Rio são Francisco: tragédia à vista?

AutorCadernos do Ceas
Páginas1-2
APRESENTAÇÃO
RIO SÃO FRANCISCO: TRAGÉDIA À VISTA?
Esta edição especial dos Cadernos do CEAS está sendo finalizada num
momento crítico. Deixemos que o frei Dom Luiz Flávio Cappio, bispo da
diocese de Barra (BA), o diga em suas próprias palavras, em carta do dia 27 de
novembro: “No dia 6 de outubro de 2005, em Cabrobó (PE), assumimos juntos
[o frei e o presidente Lula] um compromisso: o de suspender o processo de
Transposição de Águas do Rio São Francisco e iniciar um amplo diálogo,
governo e sociedade civil brasileira, na busca de alternativas para o
desenvolvimento sustentável para todo o Semi-Árido. Diante disso, suspendi o
jejum e acreditei no pacto e no entendimento. Dois anos se passaram, o
diálogo foi apenas iniciado e logo interrompido”. Agora , “não existe outra
alternativa”, pois a resposta do presidente foi “o início das obras de
Transposição pelo exército brasileiro”. Portanto, retomo o meu jejum e oração.
E só será suspenso com a retirada do exército das obras do Eixo Norte e do
Eixo Leste e o arquivamento definitivo do Projeto de Transposição de Águas do
Rio São Francisco”.
Diferentemente do primeiro período de jejum e oração feito pelo frei em 2005,
ambas as partes assumem que não há diálogo possível; apenas a suspensão
do Projeto de Transposição do Rio ou a morte do frei parecem ser as
alternativas para o fim do impasse. O ministro da Integração Nacional, Geddel
Vieira Lima, declara publicamente que não aceita chantagens; o presidente
também diz que prefere estar com os 12 milhões supostamente beneficiados
pela Transposição que com o frei.
Isto é tão-somente o reflexo da postura que o governo federal tem adotado na
questão, pois, até o momento, sua argumentação técnica em favor da
Transposição é baseada num só argumento subjacente: “quem é contra a
Transposição desconhece o projeto ou está de má fé”. O que se revela com
isso é a simples desqualificação política dos adversários; há uma torrente de
argumentos técnicos contra a Transposição, muito bem fundamentados, vários
deles apontando alternativas mais simples e baratas para resolver o problema
do abastecimento de água no Nordeste. Açudagem, redes de barragens,
captação de águas pluviais e mandalas, que são sistemas de irrigação circular
no qual um tanque de 30 mil litros é alimentado por uma cisterna ou açude e
em torno do qual são cultivados alimentos básicos como feijão, arroz,
mandioca, batata, hortaliças ou frutas. Todas estas soluções práticas para o
abastecimento de água no Nordeste são consideradas pelo governo federal
como ações a serem realizadas em paralelo à Transposição e não como
alternativas concretas a ela.
Nesta conjuntura, o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) e a Comissão
Pastoral da Terra (CPT), através desta edição especial dos Cadernos do
CEAS, apresentam textos que sejam capazes de romper as comportas que
vedam o fluxo de informações sobre a Transposição. Trazemos aqui reflexões
que analisam tal problemática em seus aspectos social, jurídico, ecológico e

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