Relações Sociais e Território: estudo no Arranjo Produtivo Local (APL) da castanha-da-Amazônia

AutorGelciomar Simão Justen - Mariluce Paes-de-Souza
CargoDoutorando em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGADM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - Doutora em Ciências Socioambientais e Pós-Doutora em Administração
Páginas114-130
Artigo recebido em: 24/09/2016
Aceito em: 05/03/2017
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2017v19n47p114
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
114 Revista de Ciências da Administração • v. 19, n. 47, p. 114-130, abril 2017
RELAÇÕES SOCIAIS E TERRITÓRIO: ESTUDO NO ARRANJO
PRODUTIVO LOCAL (APL) DA CASTANHA-DA-AMAZÔNIA
Social Affairs and Definition of Territory: study in Local
Productive Arrangement (APL) of Brazil-Nuts in Acre State
Gelciomar Simão Justen
Doutorando em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGADM) da Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Curitiba, PR. Brasil. E-mail: simao.justen1984@gmail.com
Mariluce Paes-de-Souza
Doutora em Ciências Socioambientais e Pós-Doutora em Administração. Professora dos Programas de Pós-Graduação Mestrado em
Administração (PPGMAD). Professora associada da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Porto Velho,RO. Brasil.
E-mail: mariluce@unir.br
Resumo
Esta pesquisa objetiva evidenciar os fatores que definem
um tipo de território, enquanto rede de relações sociais
no contexto do APL da Castanha-da-Amazônia, a
partir da compreensão dos relacionamentos e suas
articulações para o fortalecimento da atividade
produtiva em potencial. Trata-se de pesquisa qualitativa
de caráter descritivo, com estudo de campo para
aplicação de questionários e entrevistas. Os resultados
demonstram que o APL da Castanha-da-Amazônia no
Estado do Acre possui como principal característica, no
que diz respeito aos relacionamentos, dois territórios
distintos, definidos a partir das relações sociais dos
agentes, sendo um pautado em ações coletivas e
outro em ações individuais. A pesquisa contribui
com a Teoria de APLs com a identificação de fatores
relacionados a noção de pertencimento dos agentes,
que podem fortalecer ou enfraquecer as relações sociais,
agregando descobertas à área de administração quanto
a importância de considerar os relacionamentos entre
agentes na interação interorganizacional.
Palavras-chave: APL. Castanha-da-Amazônia.
Território. Acre.
Abstract
This research aims to highlight the factors that define
a type of territory, as a network of social relations
in the context of the APL Brazil-Nuts, from the
understanding of relationships and their articulations for
the strengthening of potential productive activity. It is a
qualitative research of descriptive character, with field
study for application of questionnaires and interviews.
The results show that the APL of Brazil-Nuts in Acre has
as main characteristic, with regard to the relationships,
two distinct territories, defined based on the social
relations of the agents, being based on collective
actions and another on Individual actions. The research
contributes to the theory of APLs with the identification
of factors related to the notion of agents belonging,
which can strengthen or weaken social relations, adding
findings to the area of administration regarding the
importance of considering the relationships between
agents in the interorganizational interaction.
Keywords: APL. Brazil-nuts. Territory. Acre.
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Relações Sociais e Território: estudo no Arranjo Produtivo Local (APL) da castanha-da-Amazônia
1 INTRODUÇÃO
A Castanha-da-Amazônia é uma amêndoa oriun-
da da Castanheira (Berthollethia Excelsa), tendo suas
propriedades nutricionais reconhecidas mundialmente
por seu alto valor proteico, de fibras, conteúdo de se-
lênio e demais componentes benéficos para a saúde
humana (SANTOS, 2012).
