Serviço Social: Gênero, raça/etnia, gerações e sexualidade

AutorSônia Weidner Maluf
CargoDoutorado em Antropologia Social e Etnologia pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociale (EHESS)
Páginas435-437
EDITORIAL
R. Katál., Florianópolis, v. 21, n. 3, p. 435-440, set./dez. 2018 ISSN 1982-0259
Serviço Social: Gênero, raça/etnia, gerações e
sexualidade
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O pensamento crítico contemporâneo tem afirmado a centralidade da articulação entre gênero, classe,
raça, etnia, sexualidade, gerações e outras categorias sociais para se compreender as desigualdades, as opres-
sões, as violências e as experiências sociais de modo geral, em resumo, para se compreender a dialética das
opressões e das resistências. O ponto de partida são os limites de se buscar compreender as desigualdades
contemporâneas a partir de um único marcador social ou matriz de diferença.
O feminismo (na academia e nos movimentos), o pensamento e a luta anti-racista e o movimento negro,
os movimentos e teorias anti, pós e decoloniais, os movimentos e os estudos LGBT, entre outros, denunciaram
o paradoxo da modernidade entre, de um lado, o culto do Homem universal, em suas versões de sujeito da
razão, de sujeito político e de direito e de Eu psicológico, e de outro a produção de diferenças e hierarquias de
todo tipo, que evidenciam acessos diferenciados e assimétricos, quando não ausência absoluta de acesso, à
posição de humanidade, aos bens e à riqueza produzidos, ao reconhecimento enquanto sujeito de direitos ou
enquanto sujeito político1.
O paradoxo apontado acima também fez e faz parte das estratégias de dominação, que enfatizam o
ideário de universalidade e igualdade, mas ao mesmo tempo produzem e exploram as diferenças como dispo-
sitivo de poder e de exploração. Assim, nos arranjos políticos e sociais que deram origem à modernidade
capitalista, mulheres foram afastadas da vida política e pública e despojadas de direitos, com a justificativa da
diferença sexual biológica. Do mesmo modo, a escravidão e a opressão racial foram justificadas pelas teorias
raciais e pelo discurso da supremacia branca e ocidental.
Ou seja, o mesmo discurso que cultuou a ideia de um sujeito universal, detentor de direitos (humanos),
naturalizou e ontologizou as diferenças, apagando o fato de que são fundamentalmente diferenças construídas
historicamente.
Por outro lado, o reconhecimento das múltiplas opressões e o modo como se cruzam e se articulam se
tornou ao longo da história um instrumento importante de organização, de luta e de resistência.
A literatura específica sobre as articulações e os cruzamentos entre diferentes modos de opressão
localiza um primeiro momento da crítica sobre os sentidos diferenciados da experiência social e da desigualda-
de nos movimentos sociais dos anos 1960-70, através do feminismo negro nos Estados Unidos, que denunciou
o caráter branco, de classe média e heteronormativo do feminismo hegemônico naquele momento2; no feminis-
mo de esquerda em vários países, que buscou articular a luta das mulheres à luta de classes; no movimento das
mulheres lésbicas, que questionou a hegemonia heterossexual no feminismo e reivindicou uma articulação
entre o feminismo e o direito das mulheres e os direitos gays e lésbicos, entre outras manifestações. Tanto nos
movimentos sociais quanto nos trabalhos e reflexões acadêmicas, pensar de modo articulado as diferentes
opressões tornou-se central para a compreensão da desigualdade social e para a elaboração de estratégias de
resistência e de emancipação, sobretudo através da tríade classe, raça e gênero3 num primeiro momento, e
mais contemporaneamente com a inclusão de outros marcadores de diferença, como sexualidade, etnia, gera-
ções, deficiência, entre outros.
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-02592018v21n3p435
© O(s) Autor(es). 2018 Acesso Aberto Esta obra está licenciada sob os termos da Licença Creative Commons
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