Restrição de liquidez para modelos de seleção de carteiras

AutorGabriel Matos Pereira - Leonardo Riegel Sant'Anna - Tiago Pascoal Filomena - João Luiz Becker
CargoUFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil - UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil - UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil - UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil
Rev. Bras. Finanças (Online), Rio de Janeiro, Vol. 13, No. 2, April 2015, pp. 288324
ISSN 1679-0731, ISSN online 1984-5146
©2015 Sociedade Brasileira de Finanças, under a Creative Commons Attribution 3.0 license -
http://creativecommons.org/licenses/by/3.0
Restrição de liquidez para modelos de
seleção de carteiras
(Liquidity constraint for portfolio selection models)
Gabriel Matos Pereira*
1
Leonardo Riegel Sant'Anna**
Tiago Pascoal Filomena***
João Luiz Becker****
Resumo:
A liquidez é um fator importante no âmbito da gestão de carteiras. Em 2012, no
Brasil, a CVM começou a exigir que instituições mantenham um controle da
liquidez de seus ativos/carteiras. O objetivo deste trabalho é incor porar a liquidez
de forma endógena a um modelo de seleção de carteiras visando a sua utilização
no mercado de capitais brasileiro. A restrição proposta considera questões
práticas de forma endógena: valor da carteira, volume monetário negociado,
percentual do to tal negociado máximo, prazo para liquidação e nível de
liquidação. Além de propor uma nova restrição para liquidez em problemas de
carteira, o modelo ainda apresenta uma aplicação no mercado brasileiro. Nessa
aplicação, verifica-se que os parâmetros escolhidos possuem influência nos
veis de liquidação da carteira.
Palavras-chave: seleção de carteiras, liquidez, restrição de liquidez, gestão de
portfólios.
Classificação JEL: G11, G29
Submetido em 18 de março de 2015. Reformulado em 21 de agosto de 2015. Aceito em
31 de agosto de 2015. Publicado on-line em 5 de novembro de 2015. O artigo foi
avaliado segundo o processo de duplo anonimato além de ser avaliado pelo editor.
Editor responsável: Newton Carneiro Affonso da Costa Jr.
*UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: gabrielmatos@gmail.com
**UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: lrsantanna@outlook.com
***UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: tpfilomena@ea.ufrgs.br
****UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: jlbecker@ea.ufrgs.br
Restrição de liquidez para modelos de seleção de carteiras
Revista Brasileira de Finanças (Online), Rio de Janeiro, Vol. 13, N. 2, April 2015 289
Abstract:
Liquidity is an important issue in portfolio management. In 2012, the Brazilian
market regulatory agency (CVM) started to require all banks a nd brokerages to
maintain liquidity control of their portfolios. This study presents a liquidity
constraint whic h is endogenously incorporated to portfolio optimization to
Brazilian Financial Institutions. The proposed constraint incorporates
endogenously some practical issues such as: portfolio value, monetary volume
traded, maximum percentage of monetary value, liquida tion term date and
liquidation level. This constrain i s applied to the Brazilian Stock Market. The
selected constraint parameters have high influence on the liquidity level of the
portfolio.
Keywords: portfolio management, liquidity, liquidity constraints.
1. Introdução
Ao se efetuar um investimento, trabalha-se com expectativas,
usando-se estimativas futuras sobre o benefício que a alocação de capital
em determinado investimento pode proporcionar ao investidor. É feita,
durante o processo de decisão, uma análise comparativa entre os
investimentos disponíveis ponderando elementos tanto referentes às suas
características como perspectivas futuras. Sendo assim, a análise de
investimentos, além de uma tarefa de comparação, também é uma tarefa
de análise individual de cada uma das opções disponíveis. Dentro do
escopo de análise, quatro atributos se destacam: o retorno esperado, o
risco potencial ao qual se estará exposto, o prazo que se estará disposto a
permanecer na posição e a possibilidade de saída da posição. Logo, a
análise de um investimento envolve basicamente a estimação de sua
rentabilidade, de seu grau de risco e de sua liquidez.
É comum que modelos de otimização de carteira considerem apenas
relações de risco e retorno (Markowitz, 1952; Fama e French, 1992).
Normalmente, modelos de otimização desconsideram a questão de
liquidez e possibilidade de um único agente afetar consideravelmente os
preços de mercado (Bank e Baum, 2004). A não observância de restrições
de liquidez pode trazer efeitos negativos para o investidor. Apesar de o
mercado, de certa forma, já precificar a liquidez do ativo (Amihud e
Mendelson, 1991), fato que foi também comprovado no mercado
brasileiro (Machado e Medeiros, 2011), o investidor pode se expor
desnecessariamente a riscos futuros se não considerar o impacto que a
liquidez dos ativos exerce durante a formação da carteira. Além disso, a
questão de liquidez e sua relevância são também tratados fora do campo
Pereira, G., Sant’Anna, L., Filomena, T., Becker, J.
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de otimização de carteiras, como fazem por exemplo Gourinchas e Parker
(2002) e Haliassos e Michaelides (2003), sobre liquidez no mercado de
imóveis e dinâmicas de consumo individual.
No Brasil, a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), autarquia
responsável por disciplinar, normalizar e fiscalizar a atuação dos diversos
integrantes do mercado, tem alertado nos últimos anos para a importância
do controle das ferramentas que os fundos utilizam para gerenciar a
liquidez. Em instrução n. 522 de 08/maio/2012 (CVM, 2012), a CVM
reformou as regras dos fundos de investimento, buscando dar mais
transparência ao investidor. A seção IV-B da referida instrução delibera
sobre o “gerenciamento do risco de liquidez”. Nessa seção, o Art. 65-B
dispõe que “o administrador deve adotar as políticas, práticas e controles
internos necessários para que a liquidez da carteira seja compatível com
os prazos previstos no regulamento para pagamento dos pedidos de
resgate e o cumprimento das obrigações”.
A penalização potencial à rentabilidade de um fundo/carteira em
caso de não haver tempo hábil para estruturar uma estratégia de vendas
de ativos que não impacte (ou impacte pouco) no preço e, em casos mais
drásticos, a impossibilidade de se desfazer desses ativos para honrar sua
responsabilidade frente aos quotistas, torna importante a consideração da
liquidez dos papéis ao se trabalhar com gestão de carteiras. A recente
ação imposta pela CVM, para forçar um aumento no controle do nível de
liquidez das carteiras, ratifica a importância da utilização desses controles
ao se trabalhar no atual mercado de capitais brasileiro.
O objetivo deste artigo é incorporar a liquidez de forma endógena a
um modelo de seleção de carteiras visando a sua utilização no mercado
de capitais brasileiro. O volume monetário negociado durante um
determinado período será a medida de liquidez utilizada para construção
do modelo. A restrição proposta considera questões práticas de forma
endógena: valor da carteira, volume monetário negociado, percentual do
total negociado máximo, prazo para liquidação e nível de liquidação.
Além de propor uma nova restrição para liquidez (inédita) em problemas
de carteira, o modelo é validado no mercado brasileiro. Na aplicação de
validação, verifica-se que os parâmetros escolhidos possuem influência
nos níveis de liquidação da carteira. Os níveis de liquidação também são
significativamente maiores quando comparados aos de carteiras obtidas
sem a restrição de liquidez. Também não se percebeu influencia no uso
da média móvel ou suavização exponencial simples para previsão futura
de liquidez diária.

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