A Castanheira é uma planta com ocorrência em
todo o bioma amazônico, que no Brasil, tem incidên-
cia nos Estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Pará,
Roraima, Amapá e Tocantins, sendo explorada para
comercialização de diversas formas, seja in natura ou
industrializada. Os maiores produtores brasileiros de
Castanha são Amazonas, Acre e Pará (SOUZA FILHO
et al., 2014). A Castanha-da-Amazônia também é
conhecida nacionalmente como Castanha-do-Pará e
internacionalmente como Castanha-do-Brasil. Toda-
via, a Castanheira é encontrada também nas áreas
amazônicas da Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela,
Suriname, Guiana e Guiana Francesa (HOMMA e
MENEZES, 2008). Diante disso, em 1992, durante a
3ª Convenção Mundial de Frutos Secos, realizada em
Manaus, foi convencionada sua nomenclatura como
Castanha-da-Amazônia (EMBRAPA-RO, 2005).
A extração da Castanha constitui uma das princi-
pais fontes de trabalho e geração de renda de muitas
comunidades da Amazônia, as quais se organizam para
extrair o fruto. Existem também várias organizações,
especialmente indústrias do ramo alimentício, que
trabalham com o processamento e transformação da
castanha agregando valor à amêndoa por meio de
uma variedade de produtos, para comercialização a
nível local, regional, nacional e até internacional. Al-
gumas ainda, como as organizações do terceiro setor,
privilegiam uma atuação característica ao contexto
da região amazônica, chamando a atenção por seu
histórico de ações, pois envolvem extrativistas, órgãos
públicos, organizações não governamentais e outros
parceiros, com fortes laços de cooperação em prol do
desenvolvimento local.
A concentração de agentes com foco no fortaleci-
mento de uma atividade produtiva remete à lógica de
uma organização local com características específicas,
especialmente no que diz respeito à articulação que
emana das relações sociais para o alcance de objetivos
comuns. Conforme atores sociais se inserem em deter-
minado contexto de ações conjuntas, passam a compor
uma organização pautada nas relações e articulações,
congregando diversos agentes econômicos, políticos e
sociais que, na busca por sinergias capazes de desen-
volver e fortalecer uma atividade potencial forma um
arranjo produtivo local (APL) (LASTRES et al., 1998).
Vilpoux e Oliveira (2010) ressaltam que os rela-
cionamentos desenvolvidos no contexto de um arranjo,
especialmente os informais, sofrem a influência do
território enquanto rede de relações sociais que se
projetam no tempo e no espaço (ALBAGLI, 2004).
Todavia, para que seja possível definir o território de
um APL, é necessário compreender, primeiramente,
como se dão os relacionamentos no contexto desse
arranjo, bem como evidenciar os fatores que exercem
influência na formação da rede de relações sociais.
Na região amazônica, pode-se perceber a
existência de APLs, uns em formação e outros já
bem formatados, como é o caso da produção de
Castanha-da-Amazônia no Estado do Acre, que conta
com a participação de diversos agentes envolvidos
na atividade econômica de extração, processamento
e comercialização de produtos ou derivados. Sales
(2009) menciona a existência de um arranjo institu-
cional formado por laços de cooperação entre diversas
instituições, circundando a Cooperativa Central de Co-
mercialização Extrativista do Acre – COOPERACRE, a
qual congrega extrativistas organizados em associações
e cooperativas, parceiros externos e entidades gover-
namentais, evidenciando que os agentes se inserem
em um contexto de relações sociais, inclusive relações
consolidadas e de longas datas.
Tal realidade remete à percepção de um APL,
comparando-se à proposição de Lastres e Cassiolato
(2003), em que um arranjo é composto por produtores,
organizações internas, externas e outros que formam
um conjunto de partes interagentes e interdependentes,
inseridos em um espaço geográfico e que desenvol-
vem relações econômicas e não econômicas entre si,
trocam conhecimentos e partilham de mecanismos de
governança.
Nesta dinâmica, instiga-se a compreender a
definição do território existente no APL da Castanha-
-da-Amazônia no Estado do Acre, uma vez que há
indicativos de relações sociais consolidadas na região
visando o fortalecimento de uma atividade produtiva
em potencial, com foco no desenvolvimento local, o

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