Símbolos de violência no 'trote' universitário: corrente e saudação nazista

AutorThelma Yanagisawa Shimomura
Páginas901-919
!
Símbolos de violência
no “trote” universitário
Corrente e saudação nazista
Ο=)∃∀1∋Ψ141∆%+1Ζ1∋Α=%∀&∀∗.1
Introdução
O presente artigo tem como objetivo discutir a
partir da análise de duas fotos, o aparecimento de sím-
bolos de violência durante o ‘trote’ universitário ocor-
rido na Faculdade de Direito da Universidade Federal
de Minas Gerais (FDUFMG), no dia 15 de março de
2013. Essas fotos foram postadas em redes sociais e
rapidamente repercutiram nacionalmente, causando
indignação e notas de repúdio de Movimentos Sociais e
de alguns órgãos ligados à própria UFMG, como a re-
presentação discente da FDUFMG dos cursos de Direi-
to e Ciências do Estado. Em uma das fotos, aparece
uma caloura com a pele pintada de preto e com as
mãos atadas por uma ‘corrente’, que é puxada por um
veterano. Ela também expõe uma placa pendurada no
pescoço com a inscrição “caloura Chica da Silva”, em
alusão à famosa ex-escrava que viveu em Diamanti-
na/MG, no período colonial. Na outra foto, aparecem
três veteranos, sendo que um deles ostentava um bigo-
de postiço similar ao de Adolf Hitler. Eles ‘brincavam’
com um calouro pintado de marrom que tinha sido
amarrado com fita adesiva a uma pilastra. Essa ‘brin-
cadeira’ consistia em gesticular a saudação nazista pe-
Thelma Yanagisawa Shimomura
!
902
rante o calouro imobilizado (TRAJANO; FREITAS,
2013, p. 01).
Frias (2013), no artigo intitulado “Todo trote é
aceitável desde que seja divertido para quem assiste?”,
diz que o trote tem função de dar boas-vindas aos ca-
louros e promover a integração deles com os veteranos.
Mesmo que algumas vezes haja festas, palestras e ou-
tras atividades, para algumas pessoas, infelizmente, se
não houver jogos de humilhação com os calouros, essas
atividades não seriam consideradas como trote.
A imprensa veiculou que os envolvidos no trote
da FDUFMG justificaram a ação como apenas uma
“brincadeira”, evidenciando dessa forma, a banalização
de práticas de violência (AZEVEDO et al, 2013, p. 01).
Pressupondo que calouros e veteranos tenham conhe-
cimento do sofrimento ocorrido nos períodos históricos
decorrentes da escravidão no Brasil e do nazismo na
Alemanha, percebe-se, portanto, a necessidade de re-
flexão sobre o processo educacional nas instituições de
ensino e nas famílias, para um entendimento mais am-
plo do ocorrido. Porém, estes assuntos não serão abor-
dados, como também, a especulação sobre o processo
jurídico. Cabe aos envolvidos passarem pelo devido
processo legal e serem responsabilizados na devida
proporção do que fizeram. Nesse artigo, propõe-se
uma conexão entre a aparição dos símbolos de violên-
cia no trote e o tema direito à memória e à verdade. Os
fatos registrados nas fotos serão aqui analisados como
um sintoma social. Sabendo que após três meses, esta
mesma instituição sediou o “Congresso Internacional
Justiça de Transição nos 25 anos da Constituição de
1988”, haveria alguma ligação entre esses distintos te-
mas? Inicialmente, será abordado o conceito psicana-
tico de Recalque e como esse mecanismo pode ser
entendido coletivamente diante de regimes represso-
res; depois será abordada a repressão militar na UFMG
e FDUFMG durante o período ditatorial e; em seguida
será apresentado o conceito de Justiça de Transição, as

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT