Resistencia: o caminho para o enfrentamento às diversas formas de violência que impactam a vida das mulheres negras

AutorValdenice José Raimundo
CargoUNICAP
Páginas75-91
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, n. 243, p. 75-90, jan./abr., 2018 | ISSN 2447-861X
RESISTENCIA: O CAMINHO PARA O ENFRENTAMENTO ÀS
DIVERSAS FORMAS DE VIOLÊNCIA QUE IMPACTAM A VIDA
DAS MULHERES NEGRAS
Resistance: the path to confront the various ways of violence that impact
the lives of black women
Valdenice José Raimundo (UNICAP)
Informações do artigo
Recebido em 18/03/2018
Aceito em 18/04/2018
doi>: 10.25247/2447-861X.2018.n243.p75-90
Resumo
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a resistência
das mulheres negras, numa perspectiva de gênero,
frente ao racismo e as demais violências a ele
associadas. Traz à tona as estratégias que foram e vêm
sendo historicamente utilizadas para o enfrentamento
às s ituações impostas às mu lheres negras, numa
sociedade organizada a partir das hierarquias dos povos
que constituíram o Brasil. Resulta de reflexões que
foram realizadas para a 16ª Semana da Mulher da
Unicap que aconteceu nos dias 05 a 09 de março de
2018. A reflexão p rocede ainda de uma caminhada
orientada pela vivência, pela observação e pelas leituras
bibliográficas que levam em conta as experiências
concretas das mulheres negras brasileiras. É válido
salientar que essas leituras se inserem numa perspectiva
que dialoga com a realidade dessas mulheres e não
escamoteiam os impactos da desigualdade racial em
suas vidas. É uma leitura que considera que o caminho
trilhado até aqui resulta em conquistas políticas, legais e
de fortalecimento. Este artigo se somará as reflexões
teóricas existentes, potencializando o debate que recusa
todas as formas de opressão, exploração e
discriminação.
Palavras-Chave: Gênero. Racismo. Violência.
Resistência.
Abstract
This article aims to cause a reflection on the resistance
of black women, from a gender perspective, before
racism and other violence associated with it. It brings to
the surface the strategies that have been and are being
historically used to confront the situations imposed on
black women in a society organized from the hierarchies
of people who constituted Braz il. It is the result of
reflections that were elaborated for the 16th Women's
Week of Unicap (Catholic University of Pernambuco) held
from March 05 to March 09, 2018. The reflection also
comes from a journey guided by the experience,
observation and bibliographical readings that take into
consideration the experiences of Brazilian black women.
It is important to mention th at these readings are
included in a perspective that talks to the reality of these
women and does not erase the impacts of racial
inequality in their lives. This reading considers that the
path taken so far has resulted in political, legal and
strengthening achievements. This article will add to the
existing theoretical reflections, empowering the debate
that rejects all forms of oppression, exploitation and
discrimination.
Keywords: Gender. Racism. Violence. Resistance.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, n. 243, p. 75-90, jan./abr., 2018 | ISSN 2447-861X
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Resistencia: o caminho para o enfrentamento às diversas formas de violência... | Valdenice José Raimundo
Introdução
Este artigo insere-se no campo dos estudos sobre a luta histórica das mulheres negras
no Brasil. Tem por objetivo construir aproximações teóricas e reflexivas acerca do racismo
entendendo-o como uma manifestação da violência na vida dessas mulheres, apontando a
resistência enquanto estratégia de enfrentamento às diversas violências resultantes do
racismo.
Dessa forma, este e studo orienta-se pelo seguinte pressuposto: o racismo é uma
manifestação da violência e sua manutenção é garantida historicamente na realidade
brasileira. Assim, ao se observarem as condições de vida e oportunidade das mulheres
negras, supõe-se que não se pode deixar de enfrentar teórica e criticamente a questão das
diversas formas de violência que as atinge e que estão associadas ao racismo.
Contribuir com os estud os que dão visibilidade às lutas das mulheres negras,
enquanto sujeitos políticos, é deixar claro que essas mulheres nunc a estiveram à parte da
história, nunca reverenciaram submissamente seus algozes e registraram na história seus
esforços de busca pela emancipação de toda população negra.
Esses registros históricos, não orientados por uma perspectiva da história escrita pelo
branco dominador, mas de uma perspectiva dos que resistem, têm encorajado, direcionado
e, sobretudo, despertado outras mulheres a entenderem essas contribuições e continuarem
na luta, que teve início no mome nto que o/a primeiro/a negro/a foi capturado no continente
africano e trazido/a em condições subumanas para o Brasil. Concordando com Werneck
(2010) os nossos passos de luta e resistência vêm de longe.
A luta tem sido forjada tendo como horizonte a valorização da cultura, da religião, dos
nossos corpos, da nossa capacid ade intelectual. Para a autora acima mencionada, as
mulheres negras desenvolvem suas estratégias cotidianas de luta em condições
profundamente desvantajosas em diferentes esferas, o que impõe limites para pensar e
organizar estratégias capazes de recolocar e valorizar nosso papel de agentes importantes
na constituição do tecido social e de projetos de transformação WERNECK, 2010, p. 8).
Contudo para além das dificuldades impostas pela dominação ocidental
eurocêntrica ao longo dos séculos de escravidão, expropriação colonial e da moder nidade
racializada e racista em que vivemos WERNECK, 2010, p.4), as mulheres negras vão-se

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