Relação entre ser Livre e exercer a Liberdade

AutorAlessandra Ferreira de Araújo Ribeiro
CargoProcuradora do Estado de São Paulo
Páginas11-27
Relação entre ser Livre
e exercer a Liberdade
Alessandra Ferreira de Araújo Ribeiro*
Resumo: O artigo é composto de três partes: na prim eira, é feita uma
análise da liberd ade existente no pensamento, utili zando-se como funda-
mento o ent endimento de G.W.F. Hegel; na seg unda, é feita uma análise
da liberd ade presente na a ção, conceito denido por Hannah Are ndt; na
terceira, propõe-se a corr elação entre ambas as denições , que podem
ser ident icadas com o conceito a ntigo e com o moderno de liberdade,
concluindo-se pela ne cessidade desta relação.
Palavras-chaves: Liber dade. Conceito. Pensamento. Ação. Correlação.
Abstract: the article is composed of three parts: the rst is an analysis of the
existing freedom of thought, based on the understanding G.W.F. Hegel; in
the second part an analysis of freedom in action is made, a concept dened
by Hannah Arendt; in the third proposes the correlation between the two
denitions, which can be identied by the ancient and the modern concepts
of freedom, concluding that there’s a need for this correlation to happen.
Keywords: freedom – conc ept – thought – action - correlation
Sumário: I – Introdução; I I – Liberdade na Dialética do Senhor e do Es-
cravo; III – Liberdade na Política; IV – Correlação entre ser Livre e exercer
a Liberdade; V – Considerações Finais; VI – Referências Bibliográcas.
I – Introdução
A liberdade faz parte do cerne da pessoa humana, sendo-lhe um elemen-
to intrínseco. Mas também pode ser visualizada pelos atos por ela praticados.
(*) Procuradora do Estado de São Paulo. Mestre em Direito Político e Econômico pela Uni-
versidade Presbiteriana Mackenzie. Mestranda em Direitos Humanos pela Universidade
de São Paulo – alessandrafar@uol.com.br
12 Vol. 19 - Julho a Dezembro - 2010
É difícil lhe atribuir um conceito1. Sabemos que somos livres e sabe-
mos quando perdemos a liberdade, mas o que é a liberdade?
Partindo-se do entendimento de que a liberdade tem um aspecto indi-
vidual, voltado para dentro da pessoa humana, e um aspecto social, exer-
cido na vida pública, o presente estudo objetivou alcançar uma denição
singela desta dupla dimensão para estabelecer a relação entre elas, visto
que é possível exercer a liberdade, sem ser livre; ou ser livre, sem que se
possa exercer a liberdade.
Essa duplicidade da liberdade conduz a um outro caminho que tem
um perl prático. Sob este ângulo, a liberdade pode ser cerceada, mas a
essência da liberdade, existente no interior de cada indivíduo, e que se
manifesta em seu pensamento, não pode, pois o ser humano nasce livre e
assim pode permanecer durante toda a sua vida, mesmo que submetido a
grilhões.
Inicialmente foi feito um breve estudo sobre a liberdade na dialética
do Senhor e do Escravo, exposta por G.W.F. Hegel, na Fenomenologia
do Espírito. Em seguida, analisou-se a liberdade no âmbito da política,
utilizando-se como base o pensamento de Hannah Arendt.
Por m e almejando a possibilidade de correlação entre estas duas
vertentes da liberdade, foi utilizado principalmente o pensamento de
Isaiah Berlin, para uma tentativa de consenso.
O desenvolvimento do texto tem como fundamento o fato de o ser hu-
mano ser racional e ter uma essência individual, cuja proteção deve estar
assegurada da intervenção de todos; e uma social, em que dialoga com os
demais na busca do bem comum.
II – Liberdade na Dialética do Senhor e do Escravo
G.W.F. Hegel, na Fenomenologia do Espírito, desenvolve todo o
processo da consciência de si partindo da certeza sensível, passando pela
percepção e pelo entendimento até alcançar a verdade da certeza de si
mesmo. Neste ponto, quando a consciência de si identica o sujeito com o
1 “[...]Então, como descrever uma existência que se faz perpetuamente e se nega a ser con-
nada em uma denição? A própria denominação de ‘liberdade’ é perigosa, caso suben-
tendamos que a palavra remete a um conceito, como as palavras habitualmente fazem.
Indenível e inominável, a liberdade será também indescritível?” (SARTRE, Jean-Paulo.
O Ser e o Nada. Ensaio de ontologia fenomenológica. 2ª edição. Petrópolis: Vozes, 1997,
p. 541).

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