Republicanismo e cristianismo: dilemas de uma relação problemática

AutorGleyton Trindade, Sandro Cerveira
CargoProfessor Adjunto de Ciência Política da Universidade Federal de Alfenas (MG), doutor em Ciência Política (UFMG). Pesquisador do Cepolis (Unifal-MG) e do Cerbras (UFMG)/Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade Federal de Alfenas (MG), doutor em Ciência Política (UFMG). Pesquisador do Cepolis (Unifal-MG) e do CEL (UFMG)
Páginas204-228
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2020v19n44p204
204204 – 228
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Republicanismo e
cristianismo: dilemas de
uma relação problemática1
Gleyton Trindade2
Sandro Cerveira3
Resumo
Autores como Pocock, Skinner e Pettit têm revalorizado o republicanismo como tradição política
fundamental na constituição do mundo moderno, em contraste com a hegemonia da tradição
liberal. Este trabalho pretende analisar aquela que tem sido caracterizada como uma relação das mais
problemáticas e desafiadoras para os republicanos: a relação entre republicanismo e cristianismo.
Tomando como fio condutor a análise do debate entre Black e Nederman, argumentamos que
a dificuldade na análise das relações entre republicanismo e cristianismo deriva das próprias
dificuldades do projeto neorrepublicano em delimitar o republicanismo como tradição política
específica. A superação de tais dilemas envolveria uma melhor qualificação da tradição republicana,
incluindo os temas da comunidade política como “comunidade universal”, uma concepção não
instrumental da vida pública e o reconhecimento de que a concepção da liberdade como não
dominação implica que as instituições republicanas promovem determinados valores.
Palavras-chave: Republicanismo. Cristianismo. Política.
O pensamento político contemporâneo tem sido decisivamente
marcado pelos esforços de autores como Pocock (1975), Skinner (1996)
1 Versão preliminar deste trabalho foi apresentada na área temática de Teoria Política no 10º Encontro da Asso-
ciação Brasileira de Ciência Política, ocorrido em Belo Horizonte de 30 de agosto a 02 de setembro de 2016.
Os autores agradecem as observações e sugestões dos participantes da área temática, em especial aos seus
organizadores.
2 Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade Federal de Alfenas (MG), doutor em Ciência Política
(UFMG). Pesquisador do Cepolis (Unifal-MG) e do Cerbras (UFMG). E-mail: gleytontrindade@hotmail.com.
3 Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade Federal de Alfenas (MG), doutor em Ciência Política
(UFMG). Pesquisador do Cepolis (Unifal-MG) e do CEL (UFMG). E-mail: sandro.cerveira@unifal-mg.edu.br.
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 19 - Nº 44 - Jan./Abr. de 2020
205204 – 228
e Pettit (1997) em revalorizar o republicanismo como tradição política
fundamental na constituição do mundo moderno, em contraste com a
hegemonia da tradição liberal. Especialmente em relação ao conceito de li-
berdade, boa parte da reexão contemporânea no campo da teoria política
tem se dedicado a compreender as possibilidades e os limites de uma con-
cepção republicana de liberdade heuristicamente mais rica que o conceito
liberal, desencadeando um amplo debate sobre os fundamentos do que
constituiria a tradição republicana, do liberalismo em sua especicidade e
da validade da compreensão da formação do pensamento político moder-
no a partir da oposição entre republicanismo e liberalismo. Sem negar a
importância desse dissenso, já bastante estabelecido entre republicanismo
e liberalismo, o presente trabalho pretende analisar aquela que poderia ser
caracterizada como uma relação das mais problemáticas e desaadoras para
os republicanos: a relação entre republicanismo e cristianismo.
De maneira geral, a crítica dos estudiosos da tradição cristã seria ende-
reçada à suposta concepção neorrepublicana de que o republicanismo do
início da modernidade teria se desenvolvido separadamente e, até mesmo,
em oposição à tradição cristã, sendo esta caracterizada a partir da sua a-
nidade natural com a monarquia hereditária em suas diferentes variantes.
Em nome de uma concepção mais alargada das possíveis relações entre
republicanismo e cristianismo, desenrolou-se, nas páginas da American Po-
litical Science Review, o debate entre Anthony Black e Carry Nederman,
com repercussões importantes para o desenvolvimento de novos estudos
sobre a intrincada relação entre essas duas tradições.
Por um lado, o presente trabalho pretende apresentar os termos dessa
polêmica envolvendo a problemática relação entre republicanismo e cris-
tianismo, apontando alguns dos desdobramentos dos debates contempo-
râneos sobre o tema. De maneira mais propositiva, pretende se posicionar
em favor daquelas concepções que entendem o cristianismo como uma
tradição permeável a diferentes agendas políticas, incluindo o próprio re-
publicanismo. Por outro lado, este trabalho arma que a diculdade na
distinção entre republicanismo e cristianismo deriva, em grande medida,
das próprias diculdades do projeto neorrepublicano em delimitar o repu-
blicanismo como tradição política especíca, problema, aliás, enfrentado
também na polêmica com o liberalismo. Na nossa concepção, a superação

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