Revisão bibliográfica

AutorVera Lucia de Campos Corrêa Shebalj
Páginas43-67

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2.1. Habitação saudável

Habitação saudável considera as relações entre a saúde humana, a saúde ambiental e os locais de moradia ou trabalho (BUENO, 1995). Muitas vezes, os distúrbios de saúde são unicamente devido a certos elementos do nosso habitat que agem sobre nosso físico e nossa psique (ALTENBACH e LEGRAIS, 1995).

A acústica, como parte deste todo, não é diferente. A melhor proteção de que se conhece contra o ruído é a sua redução1, o que demanda uma grande tarefa de profunda modificação na educação social.

A transmissão dos ruídos origina-se, basicamente, por duas vias: (1) aérea, em que a onda sonora encaminha-se diretamente ou indiretamente da fonte para o receptor, pela reflexão. Estas ondas atravessam paredes, lajes e são em maior ou menor medida refletidas e são absorvidas, dependendo do material empregado na construção e seus revestimentos. (2) O ruído do impacto ou das tubulações é conduzido pelos corpos sólidos, pelas estruturas. Na Figura 2 estão ilustradas essas formas de propagação do ruído. Para se obter condições favoráveis, é necessário impedir a transmissão, por meio de uso de isolamentos ou a reflexão, com materiais de absorção.

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FIGURA 2 – Formas de Propagação de ruído

Fonte: Acústica y Sonido – Aislamiento (2014)

2.1.1. Adequação acústica dos ambientes

Adequar o ambiente acusticamente é dar melhores condições de audibilidade ao fim que se destina, corrigindo a reverberação e distribuindo melhor o som. Quando o som é refletido de forma reiterativa, tem-se a reverberação. Esta pode ser atenuada utilizando superfícies inclinadas ou materiais absorventes (DONOSO, 2015).

Isto está fundamentado na correção da reverberação interna do ambiente, para melhorar a distribuição sonora, na qualidade acústica do espaço, e na correção do isolamento acústico das partições e elementos, a fim de barrar a entrada de ruídos indesejados2.

Este fato reforça a necessidade de projeto acústico apropriado ao uso de cada ambiente e a necessidade de adequação com tratamentos corretos para redução do ruído.

O som produzido em um determinado ambiente não permanece exclusivamente nesse espaço, mas se propaga por toda a edificação por algum caminho disponível e pode chegar a outros ambientes como ruído3.

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Teoricamente, materiais infinitamente rígidos com capacidade máxima de reflexão terão coeficientes de absorção igual a zero. Por sua vez, materiais porosos, quando submetidos à ação de uma onda sonora, vibram, absorvendo parte da energia incidente e transformando-a em calor. Mate-riais porosos costumam ter coeficientes de absorção elevados, pois os poros tendem a dissipar a energia sonora das ondas, transformando-a em energia térmica. A absorção sonora de um material depende ainda da forma como este é utilizado, ou seja, sua geometria e suas dimensões dentro do ambiente são determinantes para sua capacidade de absorção (FERREIRA, 2006).

A isolação acústica das paredes maciças é regida pela Lei das Massas, ou seja, quanto mais pesada uma parede, maior será sua isolação acústica. Por exemplo, a partir de 120 kg/m

², ao se dobrar a massa da pare-de, ocorre aumento de 6 dB na isolação (CBIC, 2013).

As fontes de ruídos devem ser tratadas, durante a elaboração dos projetos, segundo etapas de implantação, definição de materiais e de detalhes construtivos (ZANIN, 2002).

Na Tabela 5 está apresentado o coeficiente de absorção de alguns tipos de materiais e sistemas, para a obtenção de isolamento acústico (IA) obtido em laboratório, a partir de diferentes fontes.

TABELA 5 – Materiais absorventes

Fonte: adaptado do livro Acústica Arquitetônica – Carvalho (2010)

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2.1.2. Construção tradicional dos sistemas de vedação verticais

As paredes são elementos arquitetônicos que têm a função de dividir ou vedar espaços. Nas fachadas, além da qualidade de sustento, as paredes devem oferecer isolamento térmico e acústico suficiente. Entretanto, nenhuma parede se comporta como um obstáculo perfeito. Sob a ação das ondas de pressão, a parede vibra e transmite a energia sonora incidente (SCHULZ, 2008).

Os processos construtivos das paredes e divisórias têm mudado e muitos novos materiais e inovações estão gradativamente entrando ao mercado. Nesse contexto, há muito a ser avaliado do ponto de vista acústico de desempenho dos materiais e dos sistemas de vedação.

2.1.3. Alguns materiais isolantes disponíveis

O uso de materiais naturais como aglomerados de cortiça e fibras e de fácil implementação como par-terre são alternativas bastante positivas. A cortiça, que é uma matéria-prima de origem vegetal da casca (súber ) dos sobreiros ( Quercus suber ), é bastante utilizada em isolamentos acústicos e térmicos4.

Outro material natural empregado é a vermiculita, nome geológico dado a um grupo de minerais laminares hidratados que são silicatos de alumínio-ferro-magnésio, expandidos por calor, com excelentes resultados acústicos e térmicos. Usado no preenchimento de câmaras de ar, e por ser derivado mineral, não é atacado por insetos ou roedores.5Um produto muito usado na Europa é a

Fibragglos torvalith , que é uma fibra longa mineralizada de madeira resinosa, envoltas em cimento, para isolamento térmico e correção acústica6.

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A Madeira Heraklith é uma placa de isolamento com lã e madeira. A Heraklith oferece uma ampla variedade de soluções de isolamento, especialmente em ambientes que estão localizados perto de fontes de ruído de maior intensidade. A estrutura da superfície aberta das placas proporciona boas propriedades de absorção de som.7

Uma empresa francesa, Isochanvre SARL , desenvolveu um método de cristalização da seiva de cânhamo em estado bruto. O material resultante, conhecido como Isochanvre ®, é misturado com a cal hidráulica e água para vinculá-los juntos, então embalado em madeira cofragem, deixando-se solidificar como o concreto. É fácil de trabalhar e requer menos habilidade do que a alvenaria comum. O tempo de construção é menor do que o tijolo comum, nenhuma cavidade é necessária e nem é uma membrana impermeável. Este material tem qualidade parecida com as fibras e feltros de madeira, a diferença está na vibração especial que se apresenta no cânhamo, com grandes qualidades de isolante térmico e acústico.8Considera-se um bom material o isopor que é feito do poliestireno, no qual são injetados gases, criando espaço vazio entre as moléculas. Por isso o nome técnico para o isopor é poliestireno expandido (EPS). É devido a essa expansão com gases que o isopor fica com a estrutura leve e volumosa, semelhante a uma “espuma endurecida”.9Os fardos de palha são utilizados há muito tempo na construção civil, mas caíram em desuso, após a popularização do concreto. A palha é um elemento que permite uma construção ecologicamente correta, sendo um ótimo isolante térmico e acústico, além de ser viável economicamente. Analisando suas vantagens, tem um baixo custo, boa durabilidade, excelente isolamento acústico e térmico, uma técnica de construção ecológica, resistente ao fogo (após a parede ser

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rebocada). Entretanto, possui grande fragilidade à umidade e uma limitação vertical.10O vidro também é muito usado e garante leveza aos ambientes. O cristal duplo ou triplo nas janelas está se impondo como grande aliado térmico e acústico. No envidraçamento duplo, instalam-se duas chapas de vidro paralelas, separadas por uma camada vedada de ar. Isso faz com que se reduzam as transmissões térmica e sonora no ambiente.11Lã de rocha também é muito utilizada. Este material é fabricado por um processo de fundição e fiação de rochas vulcânicas basálticas especiais e outros minerais. Pode ser usada tanto como isolante térmico como acústico. Encontrada, normalmente, em forma de placa ou manta, este material não retém água, por causa de sua estrutura não capilar, e não passa por alterações diante de eventuais condensações. O produto apresenta vantagens como resistência ao fogo, bom custo/ benefício, boa absorção acústica, fácil manuseio, além de ser quimicamente neutro e não cancerígeno. O material pode ser aplicado de diversas formas, inclusive entre divisórias.12

2.1.4. Materiais desaconselháveis

Lã de vidro ou fibra de vidro, constantemente usado como isolante acústico com bom desempenho, em diversas aplicações e produtos, tem comprovado que seu uso em dutos de ar e em painéis fechados hermeticamente dispersa um grande número de partículas de vidro que, se respiradas, são depositadas nos alvéolos pulmonares e cria sérios transtornos respiratórios. Há ainda, entre os materiais isolantes, que têm alto nível de insalubridade, e que são desaconselháveis, as espumas de poliuretano, as resinas flexíveis compostas de fenol-aldeído

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(formofenólicas) e os produtos à base de policloreto de vinila, considerando aqui aspectos de isolamento dos poros, impedindo a respiração das paredes.

2.1.5. Caixilhos e esquadrias

As esquadrias e caixilhos são elementos de fechamento de vãos em edificações. A esquadria é o termo para a designação genérica de todos os sistemas de vedação de vãos com janelas, portas, persianas e venezianas, executados em materiais variados; o termo caixilho é usado para identificar toda a vedação de vãos por meio de portas e janelas (ZULIAN et al ., 2002). Existem várias normas associadas ao projeto, medição e desempenho de caixilhos para edificações:

TABELA 6 – Normas ABNT sobre caixilhos

Fonte: Catálogo Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT

Fatores importantes que devem ser...

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