Quando o "novo sindicalismo" bancário entra em cena no Estado de Santa Catarina

AutorZenaide Sachet/José Carlos da Silva
CargoCentro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal/Centro Universitário Municipal de São José
Páginas131-149

Zenaide Sachet1

    When the "new unionism" banking enters the scene in State of Santa Catarina

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No primeiro semestre de 1987, após o fracasso do Plano Cruzado e o consequente arrocho salarial, o Brasil assistiu a intensas greves e mobilizações dos trabalhadores. Quais seriam os motivos que levaram aos movimentos grevistas em todo o país? A resposta estava num movimento que iniciou na década de 70 e que tomou expressão em 1978, nas greves do ABC paulista, o chamado "novo sindicalismo".2

Buscou-se traçar um paralelo deste com o "antigo sindicalismo" para definir que: o "novo sindicalismo" é um movimento que se diferencia do outro, principalmente por comportar em seu interior um grau de combatividade pelas lideranças, não visto antes, independentemente das concepções ideológicas presentes no movimento. Foi por esta razão que se procurou pautar os objetivos com o intuito de contribuir para a compreensão do sindicalismo, analisando fundamentalmente o papel dessas lideranças nos rumos do movimento sindical.

Ainda no primeiro semestre de 1987, o Movimento de Oposição Bancária (MOB) vencia as eleições do maior sindicato de Santa Catarina, o Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região. Aumentaram-se assim as chances de verificar na prática a atuação das lideranças do "novo sindicalismo".

Neste estudo, tratar-se-á de verificar a participação das direções no movimento sindical, analisando seu poder político: o estudo do Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região (SEEB-Fpolis), nos seus aspectos organizacionais e de lutas, a identificação da postura estratégica da antiga diretoria até 1987 e da nova (posse em 1987).

O Sindicalismo Bancário no Brasil

A organização sindical bancária teve seus primórdios em São Paulo com a criação da Associação de Funcionários do Banco de São Paulo em 1923.

A dificuldade de organização que existia no início do século está relacionada à pouca importância do setor na economia em comparação com outros. Os ferroviários e portuários, por exemplo, eram as categorias mais importantes, reunindo um grande número de trabalhadores, e já possuíam organização e associações desde o século passado (CÂNEDO, 1986). O pequeno número de funcionários espalhados pelo território, poucos bancos, explica tal dificuldade de organização da categoria. Nesse período os financiamentos da cafeicultura eram feitos por agências de bancos estrangeiros. Com o desenvolvimento da economia, contudo, surge a necessidade da implantação de bancos para fornecer crédito aos agricultores.

Depois de 1930, o sistema bancário começa a se expandir rapidamente por todo o país, crescendo sua importância na economia. O Estado, a partir de então, passa a intervir nas atividades e na organização dos trabalhadores bancários.

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Em 1932, os funcionários do Banco do Estado de São Paulo deflagraram a primeira greve bancária no país. O movimento, que durou três dias e teve suas reivindicações atendidas, representou um março no movimento bancário e dos trabalhadores em geral. As reivindicações de gratificação, proibição de dispensa e horas extras passaram a fazer parte das exigências também de outras categorias.

Em 1934, ocorreu a primeira greve nacional dos bancários, com a participação de vários sindicatos do país, que lutavam pela aposentadoria e estabilidade aos dois anos de serviço. A segunda greve nacional aconteceria em 1946, durou dezenove dias e contou com a adesão de cidades como Porto Alegre, Florianópolis, Recife, etc. A greve foi fruto de impasse entre banqueiros e bancários frente às reivindicações da categoria. O fim do movimento se deu com a intervenção do Ministério do Trabalho, que ameaçou os grevistas com demissão.3

Em setembro de 1962, surge a greve nacional dos bancários. O movimento apresentava reivindicações econômicas e políticas: aumento salarial, reforma de base, governo nacionalista e democrático. Ainda no referido ano ocorreu a greve nacional dos trabalhadores do Banco do Brasil, que durou um dia. A relevância deste movimento estava associada a dois projetos que circulavam na Câmara Federal. O primeiro projeto era do deputado Sérgio Marino, o qual propunha a retirada do 13º Salário. O segundo, e o mais polêmico, era de autoria do deputado Daniel Faraco, que dizia respeito à reforma do sistema bancário (MINELLA,1988).

