A resiliência das mulheres que sofreram violência doméstica: uma revisão

AutorPatricia Andrea Sulsbach
CargoMestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil
Páginas231-249
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2018v15n1p111
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.1, p.111-xx Jan.-Abr. 2018
A RESILIÊNCIA DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA:
UMA REVISÃO
Patricia Andrea Sulsbach
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Resumo:
Na produção científica sobre violência contra a mulher inclui-se estudos sobre como
mulheres vítimas da violência doméstica enfrentam essa situação. Desta forma,
pretendeu-se conhecer o que está sendo propagado em revistas nacionais e
internacionais sobre o processo de resiliência no cotidiano dessas mulheres.
Definiram-se como critérios de inclusão: artigos publicados nos últimos cinco anos,
disponíveis online integralmente e de abordagem qualitativa. Foram encontrados oito
artigos pelo portal de serviços PubMed e bases de dados e portais da Biblioteca Virtual
em Saúde entre janeiro a novembro de 2016. Constatou-se que algumas mulheres
sofrem caladas pelos abusos cometidos dentro de casa, enquanto outras enfrentam a
violência sozinhas ou com ajuda de amigos, familiares ou grupos de apoio social.
Mesmo assim, descrédito nestes serviços por parte das mulheres. Existe
necessidade de incremento de estudos em parceria com serviços de apoio às
mulheres que sofreram violência doméstica e ampliação das discussões que
envolvem a responsabilidade de cada um por seu território.
Palavras-chave: Resiliência Psicológica. Violência Doméstica. Adaptação
Psicológica. Acontecimentos que Mudam a Vida. Violência contra a Mulher.
1 INTRODUÇÃO
O uso do termo gênero visa sublinhar o caráter social das distinções fundadas
sobre o sexo embora, etimologicamente, se refira à condição orgânica que distingue
o macho da fêmea. Do ponto de vista sociológico, gênero se refere a um dos códigos
de conduta que regem a organização social das relações humanas. Ou seja, o gênero
é o modo como as culturas interpretam e organizam a diferença sexual entre homens
e mulheres A sua estrutura é muito mais complexa do que as divulgadas dicotomias
homem-mulher (RABELO, 2010).
Ser objeto de violência pelo fato de ser mulher, marcada socialmente pelo signo
da subalternidade, é um processo social que deve ser reconhecido como uma violação
de direitos e transformado. Uma mulher violentada aponta para um problema social
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Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
Enfermeira. E-mail: patricia.sulsbach@hotmail.com
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R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.1, p.111-129 Jan.-Abr. 2018
que afeta homens e mulheres, pois afirma o não reconhecimento da alteridade,
pressuposto da condição humana. Tratar a mulher com indiferença e insensibilidade
é ser conivente e participar deste processo. (VILLELA et al., 2011)
No ambiente doméstico, a violência contra a mulher é qualquer atitude ou
omissão que pode causar morte, lesão, sofrimento sexual ou psicológico e pode ser
praticada por pessoas com ou sem vínculo familiar. É um fenômeno multifacetado e
afeta a sociedade como um todo. Essa experiência traumática provoca
transformações no modo desta mulher ser e estar do mundo. Este tipo de violência
assume certas características particulares. Por proceder de questões que envolvem
as relações de gênero, na grande maioria dos casos, o agressor é alguém do sexo
masculino, com quem a mulher, contraditoriamente, compartilha sentimentos, ideias
e tem vínculo familiar. Pode ser seu companheiro ou cônjuge atual ou anterior
(GUEDES E FONSECA, 2011; LABRONICI, 2012).
No ambiente familiar deveriam prevalecer a segurança, o equilíbrio, a
afetividade, a empatia, a cumplicidade. Porém, quando há violência, há uma relação
de sujeição, de dominação que possibilita manipular ou anular a outra pessoa do
convívio. A manipulação pode se manifestar com o objetivo de instalar o poder, com
o manipulador impondo sua vontade e comprometendo a qualidade da relação
(LABRONICI, 2012).
As consequências para as mulheres em relacionamentos violentos são
distúrbios do sono e repouso, desgaste físico, fadiga, constipação, ora emagrecimento
ora obesidade, dores pelo corpo, síndrome do pânico, consumo de medicamentos em
excesso, principalmente antibióticos e antiinflamatórios. Também são consequências
para essas mulheres a tristeza, o desânimo, a solidão, o estresse, o ódio, o sentimento
de inutilidade, a irritabilidade, a dificuldade de relacionamento (NETTO et al., 2014).
Um estudo feito na África do Sul mostrou que entre as fatalidades ocorridas com
mulheres vítimas de seus parceiros são o femicídio, suicídio, mortalidade maternal e
fetal, aborto, AIDS. Consequências físicas incluem queimaduras, doenças crônicas,
problemas com audição, visão e convulsões. Consequências mentais são depressão,
ansiedade, distúrbios alimentares, uso de substâncias psicoativas (JOYNER e MASH,
2014).
A violência doméstica enfraquece o poder em si mesma e isso significa que
quando uma mulher vivencia esta situação, suas crenças em normas internalizadas

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