Do século 19 ao século 21: permanência e transformações da solidariedade em economia

AutorJean Louis Laville
CargoConservatório Nacional das Artes e Profissões (CNAM ? Paris)
Páginas20-42
20
Du XIXème au XXIème siècle: permanence et
transformations de la solidarité en économie
Do século 19 ao século 21: permanência e
transformações da solidariedade em economia
Jean-Louis Laville
Conservatório Nacional das Artes e Profissões (CNAM – Paris)
Tradução de Marie-Françoise Gérardin
Du XIXème au XXIème siècle: permanence et transformations de la solidarité en économie
Résumé: Les deux derniers siècles ont été marqués par l’utilitarisme tendant à absolutiser économie de marché et société de capitaux.
Cette naturalisation inhérente à la modernité, et périodiquement réactualisée, qui soustrait l’économie au débat a cantonné la dynamique
démocratique. Ce sont ces rapports entre démocratie et économie que la première partie de ce texte cherche à mettre en perspective pour
aborder les difficultés du présent, avec l’idée directrice que l’action publique s’est progressivement inscrite dans la dépendance à la
conception dominante de l’économie. La seconde partie de ce texte met en évidence que la démocratisation réciproque de la société civile
et des politiques publiques est congruente avec une économie fondée sur la pluralité des principes économiques et des formes de
propriété. A l’orée du XXIème siècle, il apparaît clairement que la démocratie ne saurait subsister dans une société de marché. Notre
devenir est lié à la possibilité d’une économie plurielle avec marché, c’est-à-dire à la capacité de ne plus soustraire les choix économiques
à la délibération citoyenne.
Mots-cle: économie, socio-économie, solidarieté, democratie.
Do século 19 ao século 21: permanência e transformações da solidariedade em economia
Resumo: Os dois últimos séculos foram marcados pelo utilitarismo procurando, ‘absolutizar’ a economia de mercado e a sociedade de
capitais. Essa naturalização inerente à modernidade, e periodicamente atualizada, que subtrai a economia do debate, limitou a dinâmica
democrática. São essas relações entre democracia e economia que a primeira parte deste texto procura discutir, abordando as dificuldades
do presente, com a idéia diretora que a ação pública, progressivamente, colocou-se na dependência da concepção dominante da economia.
A segunda parte deste texto põe em evidência que a democratização recíproca da sociedade civil e das políticas públicas está associada
a uma economia fundada na pluralidade dos princípios econômicos e das formas de propriedade. Na orla do século 21 aparece claramente
que a democracia não saberia subsistir numa sociedade de mercado. Nosso futuro está ligado à possibilidade de uma economia plural com
mercado, isto é, à capacidade de não subtrair mais as escolhas econômicas à deliberação cidadã.
Palavras-chave: economia, socioeconomia, solidariedade, democracia.
From the 19th to the 21st Century: Permanence and Transformation of Economic Solidarity
Abstract: For the past two centuries utilitarianism has sought to define the market economy and the society of capital as ‘absolute’.
The naturalization of these elements, which is inherent to modernity and periodically updated, has curtailed debate about economic
models and limited democracy. The first part of the text discusses these relationships between democracy and the economy, considering
current difficulties and guided by the idea that public action is progressively made dependent on the dominant conception of the
economy. The second part of this text describes how the reciprocal democratization of civil society and public policies are associated
to an economy based on the plurality of economic principles and forms of property. At the dawn of the 21st century it clearly appears
that democracy does not know how to subsist in a market society. Our future is bound to the option of a plural market economy, in
which economic choices are not subject to the deliberations of the citizenry.
Key words: economics, socioeconomics, solidarity, democracy.
Recebido em 14.12.2007. Aprovado em 16.01.2008.
Rev. Katál. Florianópolis v. 11 n. 1 p. 20-42 jan./jun. 2008
PESQUISA TEÓRICA
21Du XIXème au XXIème siècle: permanence et transformations de la solidarité en économie
Rev. Katál. Florianópolis v. 11 n. 1 p. 20-42 jan./jun. 2008
1 Les rapports entre democratie et économie
La Révolution française symbolise, la sortie des
sociétés à statut dans lesquelles les rapports entre
groupes sociaux étaient réglés par la tradition s’est
traduite par la montée des incertitudes. Avec
l’affirmation de l’universalité des principes de liberté
et d’égalité, s’impose l’inquiétude sur les capacités
humaines à éviter l’affrontement de tous contre tous.
Comment se garder de l’emportement des passions,
une fois que les barrières hiérarchiques ne garantissent
plus la coexistence entre les différents corps?
