Relações entre urbanização e meio ambiente: um panorama para os estados brasileiros

AutorRosa Livia Gonçalves Montenegro
Páginas72-94
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8085.2017v20n1p72/ 72
Recebido em: 27-09-2017; Revisado em: 26-10-2017; Aceito em: 27-10-2017
Relações entre urbanização e meio ambiente: um panorama para os estados brasileiros
Relations between urbanization and environment: an overview for the Brazilian states
Rosa Livia Gonçalves Montenegro
rosalivia@gmail.com
Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ)
Resumo: A discussão sobre os problemas urbanos e as mudanças ambientais vividas pela
população brasileira, em especial nas grandes cidades, é bastante atual e sugere mais pesquisas a
respeito do assunto. Dessa forma, a proposta deste trabalho será analisar os efeitos de três
dimensões (socioeconômica, demográfica e ambiental) que estão associadas, de alguma forma, ao
processo de urbanização no Brasil. Para tanto, utilizaram-se como unidades de observação os vinte
e sete estados brasileiros sendo aplicadas na metodologia da análise de componentes principais
(ACP), e na análise de cluster. A proposta metodológica pretende caracterizar os estados mediante
as variáveis selecionadas no trabalho. Os resultados mostraram disparidades entre as regiões e seus
aspectos infraestruturais e ambientais, além da forte tendência na criação de áreas urbanas
periféricas em algumas regiões, o que aumentará em longo prazo, os impactos ambientais nesses
locais.
Palavras-chave: Urbanização; Indicadores ambientais; Estados brasileiros; Análise multivariada
Abstract: The discussion about urban problems and environmental changes faced by the
population, especially in large cities, is very current and it suggests further research on the issues.
Thus, the main aim of this paper is to analyze the effects on three dimensions (socioeconomic,
demographic and environmental), which are associated with urbanization process. With database of
Brazilian states, this paper applies a set of methodological techniques: a) Principal Component
Analysis (PCA) and b) Cluster Analysis. The main results indicate the differences among the
Brazilian States, including in infrastructural and environmental aspects. Moreover, the results also
show a tendency of expanding peripheral urban areas in the States, which could increase the
environmental impacts in the long run.
Keywords: Urbanization; Environmental indicators; Brazilian states; Multivariate analysis
1. INTRODUÇÃO
Os estudos sobre a contextualização da urbanização voltada para questões ambientais vêm
ganhando destaque na literatura da área (CUI e SHI, 2012; CHADCHAN e SHANKAR, 2009;
HOPE, 1986; KALNAY e CAI, 2003). Paralelamente a essa discussão encontra-se o debate entre a
questão do desenvolvimento econômico-tecnológico e seus impactos ambientais (CARRILLO-
HERMOSILLA et al., 2010; KEMP e SOETE, 1992; HORBACH, RAMMER e RENNINGS,
2014). A atenção dos estudiosos se volta para os problemas ambientais que são afetados pelas
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mudanças tecnológicas (produtos que agridem o meio ambiente), os impactos de dimensão local e
regional (por exemplo, qualidade do ar) que passaram a ter uma dimensão global (aumento do efeito
estufa e o aquecimento global).
O aumento contínuo da produção, associado ao crescimento da população, irá requerer no
futuro maior quantidade de recursos naturais, implicando no aumento de rejeitos no meio ambiente.
Barret (2009), por exemplo, alerta sobre as limitações impostas ao funcionamento do mercado pelos
problemas contemporâneos relacionados às mudanças climáticas. Nesse ponto, o conceito de
sustentabilidade tem retomado discussões importantes sobre os impactos negativos ambientais.
Segundo Bellen (2005) e WCED (1987), o termo sustentabilidade abrange um conceitual amplo e
ao mesmo tempo complexo, o qual caracteriza um conjunto de ações das sociedades
contemporâneas que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de
gerações futuras atenderem às suas próprias.
No caso brasileiro, há uma grande lacuna entre seu processo de crescimento econômico e o
termo sustentabilidade. O primeiro ponto que deve ser ressaltado é que, graças a um conjunto de
políticas macroeconômicas e sociais, o país tem reduzido as taxas de pobreza e desigualdade. Esse
resultado positivo fomenta o aumento do consumo em classes como a “C” e “D”, que por sua vez,
proporciona um maior acesso dos mercados de bens e serviços. Nesse sentido, o crescimento de
consumidores potenciais, não somente no Brasil, mas também em escala global, é um risco
ambiental de médio e longo prazo. Sobre essa temática surgem diversas questões complexas, como
por exemplo, a redução do consumo de países ricos e emergentes e a diminuição das taxas de
pobreza sem que haja um aumento das emissões de carbono.
Diante dessa problemática, a questão da urbanização é um elemento que também deve ser
discutido e levado em consideração, principalmente, devido ao crescimento populacional e seus
reflexos nos déficits infraestruturais e de serviços. Uma das soluções para os grandes centros
urbanos, a médio e longo prazo, seria a implementação da ideia das cidades “sustentáveis”, o que
demandaria uma grande parcela de investimentos, além de planejamento urbano e territorial. A
proposta seria uma alternativa para as cidades não focarem apenas em soluções rigorosamente
econômicas. Além disso, a produção e a absorção social dos espaços urbanos podem gerar
condições propícias para o surgimento de novos padrões de produção mais sustentáveis, como o uso
sustentável de fontes de energia e de logística (NAKANO e CUNHA, 2012).
A proposta do presente artigo, a partir da metodologia de análise de componentes principais
(ACP) e análise de cluster, têm por objetivo caracterizar os efeitos proporcionados por diferentes
fatores referentes às questões urbanas e do meio ambiente. Deste modo, busca-se analisar a partir de

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