Representações sociais na internet sobre cotas para negros em universidades federais

AutorAmanda Castro, Larissa Papaleo Koelzer, Brigido Vizeu Camargo, Andréa Barbará S. Bousfield
Páginas202-220
http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2014v15n106p202
Representações sociais na internet sobre cotas para negros em
universidades federais
Social representations on the internet about racial quotas at the
Federal Universities
Amanda Castro
1
Larissa Papaleo Koelzer 2
Brigido Vizeu Camargo3
Andréa Barbará S. Bousfield 4
Resumo
O presente estudo teve como objetivo investigar as representações sociais das
cotas para negros em universidades federais, destacadas em comentários na
internet, acerca de um artigo difundido online por meio do site de uma revista de
circulação nacional. Para este estudo de caráter exploratório e descritivo foram
selecionados para análise 272 comentários, apresentados por indivíduos diferentes,
excluindo postagens que não fizessem menção aos conteúdos presentes na
reportagem. Eles foram organizados em um único corpus que foi submetido a uma
Classificação Hierárquica Descendente (CHD) simples, com o auxílio do programa
informático IRAMUTEQ. A CHD reteve 211 textos, 77,29% do total, e dividiu o
corpus em quatro classes. Os resultados, presentes nas classes, referem-se às
representações sociais de cotas para negros a partir da discussão do mérito,
igualdade e aspectos históricos que justifiquem a favorabilidade ou
desfavorabilidade do indivíduo referente a esta ação afirmativa.
Palavras-chave: Representações Sociais. Cotas. Negros. Universidades.
Abstract
This study aimed to investigate the social representations of racial quotas at the
Federal Universities, featured on the comments of internet, about an online article
publicized on the website of a national journal. For this exploratory and descriptive
study, we selected 272 comments for analysis that were submitted by different
individuals. We excluded posts that do not refer to the content of the report. They
were organized into a corpus that was submitted to a simple Descending Hierarchical
Classification (CHD) with the aid of the software IRAMUTEQ. The CHD retained 211
texts, 77.29% of the total, and divided the corpus into four classes. The results
present in the classes refer to the social representations of racial quotas from the
discussion of the merit; the equality and the historical aspects that justify the
favorability or (des)favorability of the individual regarding this affirmative action.
1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da UFSC. E-mail: amandacastrops@gmail.com.
2 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da UFSC. E-mail: larissapk@hotmail.com.
3 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da UFSC. E-mail: brigido.camargo@gmail.com.
4 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da UFSC. E-mail: andreabs@gmail.com.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, Santa Catarina, ISSN 1984-8951
v.15, n.106, p. 202-220 jan./jun. 2014
203
Keywords: Social Representation. Quotas. Blacks. Universities.
Introdução
No meio científico e na sociedade em geral, diversos posicionamentos têm
surgido sobre as cotas para negros em universidades federais. Este tema vem
obtendo visibilidade através dos meios de comunicação, especialmente pela
internet. Essas diversas posições encontram justificativas nos variados argumentos
existentes a favor ou contra as cotas como políticas de ação afirmativa. Diversos
estudos têm sido realizados sobre cotas para negros na universidade, em que os
autores abordam as desigualdades educacionais e sociais entre negros e brancos
(DURHAM, 2003), propõem reflexões teóricas acerca das ações afirmativas e cotas
nos vestibulares das universidades públicas (BALBINO, 2004), e analisam
elementos de representações sociais em relação aos diversos tipos de políticas de
cotas (NAIFF; NAIFF; SOUZA, 2009). Desse modo, estudos relativos ao universo
consensual e ao universo reificado são relevantes para a compreensão desse objeto
social.
5
Nos universos consensuais a sociedade se vê como um grupo feito de
indivíduos que são de igual valor e que gradualmente criam formas habituais de
realizar algumas práticas, como uma comunidade de significados entre aqueles que
participam dela, em que se busca estar protegido das áreas de discordância e de
incompatibilidade. Já nos universos reificados, a sociedade se concebe como um
sistema com diferentes papéis e categorias, cujos ocupantes estão em grupos
estratificados, em que o grau de participação é determinado pelo nível de
qualificação (MOSCOVICI, 2003). As questões relativas à epistemologia procuram
discutir como a ciência mediante sua difusão na sociedade torna-se conhecimento
do senso comum em que as pessoas estão cientes de seus problemas, atuam na
vida cotidiana e tomam decisões. A noção de representação social é concebida
5 Moscovici explica que existem dois universos de pensamento nas sociedades, o universo reificado e
o universo consensual. O universo reificado é considerado o conhecimento produzido com rigor
lógico, objetividade e metodologia características da ciência. Portanto, ele está relacionado com o
espaço científico. O universo consensual se constitui principalmente pelas atividades intelectuais da
interação social, nas conversas informais, e é nesse contexto em que as representações sociais são
formuladas (MOSCOVICI, 2001).

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