Cette interrogation débouche, comme on le sait,
sur une réponse d’une portée considérable: pour se
garder de la violence des passions, il importe de donner
plus de place à l’intérêt; cette motivation humaine
est porteuse d’harmonie sociale puisque “le doux
commerce” s’oppose à la guerre (HIRSCHMAN,
1980). Dès la première moitié du dix-neuvième siècle,
l’économie politique suggère de pacifier la société
par la diffusion de l’économie de marché. La poursuite
de l’intérêt personnel qui progressivement, se confond
avec l’intérêt matériel, est une activité civilisée et
pacifique qui autorise une résolution du problème de
confiance posé par Hobbes sans passer par une
autorité despotique.
La définition de l’économie: une question
conflictuelle
L’entrée dans la modernité démocratique, si elle
institue un type de rapports fondé sur la liberté et
l’égalité, n’en résout pas pour autant la question de
leur régulation. Le marché se présente dans ce
contexte comme un principe de coordination pouvant
contribuer à la résolution de celle-ci. Pour contenir la
force destructrice des passions dans une collectivité
affranchie de tout garant extérieur ou transcendant,
le principe du marché est doté d’une vertu due à
l’innocence et la douceur du commerce et de
l’enrichissement”. La sphère économique marchande
prend une importance grandissante dans l’organisation
des rapports entre individus libres.
Les relations marchandes semblent susceptibles de
réfréner la violence inhérente aux relations humaines
et le comportement dicté par l’intérêt économique est
doté d’un potentiel pacificateur dans un processus “qui
finira par vider la notion d’intérêt de toute connotation
autre qu’économique” (HIRSCHMAN, 1980). A partir
du dix-neuvième siècle, les sociétés démocratiques
confient une partie de leur régulation au marché, mû
par une main invisible, qui fabrique du juste sans se
soucier de justice, transformant les vices privés en
bienfaits publics. Dans un monde où plane la menace
du chaos, la poursuite d’activités lucratives et
l’accumulation de richesses, dont la condition réside
dans la levée des interdits restreignant les
1 As relações entre democracia e economia
A Revolução Francesa significa, para as socieda-
des, a superação de sua regulação pela tradição, o que
produz o crescimento das incertezas nos grupos soci-
ais. Com a afirmação da universalidade dos princípios
de liberdade e igualdade, impõe-se a inquietude nas
capacidades humanas de evitar o confronto de todos
contra todos. Como guardar-se da fúria das paixões,
uma vez que as barreiras hierárquicas não garantem
mais a coexistência entre os diferentes corpos?
Essa interrogação oferece, como se sabe, uma
resposta de um alcance considerável: para proteger-
se da violência das paixões, importa dar mais espaço
ao interesse; essa motivação humana é portadora de
harmonia social já que o “doux comércio” opõe-se à
guerra (HIRSCHMAN, 1980). Desde a primeira me-
tade do século 19, a economia política propõe pacifi-
car a sociedade pela difusão da economia de merca-
do. A perseguição do interesse pessoal, que, progres-
sivamente, confunde-se com o interesse material, é
uma atividade civilizada e pacífica que autoriza uma
resolução do problema de confiança posto por Hobbes
sem passar por uma autoridade despótica.
A definição de economia: uma questão
conflituosa
A entrada na modernidade democrática, se, por
um lado, institui um tipo de relações baseado na li-
berdade e igualdade, não resolve, por outro lado, a
questão da sua regulação. O mercado apresenta-se
neste contexto como um princípio de coordenação,
podendo contribuir com a sua resolução. Para conter
a força destrutiva das paixões, numa coletividade sem
protetor exterior ou transcendente, o princípio do
mercado está dotado de uma virtude dada a “inocên-
cia e à douceur do mercado e do enriquecimento”.
A esfera econômica mercantil toma uma importân-
cia crescente na organização das relações entre in-
divíduos livres.
As relações mercantis parecem susceptíveis de
frear a violência inerente às relações humanas e o
comportamento ditado pelo interesse econômico está
dotado de um potencial pacificador num processo
“que acabará esvaziando a noção de interesse de
qualquer outra conotação que não seja a econômi-
ca” (HIRSCHMAN, 1980). A partir do século 19, as
sociedades democráticas confiam uma parte das suas
regulações ao mercado, levado por uma mão invisí-
vel, que fabrica o justo sem preocupar-se pela justi-
ça, transformando os vícios privados em benefícios
públicos. Num mundo ameaçado pelo caos, a perse-
guição de atividades lucrativas e a acumulação de
riquezas, cuja condição reside na retirada das proibi-
ções, restringindo os funcionamentos do mercado,
parecem fornecer um fundamento realista a uma or-

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT