RETRATAÇÕES DE GÊNERO NOS JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016

AutorRafael Marques Garcia, Alan Camargo Silva, Erik Giuseppe Barbosa Pereira
Páginas194-211
GÊNERO|Niterói|v.20|n.1|194 |2. sem.2019
RETRATAÇÕES DE GÊNERO NOS JOGOS OLÍMPICOS
RIO 20161
Rafael Marques Garcia2
Alan Camargo Silva3
Erik Giuseppe Barbosa Pereira4
Resumo: O objetivo deste estudo foi analisar as imagens exibidas nas principais agên-
cias internacionais de comunicação, mais precisamente como retrataram atletas
homens e mulheres. Para tanto, utilizamos uma metodologia descritiva e qualitativa
e a técnica de análise de imagens. Os resultados apontam tratamentos diferencia-
dos para homens e mulheres na esfera internacional, consolidando as desigualda-
des nas representações de gênero pelas lentes da mídia esportiva intercontinental.
Palavras-chave: Esporte; gênero; mídia; Jogos Olímpicos.
Abstract: The objective of our study was to analyze the images displayed in
the main news agencies, more precisely, how they portrayed men and wo-
men athletes. We used the descriptive and qualitative methods and the te-
chnique of image analysis. The results point out dierentiated treatments for
men and women in the international sphere, consolidating the inequalities in
gender representations by the lenses of the intercontinental sports media.
Keywords: Sport; gender; media; Olympic Games.
Introdução
Historicamente, na esfera esportiva, as modalidades são instituídas através
de mecanismos generificados que atuam como marcadores antagônicos para o
masculino e feminino, isto é, estabelecem papéis estereotipados ou identida-
des fixas que contrapõem homens e mulheres (GRESPAN e GOELLNER,
2014). Sob esta premissa, aqueles ou aquelas atletas que transgredem tais
atribuições tornam-se alvos de estigmas, preconceitos, discriminações e di-
versos tipos de violência não somente no interior do âmbito esportivo, mas
também dos veículos de comunicação.
1 Apoio: Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ.
2 Doutorando em Educação Física pelo PPGEF/UFRJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail: rafa.
mgarcia@hotmail.com.
3 Doutor em Saúde Coletiva pelo IESC/UFRJ. Secretaria Municipal de Educação. E-mail: alan.zip10@gmail.
com.
4 Doutor em Ciências do Exercício e do Esporte pela UERJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail:
egiuseppe@eefd.ufrj.br.
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O esporte é consagrado como local de reforço e reserva masculina e através
desta configuração valoriza o homem em detrimento da mulher (SABO, 2002).
É nesta atmosfera esportiva que a masculinidade é posta à prova, em uma ex-
tensão das pressões sócio-históricas e culturais às quais o homem está, por ve-
zes, resignado. Tal fato se agrava quando o ideal de masculinidade hegemônica
que concebe ou valoriza essencialmente a virilidade do homem (CONNELL,
1995) potencializa-se pela amplificação e disseminação na imprensa esportiva
(PEREIRA, 2015; ROMERO et. al., 2016).
Desde o século XIX, através da popularização do esporte, a atuação da mídia5
no âmbito esportivo destina espaço para notícias deste cunho em pequenas notas
espalhadas pelas páginas ou em sessões específicas sobre esportes nos jornais
de grande circulação (MELO, 2012). Ainda segundo este autor, a relação es-
tabelecida entre esporte e mídia revela-se favorável para ambos, uma vez que
a visibilidade das modalidades e o número de exemplares de jornais vendidos
aumentam quantitativamente. Aproveitando-se da grande repercussão que
o fenômeno “Esporte” desencadeia na sociedade, as propagandas se utilizam
desta atividade para divulgar produtos através de imagens que simbolizam a
prática de determinada modalidade esportiva (MELO, 2006). As fotos, nessa
circunstância, apresentam-se atreladas a valores culturais e históricos (AU-
MONT, 2008), apresentando uma série de mediações que as torna passíveis
de recriações a partir de experiências anteriores (LEITE, 1998).
Thompson (2012) afirma que todas essas nuances estão em constantes (re)
formulações, principalmente a partir do fenômeno de globalização. Para An-
dújar (2014) e Díez (2011), os meios de comunicação, assim como a escola e
a família, são instituições sociais e simbólicas que representam, constituem e
transmitem elementos de uma realidade.
Nos últimos anos, as discussões referentes às relações entre esporte, gênero
e mídia tornaram-se recorrentes em diversos cenários mundiais. Nesse contexto,
o presente trabalho trata especificamente de agências noticiais atuante nos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro realizado em 2016. Além de ter sido o pri-
meiro evento realizado na América Latina, foi marcado por inúmeros aconteci-
mentos e discussões associadas aos estereótipos de homens e mulheres dentro
e fora do meio esportivo (GARCIA e PEREIRA, 2017).
Os jornais CBN (2016), El País (2016), Globo.com (2016) e Uol (2016a)
afirmam que a edição foi a mais “gay-friendly6”, da diversidade e com número re-
corde de atletas declaradamente LGBT’s7. Somando-se a estas constatações, os
5 Através da leitura de Pozzi e Ribeiro (2005), entendemos que a Mídia se articula como principal fonte de
divulgação de notícias, imagens e expectativas, sendo alimentada pelas agências de notícias e declamada por mecanismos
veiculadores, como televisão, rádio, revista, jornal, website, etc.
6 Termo norte-americano utilizado para se referir a lugares públicos ou privados que são receptivos ao público
LGBT.
7 Sigla denominativa para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.
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