Relação entre os dividendos e a classificação de rating de empresas brasileiras

AutorCristiano Augusto Borges Forti - Kellen Silva Freitas
CargoDoutor em Finanças EAESP (FGV) - Mestranda em Administração no PPGGO (UFU), Uberlândia/MG, Brasil
Páginas120-137
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Artigo
Original
Artigo
Original
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 42, p. 120-137, jan./mar., 2020.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2020v17n42p120
Relação entre os dividendos e a classificação de rating de
empresas brasileiras
Relationship between dividends and rating classification of Brazilian companies
Relación entre dividendos y la clasificación de rating de empresas brasileñas
Cristiano Augusto Borges Forti*
Doutor em Finanças EAESP (FGV)
Professor de Finanças na Faculdade de Gestão e
Negócios – FAGEN (UFU), Uberlândia/MG, Brasil
crforti@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-4678-7323
Kellen Silva Freitas
Mestranda em Administração no PPGGO (UFU),
Uberlândia/MG, Brasil
k_sfreitas@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-1660-5050
Endereço do contato principal para correspondência*
Rua Antonia Saltão de Almeida, 58, Bairro Santa Mônica, CEP: 38.408-118 – Uberlândia/MG, Brasil
Resumo
Este estudo investigou a relação entre a política de dividendos e a classificação de rating das empresas
listadas na B3 de 1995 a 2017. Para isto, verificou duas hipóteses. (a) se dentre as empresas possuidoras de
rating, as que têm melhor classificação distribuem mais dividendos, e (b) se dentre todas as firmas, as com
classificação de rating distribuem mais ou menos dividendos do que aquelas que não a tem. A amostra
composta de 330 empresas, das quais 79 possuem rating, foi submetida à análise de regressão pelos
modelos GMM, Matching Estimators e Tobit, considerando as variáveis: rating, dividendos divididos pelo
Patrimônio Líquido, alavancagem, tamanho e crescimento dos lucros. Como resultado encontrou-se uma
relação significante entre a distribuição de dividendos e a classificação de rating. Conclui-se, portanto, que
tanto o rating quanto os dividendos, neste estudo, são elementos de sinalização de informações ao mercado.
Palavras-chave: Dividendos; Rating; Sinalização
Abstract
This study investigated a relationship between a dividend policy and credit rating of firms listed on the B3 from
1995 to 2017. For this, it was verified two hypotheses. (a) among the firms with credit rating, those with the
highest ranking pay more dividends, and (b) if among all firms, those with credit rating pay more or less
dividends than those who do not. The sample of 330 companies, of which 79 with a rating, was submitted to
regression analysis using GMM, Matching Estimators and Tobit Models, using as variables: rating, dividends
by equity, leverage, size and earnings growth. As a result, we found a significant relationship between the
payment of dividends and the credit rating. We concluded, therefore, that both the rating and the dividends,
are elements of information signaling to the market.
Keywords: Dividends; Rating; Signaling
Resumen
Este estudio investigó la relación entre la política de dividendos y la clasificación de rating de las empresas
listadas en la B3 de 1995 a 2017. Para ello, verificó dos hipótesis. (a) si entre las empresas poseedoras de
rating, las que tienen mejor clasificación distribuyen más dividendos, y (b) si entre todas las firmas, las que
tienen clasificación de rating distribuyen más o menos dividendos comparado con las que no la tienen. La
muestra está compuesta por 330 empresas, de las cuales 79 tienen rating, fue sometida al análisis de
regresión por los modelos GMM, Matching Estimators y Tobit, considerando las variables: rating, dividendos
dividido por el patrimonio líquido, apalancamiento, tamaño y crecimiento del lucro. Como resultado se
encontró una relación significante entre la distribución de dividendos y la clasificación de rating. Se concluye
que tanto el rating como los dividendos, en este estudio, son elementos de señalización al mercado.
Palabras clave: Dividendos; Rating; Señalización
Cristiano Forti, Kellen Silva Freitas
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Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 42, p. 120-137, jan./mar., 2020.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2020v17n42p120
1 Introdução
A política de dividendos é um tema controverso na literatura de finanças, principalmente no que tange
a sua relevância. Sabe-se, no entanto, que ela juntamente com as políticas de investimentos e financiamento,
formam os três pilares mais importantes das decisões em finanças corporativas (BLACK, 1976; FAMA;
FRENCH, 2001).
Na literatura sobre política de dividendos há duas correntes: aquela que defende a relevância dos
dividendos e seu conteúdo informacional ao mercado, cujo precursor é Lintner (1956); e aquela contrária, que
defende a irrelevância dos dividendos, tendo como precursores Miller e Modigliani (1961). Pode-se ainda
verificar a teoria da sinalização através dos dividendos, como proposto por Ramasastry, Kose e Williams
(1987), que defendem que as empresas utilizam os dividendos para sinalizar ao mercado sobre o seu
desempenho financeiro atual e futuro. Esta teoria encontra suporte empírico em diversas pesquisas (NISSIM;
ZIV, 2001; LOSS; SARLO NETO, 2003; CIOFFI; FAMÁ, 2010; FORTI; SCHIOZER, 2015).
