Revista Barroco: o lugar de uma arte

AutorEvandro de Sousa
Páginas184-192
REVISTA BARROCO: O LUGAR DE UMA ARTE
(a catedral entre os unicórnios e elefantes rosa)
Evandro de Sousa1
“O movimento é a base de todo o devir”.
Paul Klee, Confissão Criadora.
A revista Barroco, fundada em 1969 pelo poeta e ensaísta mineiro
Affonso Ávila, nasce com a intenção de cumprir o valor de uma “ciência” que
abarcasse o fenômeno/arte Barroca: a barrocologia 2. Ao propor isto na
apresentação da primeira edição da revista, Ávila ainda enuncia que a revista
não se quer meramente documental e erudita, mas quer se situar em uma
“atualidade crítica” 3, não cerceando a matéria barroca a um período exclusivo,
mas impor uma leitura em um outro contexto: o mineiro. Impõe assim um olhar
do barroco enquanto fenômeno universal, para assim compreendê-lo em seu
contexto brasileiro, em suas matrizes e desdobramentos.
Se Deleuze, n’A Dobra, ao ler o barroco como função operatória (a
potência da dobra), fala do estranhamento de negar existência ao barroco
(“[...]como se nega a dos unicórnios e elefantes rosa [...]4) afirmando sua
condição de existência no manejo do conceito, o conceito proposto como saída
para a revista não é diretamente o barroco deleuziano, não responde ao
1 Bacharelando da oitava fase do curso de Letras – Língua e Literaturas Portuguesas, da
Universidade Federal de Santa Catarina.
2 BARROCO. nº1, Belo Horizonte, 1969, p. 6- 7.
3 Há que se pensar que a atualidade crítica dos periódicos responde imediatamente as revistas
de esquerda dos anos 60-70 entre elas, por exemplo, a Civilização Brasileira (1965). Revistas
cujo propósito é evidentemente de uma política cultural, que no caso da Barroco não é tão
claro assim. No caso, pode-se pensar que a ausência do marxismo ou de uma política mais
explícita seja devido ao fato de estarmos em pleno regime militar. Assim, sendo a questão que
persiste é a insistência em um modelo pedagógico-propedêutico de abordagem
monumentalista que perfaz 36 anos sem grandes mudanças teóricas. O olhar sobre o barroco,
sobre Minas Gerais, sobre o Colonial e os fundamentos do Nacional se mantém, como se o
objeto em questão fosse uma estrutura extática sobre a qual já se procedeu a dissecação (este
cadáver sobre o qual o Dr. Tulpe, de Rembrandt, se debruça é um cadáver já enquadradado
nas taxionomias que sua “imobilidade” engendrou). Assim, pressupondo-se que neste jogo o
conceito aponte os monumentos históricos, o movimento político da revista é a saída em
defesa destas raízes. Retornando a alegoria deste cadáver seria possível enfatizar, com a
Barroco, a necessidade de levar estas múmias ao museu. É preciso salvar Aleijadinho e as
Igrejas de Sabará, uma vez que a “profanação” destes monumentos seria a conseqüente perda
do ponto nodal em que se reconheceria a origem do Nacional.
4 DELEUZE, G. A dobra: Leibniz e o Barroco. trad. Luiz B. L. Orlandi. Campinas: Papirus
Editora, 1991, p. 64.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT