Regularização fundiária no brasil contemporâneo: para além da interpretação jurídica

AutorCelso Severo da Silva
CargoAssistente Social
Páginas1327-1345
Artigo recebido em: 05/03/2018 Aprovado em: 23/05/2018
REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA NO BRASIL
CONTEMPORÂNEO: para além da
interpretação jurídica
Celso Severo da Silva1
Resumo
O presente artigo visa analisar como a regularização fundiária no Brasil se ex-
pressa na contemporaneidade, suas contradições e interpretações. Ao mesmo
tempo, inserir a sua análise nas condições históricas, políticas e econômicas
presentes na crise capitalista, o papel do Estado e a materialização do uso e
ocupação do espaço urbano. Nesse sentido, a lógica capitalista insere o urbano
e as cidades como lócus de reprodução. Assim, a análise da regularização fun-
diária, associada à discussão meramente jurídica, limita a compreensão de que
moradia, propriedade privada e o capital fundiário não estão conectadas com os
con itos característicos da sociedade de classes.
Palavras-chave: Regularização fundiária, Estado, Cidades.
LAND REGULARIZATION IN CONTEMPORARY BRAZIL:
beyond legal interpretation
Abstract
e present article aims to analyze how land regularization in Brazil is expres-
sed in contemporaneity, its contradictions and interpretations. At the same
time, insert its analysis in the present historical, political and economic con-
ditions of the capitalist cr isis, the role of the State and the materialization of
1 Assistente Social, Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Habitação e Saneamento Ambiental
(NEPHSA)/UFPE, Assistente Social da Pernambuco Participações e investimentos S/A
Perpart - PE. E-mail: celsoseverope@gmail.com / Endereço: Pernambuco Participações
e investimentos S/A Perpart - PE: Rua Dr. João Lacerda, 395 Cordeiro, Recife/PE. CEP:
50.711-280.
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Celso Severo da Silva
the use and occupation of the urban space.  at way, the capitalist logic inserts
the urban and the cities as places of reproduction.  us, the analysis of land
regularization, coupled with purely legal discussion, limits the understanding
that housing, private property, and land capital are not connected with the class
con icts characteristic of class society.
Key words: Land tenure regulation, State, Cities.
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos 13 anos, governados pelo Luís Inácio Lula da
Silva (2003-2010) e Dilma Rousse (2011-2016), ambos do Parti-
do dos Trabalhadores (PT), o Brasil viveu momentos de mudanças
signi cativas no campo da política urbana, com a criação do Mi-
nistério das Cidades, o Fundo Nacional de Habitação de Interesse
Social (FNHIS), e vultosos investimentos em infraestrutura através
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que abarca os
eixos: Logística (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias),
Energética (geração e transmissão de energia, petróleo e gás) e Social
e Urbano (habitação, mobilidade urbana, saneamento, prevenção de
riscos, recursos hídricos, equipamentos sociais, cidades históricas e
Luz Para Todos). Segundo o quarto balanço do programa, até 2016
foram executados R$ 386,6 bilhões. (BRASIL, 2015).
Mas nada se compara à dimensão política e s ocial que o Pro-
grama Minha Casa Minha Vida (PMCMV), criado em 2009, teve no
País. Programa esse, que esvaziou a prioridade que vinha sendo dada
pelo governo ao FNHIS, pois o PMCMV aparece não pela lógica da
Política Urbana que pes quisadores e os movimentos sociais de luta
urbana defendem, mas sim, com o intuito de diminuir os efeitos da
crise econômica internacional, iniciada exatamente com o estouro
hipotecário e  nanceiro nos Estados Unidos (ROLNIK, 2015), bem
como, a crise política no governo federal, com os efeitos dos casos de
denúncia de corrupção, no chamado mensalão.
Nesse sentido, como resposta imediata ao mercado e à popu-
lação, o lançamento do PMCMV passa a atender essas duas necessi-
dades, como a rmam Aragão e Cardoso (2013, p. 35):
A reação do governo brasileiro à crise internacional foi rápida,
adotando medidas de expansão do crédito pelos bancos públicos
(Banco do Brasil, BNDES e Caixa Econômica), de forma a com-
pensar a retração do setor privado, e também medidas de apoio
aos setores em di culdades. Como medida de caráter anticíclico, o
governo manteve os investimentos em infraestrutura previstos no

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