São Paulo empresarial: responsabilidade econômico-social

AutorCarlos Aurélio Mota de Souza
Páginas285-303
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São Paulo empresarial:
responsabilidade econômico-social
Sumário: I – Evolução histórica: do Império agrário à República indus-
trial. 1. Crescimento industrial, urbanização e exclusão social. 2. Como
surgiram os primeiros grandes empreendedores? 3. Getúlio Vargas
(1937-1945): o desenvolvimento planejado. 4. A era Kubitschek e a con-
solidação industrial (1950-1990). II – A responsabilidade econômico-
social das empresas. 5. A visão jurídica da empresa. 6. A empresa na
visão econômica. 7. A função social como responsabilidade empresa-
rial. 8. Conclusões prévias. 9. O lucro como propriedade e com função
social. 10. É possível um novo paradigma empresarial para o século 21?
Conclusões. Bibliograa.
I – Evolução histórica: do império agrário à república
industrial
A economia colonial e imperial do Brasil sustentou-se no regime escra-
vocrata; no Sudeste, sobretudo em São Paulo, a agricultura extensiva gerou a
elite econômica dos “barões do café”, que apoiavam o Império, até a Lei Áurea.
Foi na Província de São Paulo, precisamente em Itu, que despontou,
em 1870, o Manifesto Republicano. E à exceção dos primeiros Presidentes mi-
litares, muitos tinham raízes paulistas e agrárias, a denominada “República
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direitos humanos, ética e justiça
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dos Bacharéis”. O crack da Bolsa em 29241 e a Revolução de 30 capitalizaram o
descontentamento dos demais Estados. A política getulista de queima do café
favoreceu a industrialização do país, com a instalação de usinas hidroelétricas,
siderúrgicas, e políticas nacionalistas, a exemplo do “petróleo é nosso.
1. Crescimento industrial, urbanização e exclusão social
Em São Paulo, desde o início do século 20, as indústrias já haviam to-
mado impulso com as fortes correntes imigratórias: algumas levas se dirigiam
às lavouras de café no interior do Estado, mas muitas se instalavam na Capi-
tal, dando origem a indústrias têxteis e manufatureiras, em especial na Zona
Leste, e ao comércio em larga escala, na zona cerealista do Mercado.Com a 2ª
Guerra Mundial foram interrompidos os uxos de trabalhadores estrangeiros
e grandes levas de migrantes, do interior paulista, mas também dos demais
Estados, foram atraídas para a Capital. A cidade cresce com mineiros, baianos,
nordestinos em geral, mão de obra utilizada na construção civil.
A urbe se desenvolve rapidamente com o assentamento de novos bairros
e grandes edicações centrais na cidade. Desenvolvem-se os meios de trans-
porte urbanos, indispensáveis ao deslocamento dos operários até as fábricas e
aos centros comerciais. A vocação econômica de São Paulo vai, assim, se trans-
mudando da agricultura para a indústria e comércio, de interiorana a urbana,
de brasileira a multirracial.
A integração dos estrangeiros nas atividades econômicas é fator decisivo
no surgimento das grandes empresas, como a pioneira e paradigmática Indús-
trias Reunidas Francisco Matarazzo, o grande império industrial dos primei-
ros imigrantes.A partir da década de 50, o desenvolvimento econômico por
meio da industrialização e da construção civil gerou a acumulação de riquezas,
simultaneamente à formação de grandes bolsões de pobreza, demonstrados
no crescimento de favelas, loteamentos desordenados, ocupação de áreas de
preservação ambiental, etc.
241 Em 1929, ano da quebra da Bolsa de Nova York, para a nossa “República do Café”, juntaram-se
dois componentes críticos: a superprodução e a queda dos preços no mercado internacional. Os
estoques do grão eram elevadíssimos e a solução do governo foi a queima dos estoques para for-
çar a alta dos preços. Em Santos, mais de 71 milhões de sacas de café foram incineradas durante
vários dias, quantidade que daria para atender o consumo mundial por três anos. Foi Getúlio
Vargas, então Ministro da Fazenda, quem ordenou a queima.

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