Em 1958 é criada a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito (CONTEC). A entidade é reconhecida pelo presidente Juscelino Kubitschek em 1959. A criação da Confederação foi um fato marcante na organização dos trabalhadores bancários. A CONTEC teve uma importante participação nos movimentos grevistas e nas lutas gerais da categoria. Exemplo disso foi o projeto de reforma bancária apresentado em 1963 pela entidade, fruto do descontentamento das lideranças em relação ao "Projeto Faraco", que consideravam muito negativo para a categoria.4

A CONTEC liderou muitas greves, demonstrando organização das lutas dos trabalhadores, liderando o movimento sindical bancário na época. Em 6 de dezembro de 1962, a Confederação coordenou uma greve nacional contra os projetos dos deputados Daneil Faraco e Ségio Marino, que durou apenas um dia. Em maio de 1963, surge outra greve nacional, de campanha salarial, coordenada também pela entidade.

Após o Golpe Militar de 1964, o movimento sindical começa a sofrer um forte refluxo. Em primeiro de abril daquele ano, a CONTEC sofreu intervenção,

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seu presidente foi preso. O golpe desencadeia a política de intervenção nas organizações sindicais dos trabalhadores bancários, com cassação de mandatos, perseguição política. Os trabalhadores do Banco do Brasil, que tinha o maior grau de organização, foram os mais atingidos. Nos bancos públicos, pelo fato de a rotatividade do trabalho ser menor, o movimento sindical consegue ainda formar seu maior número de lideranças.

De 1964 a 1985, há uma expansão do sistema financeiro através de facilidades criadas pelo regime ditatorial. Até o início do período, os bancos oficiais eram os únicos que atuavam em território nacional, outros bancos eram regionalizados e os privados não contavam com o porte de hoje. Após a criação do Banco Central, ficou favorecido o crescimento dos bancos privados, por meio dos recursos públicos transferidos à iniciativa privada.

A intervenção na CONTEC, nas federações e sindicatos, criou um período propício para que a política sindical estivesse ligada à política patronal. A CONTEC, que surgiu com a resistência dos trabalhadores, passou a ser acusada de não representar a defesa dos seus interesses.5

Apesar de os sindicatos de bancários no país sofrerem com intervenções e mudanças em suas políticas de ação no período autoritário, alguns sindicatos renovaram suas diretorias na década de 70, com a vitória de oposições sindicais. Por este motivo, em 1979, algumas capitais vivenciaram greves bancárias, como Porto Alegre, que ficou 14 dias em greve, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Por serem isoladas, foram vítimas de forte repressão, sendo eliminadas sem que conseguissem suas reivindicações, embora se constituíssem em importantes focos de resistência.

O movimento bancário retomou sua expressão mais unitária na primeira grande campanha salarial unificada, em 1985, depois de uma tentativa em 1984, mediante a unificação da data-base da categoria, antes com datas-base regionalizadas diferentemente6. No interior do movimento, porém, a correlação de forças entre as posições do "antigo" e do "novo" sindicalismo ainda era muito desigual, quando a maioria dos sindicatos do país estavam ligados às posições antigas.

O "novo sindicalismo", contudo, consegue hegemonia na campanha, contando a seu favor o ato de que os sindicatos de bancários filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) eram os de maior expressão e representavam um contingente significativo de trabalhadores.

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A partir de então, os movimentos da categoria estão cada vez mais ligados ao "novo sindicalismo", que se transformou no maior impulsionador das greves nacionais. Em muitas regiões, as oposições sindicais vencem eleições. Há uma troca bastante significativa nas diretorias no interior dos sindicatos no país. Em Santa Catarina também ocorre esse processo de renovação, como se poderá verificar a seguir.

O Sindicalismo Bancário em Santa Catarina

Em Santa Catarina, o movimento sindical surgiu com maior expressão a partir de 1985, após a campanha nacional unificada de setembro. Dela emergiu o Movimento de Oposição Bancária (MOB), que foi o maior impulsionador do movimento estadual, caracterizando a sua importância.

Até aquele momento, o sindicalismo bancário no Estado estava mais ligado ao sindicalismo oficial da Federação dos Bancários. De cunho basicamente burocrático e assistencial, a ação política se caracterizava pelo reforço da estrutura sindical de Estado.7

A postura do sindicalismo de Estado se fazia sentir na imobilidade referente aos movimentos da categoria que se davam em escala nacional. A tentativa de unificação da campanha salarial de 1984, que contou com movimentação em muitos Estados, em Santa Catarina ficou a cargo apenas da organização espontânea de alguns bancários8. Nesse sentido, a ação política em favor dos banqueiros, que é passada por meio da cooptação das federações bancárias, se verifica na ação de cada sindicato que em torno delas se organizava.

O surgimento de novos movimentos de oposição bancária em Santa Catarina ligada à nova postura sindical desenha o novo cenário do sindicalismo no Estado. O...

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