Seja... seja ou fosse...fosse e seja...ou

AutorMaria Tereza de Queiroz Piacentini
CargoLicenciada em Letras e mestra em Educação pela UFSC. Revisora da Constituição de Santa Catarina em 1989
Páginas82-82

Page 82

Eu gostaria de me certificar de que o binômio "seja... seja" acompanha o tempo dos verbos da frase, porque estranhei o que li: "Aquilo acontecia seja porque pediam que acontecesse, seja porque tinha mesmo de acontecer". A meu ver, o pretérito soaria melhor: "Aquilo acontecia fosse porque pediam que acontecesse, fosse porque tinha mesmo de acontecer". I.S.T.

A denominada conjunção coordenativa alternativa seja...seja, pelo fato de ser constituída por uma forma verbal, concorda com o sujeito e pode variar em tempo, como nestes exemplos:

Sejam sócios, sejam visitantes, todos participarão do sorteio.

A feira acontecerá de qualquer maneira, seja hoje, seja amanhã.

Fosse bom, fosse mau, a instituição lhe daria o apoio necessário.

Expressava tudo quanto sentia, fossem tristezas, fossem alegrias.

Peço notar o uso da partícula como antes do substantivo plural na frase a seguir, a denotar que não há sujeito com que fazer a concordância no plural: "Santa Catarina terá a obrigação de receber bem os colombianos, seja como turistas, seja como alunos em nossas universidades" (*sejam como turistas/ alunos constitui erro).

Então, no exemplo apresentado pelo leitor, se pensarmos rigorosamente em termos gramaticais, colocaremos o binômio no pretérito: "Aquilo acontecia fosse porque pediam que acontecesse, fosse porque tinha mesmo de acontecer". Mas esta frase não me parece boa, nem melhor do que com seja...seja. Ficaria mais fluente assim: "Aquilo acontecia porque pediam que acontecesse, ou porque tinha mesmo de acontecer."

Aproveitando a pergunta, vejamos a questão do emprego - lícito - de seja...ou. Apesar da "proibição" que anda por aí, não é erro usar seja...ou (em vez de seja...seja). Esta variante é uma forma evoluída de uso, aliás bastante comum na fala e numa linguagem menos literária.

Em sua grande obra "Syntaxe Histórica Portuguesa" (Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1959, 4ª ed., p. 254-5), Augusto Epiphanio da Silva Dias exemplifica o emprego dos "membros disjunctivos" ou seja...ou seja e ou seja...ou valendo-se...

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