no campo acadêmico e
institucional, um crescente interesse e a ampliação
dos estudos que abordam o tema smart cities (CARA-
GLIU; DEL BO; NIJKAMP , 2011; LEE; LEE, 2014;
NEIROTTI, et al., 2014; CORSINI; RIZZI; FREY,
2016; MASSANA, et al., 2017). No entanto, ainda
percebe-se a oportunidade de ampliação dessas pes-
quisas, uma vez que os conhecimentos nesse contexto
ainda são fragmentados e vinculados, em muitas si-
tuações, a conceitos vagos ou imprecisos (SÁNCHEZ
et al., 2013; LEE; HANCOCK; HU, 2014; ALBINO;
BERARDI; DANGELICO, 2015; ANGELIDOU, 2015;
PAPA et al., 2015; CORSINI; RIZZI; FREY, 2016;
MEIJER; BOLÍVAR, 2016; MASSANA, et al., 2017).
A multiplicidade conceitual está evidenciada
em estudos que se concentram em diferentes tópicos:
questões ambientais, com ênfase no uso eciente dos
recursos naturais e consumo de energia; condições
socioeconômicas, com destaque para a relevância
do capital social e do capital humano; potencial das
tecnologias da informação e da comunicação (TICs),
para a melhoria dos processos de tomada de decisões
e para o empoderamento das comunidades locais
(PAPA et al., 2015). Logo, percebe-se que os estudos
sobre smart cities necessitam de uma abordagem mais
holística e integrativa, ao se considerar que muitas
pesquisas enfocam, de maneira segregada, os tópicos
anteriormente citados (ALAWADHI et al., 2012; AN-
TTIROIKO; VALKAMA; BAILEY, 2014; CORSINI;
RIZZI; FREY, 2016; MEIJER; BOLÍVAR, 2016).
A literatura assinala que a emergência do tema
smart cities também está relacionada às perspectivas

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