Responsabilidade Individual e Ação Revolucionária: direito e moral em Lukács anterior a sua obra História e Consciência de Classe

AutorVitor Sartori
Páginas155-182
Recebido em: 31/05/2019
Revisado em: 16/03/2020
Aprovado em: 20/03/2020
http://dx.doi.org/10.5007/2177-7055.2020v43n84p155
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Responsabilidade Individual e Ação
Revolucionária: direito e moral em Lukács
anterior a sua obra História e Consciência de
Classe
Individual Responsability and Revolutionary Action: Law and moral in Lukács
before his work History and Class Consciousness
Vitor Bartoletti Sartori1
1Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
Resumo: Neste artigo, pretende-se tratar do
modo peculiar segundo o qual Lukács, em seus
escritos anteriores à obra História e consciência
de classe, trata da moral e do Direito. A crítica à
eticidade hegeliana leva o autor húngaro a uma
ênfase bastante grande na ação e na responsa-
bilidade individuais na mesma medida em que
haveria, de um lado, um abismo entre a ação
moral e a revolução e, de outro, uma unidade
imediata entre ambas. A partir disso, por meio
daquilo que o filósofo brasileiro José Chasin
chamou de análise imanente, será possível che-
gar à relação existente entre o direito e a mora-
lidade no momento da obra lukacsiana, aquele
de 1919.
Palavras-chave: Lukács. Moral. Direito. Revo-
lução. Pecado.
Abstract: We intend to deal with the peculiar
way in which Lukacs, in his writings which
would result in the essential of History and
class consciousness, deals with Morality and
Law. The criticism of Hegelian ethics leads the
Hungarian author to a rather great emphasis
on individual action and responsibility to the
extent that there would be, on the one hand,
an abyss between moral action and revolution,
on the other, an immediate unity between the
two. With what the brazilian philosopher José
Chasin called immanent analysis we will show
how morality and Law relate themselves at
Lukács´work of 1919.
Keywords: Lukács. Moral. Law. Revolution.
Sin.
156 Seqüência (Florianópolis), n. 84, p. 155-182, abr. 2020
Responsabilidade Individual e Ação Revolucionária: direito e moral em Lukács anterior
a sua obra História e Consciência de Classe
1 Introdução
O caminho de György Lukács em direção ao marxismo é, segun-
do o próprio autor, bastante tortuoso (LUKÁCS, 2010). Aqui, a partir da-
quilo que o filósofo brasileiro José Chasin chamou de análise imanente1,
procura-se explicitar os meandros desse percurso no que diz respeito ao
Direito e à moral, temas que estarão presentes durante toda a produção
do marxista húngaro (SARTORI, 2015). Ao abordar os escritos imediata-
mente anteriores à sua obra mais famosa, História e consciência de clas-
se, de 1923, pretende-se demonstrar a centralidade que tem o debate mo-
ral nesse período específico do autor húngaro. Os textos que têm como
centro Tática e ética, de 1919, mesmo que sejam fortemente marcados
pelo impacto da Primeira Guerra Mundial, da Revolução Russa e da en-
trada do marxista húngaro no Partido Comunista (OLDRINI, 2017), tra-
zem consigo uma concepção fortemente inspirada em Hegel e embebida
da questão da moralidade (algo que, como será apontado, não é comum
na filosofia inspirada no autor da Fenomenologia do espírito), tendo-se
uma contraposição muito marcante, de um lado, entre a moral e a ética
e, de outro, a coerção jurídica e a institucionalidade. Ou seja, aquilo que
fora tratado por Lenin em Quê fazer? (certa centralidade do partido po-
lítico) e que, em meio à Revolução alemã de 1918-1919, é retomado de
modo mais desenvolvido em Esquerdismo doença infantil do comunis-
mo, texto em que Lenin ataca vigorosamente Tática e ética, e passa longe
de constituir a principal preocupação de Lukács. Neste artigo, procura-se,
então, demostrar as implicações práticas e teóricas disso.
Assim, os textos que serão tratados aqui encontram-se no início da
produção marxista do autor húngaro. Portanto, antes de História e cons-
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toda a grade de vetores que o conformam, tanto positivos como negativos: o conjunto de
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encarada, de frente ou por vieses, iluminada ou obscurecida no movimento de produção
do para-nós que é elaborado pelo investigador, já que, no extremo e por absurdo, mesmo
se todo o observador fosse incapaz de entender o sentido das coisas e dos textos, os nexos
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