Rompendo o Silêncio: A Importância da Resistência das Mulheres Contra as Ditaduras no Brasil e na Argentina

AutorDoglas Cesar Lucas, Carla Dóro de Oliveira
Páginas157-184
Rev. direitos fundam. democ., v. 25, n. 1 p. 157-184, jan./abr. 2020.
DOI: 10.25192/issn.1982-0496.rdfd.v25i11456
ISSN 1982-0496
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
ROMPENDO O SILÊNCIO: A IMPORTÂNCIA DA RESISTÊNCIA DAS MULHERES
CONTRA AS DITADURAS NO BRASIL E NA ARGENTINA
BREAKING THE SILENCE: THE IMPORTANCE OF WOMEN’S RESISTANCE
AGAINST THE DICTATORSHIPS IN BRAZIL AND ARGENTINA
Doglas Cesar Lucas
Pós-Doutorado em Direito pela Università Degli Studi di Roma Tre (2012), Doutorado
em Direito pela UNISINOS (2008), Mestrado em Direito pela Universidade Federal de
Santa Catarina (2001), Graduação em Direito pela Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ (1998). Professor dos Cursos de Graduação,
Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul - Unijui e professor no Curso de direito da Faculdade Cnec Santo
Ângelo.
Carla Doró de Oliveira
Mestrado em Direitos Humanos pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul UNIJUI (2017), Graduação em Direiro pelo Instituto Cenecista de
Ensino Superior de Santo Ângelo IESA (2015).
Resumo
A história das mulheres é, não raras vezes, esquecida e
desvalorizada, ainda mais quando se fala nos regimes ditatoriais
vividos pelos países do Cone Sul. Assim, dando especial foco para o
Movimento Feminino pela Anistia (MFA) e para a associação das
Madres e Abuelas de Plaza de Mayo, este trabalho se propõe a
analisar a participação das mulheres na organização de grupos civis
de proteção aos direitos humanos durante o período autoritário vivido
no Brasil e na Argentina. Para mais, procurou-se entender como tais
organizações surgiram, como atuaram e quais foram as
consequências dessa mobilização. Na metodologia utilizou-se
pesquisa bibliográfica, numa abordagem histórico-dialética,
abrangendo a leitura e análise de obras doutrinárias e artigos. Os
resultados do trabalho apontam que a participação das mulheres na
luta contra repressão foi inovadora, pois ia de encontro ao que se
esperava da mulher nas décadas de 1960 e 1970. Apesar da pouca
importância dada pelas narrativas históricas para esses grupos de
mulheres, observa-se que sua atuação foi de fundamental
importância para a superação do regime autoritário nos países
estudados.
Palavras-chave: Direitos Humanos. Ditadura Militar. Mulheres.
Resistência.
ROMPENDO O SILÊNCIO: A IMPORTÂNCIA DA RESISTÊNCIA...
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Revista de Direitos Fundamentais & Democracia, Curitiba, v. 25, n. 1, p. 157-184, jan./abr., de 2020.
Abstract
Women’s history is frequently forgotten and devalued, and it happens
more often when we are studying dictatorships that occurred in Latin
American countries. Thus, with special focus on the Feminine
Movement for Amnesty (MFA) and on the Madres e Abuelas de Plaza
de Mayo, this study aims to analyze women’s participation in the
organization of human rights protection’s civil groups during the
dictatorial period that took place in Brazil and in Argentina.
Furthermore, this research tries to understand how those groups
emerged, how they acted and what the consequences of their
mobilization were. In the methodology, we used bibliographic
research, in a qualitative approach, including the reading and analysis
of doctrinal works and articles. Our results indicate that the women’s
participation on the opposition was innovative, because it went
against how society expected women to act in that period. Although
the little importance given by the historical narratives to those groups
of women, we observed that their actuation was extremely important
to overcome the dictatorship in the countries in analysis.
Key-words: Dictatorship; Human Rights; Resistance; Women.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Muito se conhece da história das ditaduras vividas pelos países latino-
americanos: como e por que começaram, de que forma se desenvolveram, quem
eram seus heróis e seus vilões. Ouvimos falar de João Goulart, de Marighella, de
Castello Branco e de Costa e Silva. No entanto, pouco se sabe sobre as mulheres que
ajudaram a escrever a história do país. Quem foram, como agiram, por que lutaram e
onde chegaram: esses são alguns dos questionamentos que nos moveram a pensar
sobre a participação das mulheres na resistência à ditadura no Brasil e na Argentina.
Não se duvida da importância dos movimentos sociais na mobilização da
população em prol de um objetivo comum. Sabemos que a anistia, em nosso país, foi
uma bandeira erguida, primeiramente, pelo povo e, então, adotada pelo governo
embora não nos moldes inicialmente pretendidos pela sociedade. Entretanto, embora
o pontapé inicial da luta pela anistia tenha sido dado por mulheres, esse não é
considerado um fato relevante nas narrativas históricas, as quais se limitam a citar a
participação feminina no soerguimento dessa bandeira.
No país vizinho, a mesma tendência pode ser observada: foram as mulheres
mães, avós, esposas de desaparecidos políticos que iniciaram a oposição ao
regime militar vivido na Argentina. O movimento, hoje conhecido como Madres e
Abuelas de Plaza de Mayo, todavia, conta com um prestígio consideravelmente maior

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