De forma complementar, há ainda a teoria de assimetria informacional, que argumenta que os
dividendos podem ser utilizados para reduzir conflitos entre acionistas e credores e acionistas e gestores
(SHAO et al., 2013; ASHRAF; ZHENG, 2015; CHANG et al., 2018). Os pesquisadores de assimetria
informacional buscaram evidenciar o papel dos dividendos na redução de conflitos gestor-acionista e
acionista-credor, descrevendo que os credores, mesmo não sendo os beneficiários diretos dos dividendos
podem se utilizar da informação dos gestores para avaliar seus riscos e políticas de crédito (SHAO et al.,
2013; ASHRAF; ZHENG, 2015; CHANG et al., 2018).
Dentre os temas ligados a sinalização e assimetria, pode-se destacar o trabalho de Boldin e Leggett
(1995), que buscaram evidenciar a relação da política de dividendos e a qualidade dos bancos americanos
medida pelo seu rating. Os coeficientes mostraram-se positivos, indicando que há uma forte relação entre
dividendos e saúde financeira dos bancos. Anos depois, Khieu e Pyles (2016) pesquisaram a influência de
mudanças no rating de crédito das empresas em suas políticas de dividendos e investimentos. Os autores
encontraram que existe uma persistência no pagamento de dividendos mesmo quando as empresas sofrem
uma redução em sua classificação de crédito, enquanto que seus investimentos declinam diante da redução
do rating.
Silveira, Takamatsu e Avelino (2017) defendem que o rating de crédito expressa uma opinião, por
intermédio de escalas, sobre a qualidade do crédito de empresas, sendo utilizando como medida de avaliação
de risco no mercado. Desta forma supõe-se que os gestores preocupados com sua classificação de rating,
para fins de financiamento, podem querer aumentar ou manter os níveis de dividendos influenciando a política
de dividendos com objetivo de sustentar ou mesmo melhorar sua classificação de crédito.
Contudo, é relevante destacar que nem sempre os resultados das pesquisas globais sobre dividendos
se aplicam fidedignamente ao Brasil, já que o país apresenta algumas características particulares, como a
forma de tributação, a existência dos dividendos mínimos obrigatórios (DMO) e os Juros sobre Capital Próprio
(JSCP). Isto torna o estudo sobre a relevância dos dividendos na redução de assimetria e sinalização ao
mercado no Brasil, ainda mais interessante, visto que existem poucos estudos acadêmicos sobre o assunto.
Diante do exposto, surge o seguinte problema de pesquisa: qual a relação entre a distribuição de
dividendos das empresas listadas na B3 e sua classificação de rating? De forma complementar, busca-se
investigar os seguintes aspectos adjacentes: se os dividendos são influenciados pela classificação de crédito
das empresas, e se a classificação de rating fornece sinalização complementar aos dividendos.
O objetivo geral deste trabalho é investigar a relação entre a distribuição de dividendos das empresas
listadas na Bolsa Brasileira de 1995 a 2017 e sua classificação de rating. Para isto, pretende-se de forma
específica avaliar se dentre as firmas com classificação de rating, aquelas com melhor classificação
distribuem mais dividendos, e também se dentre todas as empresas, a distribuição de dividendos das que
possuem rating difere daquelas que não o possuem. Desta forma será possível identificar se a classificação
de crédito das empresas possui conteúdo informacional (sinalização) e se este compete ou complementa as
informações fornecidas pelos dividendos aos investidores.
A fim de atender esta investigação, foram obtidos dados nas bases Thomson Reuters e Economática.
A análise se concentrou na relação entre o pagamento de dividendos e a classificação de ratin g que a
empresa possuía no momento deste pagamento. Outras características das empresas foram controladas,
como tamanho, lucratividade, crescimento dos lucros e outras. A metodologia estatística utilizado foram
métodos robustos de regressão múltipla com dados em painel e quasi-experimentos.
Acredita-se que este estudo contribuirá com a literatura sobre política de dividendos no Brasil,
principalmente no que tange a sinalização dos dividendos e sua relação com os credores na redução de
assimetrias informacionais, visto que há poucos estudos sobre o assunto no país. Além disso, espera-se que
seja um incentivo para novas pesquisas. O artigo está estruturado da seguinte forma: a seção 2 apresenta o
referencial teórico sobre política de dividendos e agências de rating. A seção 3, a metodologia de pesquisa
adotada neste estudo. A seção 4 descreve os resultados e por fim a seção 5 apresenta as considerações
finais.

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