A distribuição regional do emprego formal no sul do Brasil

AutorYony Brugnolo Alves, Jandir Ferrera de Lima
CargoBel. em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). - Professor adjunto do Colegiado de Economia e do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio na Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Páginas47-70

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Yony Brugnolo Alves1

Jandir Ferrera de Lima2

Esse artigo analisa a distribuição do emprego formal na Região Sul do Brasil e em suas 23 mesorregiões. Buscou identiicar quais são as mesorregiões onde a dinâmica da oferta de emprego formal acompanhou a dinâmica da Região Sul. Das 23 mesorregiões que compõem a Região Sul, 11 mostraram comportamento igual ou bem próximo ao identiicado para a região como um todo.

1. Introdução

Esse artigo analisa a evolução do emprego formal nas mesorregiões da Região Sul do Brasil. A análise investiga se houve mudança na estrutura de oferta de empregos formais na Região Sul. Para isso utilizou dados referentes ao período de 2000 a 2005, buscando identiicar se houve mudanças na oferta

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de empregos por setores e quais mesorregiões passaram a ofertar mais e quais tiveram sua participação reduzida e em quais setores. A partir dos dados da Região Sul, veriicarseá o comportamento das mesorregiões em separado e identiicarseá as que mais se diferenciam do comportamento da região.

Devese ressaltar que o emprego é uma variável importante nos estudos do desenvolvimento econômico regional. As atividades criadoras de emprego são tomadas como os principais fatores determinantes do crescimento de uma região e de sua interação com as demais regiões. Além disso, a capacidade de alguns ramos de atividade em ampliar sua capacidade de absorção de mãodeobra caracteriza, na divisão interregional do trabalho, o peril do continuum urbano das economias. Segundo Ferrera de Lima et al (2006), no processo de desenvolvimento regional, a economia passa de um continuum urbanorural para um continuum urbanoindustrial e associase geograicamente com outras economias regionais. Essa associação ocorre através dos luxos interregionais de produtos e serviços, capital, mãodeobra e população. No entanto, o ponto de partida para a existência dos luxos comerciais está na especialização regional e na ocupação da mãodeobra. Por isso, o trabalho formal tornase uma referencia importante tanto da especialização das economias regionais, quanto das rupturas estruturais que levam essa economia a migrar de setores de baixo dinamismo para setores com maior capacidade de agregação de valor.

A divisão dos setores a serem investigados foi feita seguindo método adotado por Ferrera de Lima (2007), em: 1) indústrias dinâmicas: indústria metalúrgica; indústria mecânica; indústria do material elétrico e das comunicações; indústria do material do transporte; indústria do papel, papelão, editorial e gráica; indústria química de produtos farmacêuticos, veterinários e perfumaria; 2) indústrias tradicionais: indústria da madeira e do mobiliário; indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos; indústria de calçados; indústria de produtos alimentícios e bebidas; extrativa mineral; 3) indústrias não tradicionais: indústria de produtos minerais não metálicos; indústria da borracha, fumo, couros e similares; indústria da construção civil; 4) terciário: comércio e serviços; 5) primário: agricultura e silvicultura.

A divisão adotada e a análise justiicamse pela grande heterogeneidade do setor secundário (indústria), e de sua importância para a economia, no sentido de gerar encadeamentos que podem levar ao crescimento e

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desenvolvimento econômico (Furtado, 1987). Por isso o maior interesse em veriicar a fundo a evolução do setor secundário, dividido em três subsetores, e deixar os setores primário e terciário agrupados. No entanto, apesar da importância da indústria, de acordo com Furtado (1983), o crescimento do setor secundário não faz com que a oferta de empregos nesse setor cresça na mesma proporção.

Também serão identiicados alguns aspectos populacionais gerais, apenas para situar o tamanho da população da Região Sul e sua distribuição por mesorregiões.

A fonte de dados utilizada para o emprego será a Relação Anual de Informações Sociais - RAIS do Ministério do Trabalho - MTE, que possui informações sobre o mercado de trabalho formal no Brasil a partir de uma espécie de censo ao qual todas as empresas formais são, por lei, obrigadas a responder.

2 Emprego formal e dinamismo econômico

Para Cella e Rodrigues (2004), nos anos 1990 a economia brasileira passou por transformações no mercado de trabalho, impulsionadas principalmente pela redução na geração de empregos formais, a criação de novos postos de trabalho; a elevada taxa de desemprego; a deterioração na qualidade dos postos de trabalho, dentre outros. Essas transformações foram resultado das mudanças tecnológicas, das novas formas de gestão, do aumento da produtividade, do crescimento populacional e da composição dos custos do fator trabalho.

Essas transformações também era usadas para justiicar o desemprego e a baixa empregabilidade da força de trabalho. Da mesma forma, essas transformações trouxeram a tona a discussão sobre a lexibilização do mercado de trabalho como forma de gerar mais empregos formais na economia. Porém, segundo Itiro (2003), a lexibilização do mercado de trabalho gera controvérsias sobre seu impacto na criação de empregos formais, nas relações de trabalho e no peril da oferta de empregos. Por vezes, as condições do mercado de trabalho são determinadas pelas particularidades sociais, políticas e históricas. Além disso, lexibilização do mercado de trabalho tem passado pelo reordenamento de um conjunto de normas legais e institucionais, que exige uma discussão ampla com a sociedade.

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Para Dathein (2005), a necessidade lexibilização do mercado de trabalho, a baixa empregabilidade e a imobilidade da mãodeobra por si só não podem explicar o alto desemprego. Num processo de baixo dinamismo, que acompanhou a economia brasileira nos anos 1990, os treinamentos e os incentivos à mobilidade da mãodeobra não são capazes de diminuir as taxas de desemprego. Nesse caso, a melhoria na empregabilidade e a criação de empregos formais dependeriam mais de uma economia em expansão, que necessariamente de treinamentos e mobilidade da força de trabalho. Com isso, a expansão do emprego formal se daria apenas em picos cíclicos, quando a taxa de desemprego é baixa. Com isso, a variável “emprego formal” é um indicador de dinamismo econômico.

Nessa mesma linha de análise, Furtado (2001) airma que crescimento econômico é a expansão da produção real, expresso pelo volume físico da produção. Já o desenvolvimento econômico é a expansão do luxo de renda real, capaz de criar um mercado interno e se expandir para outros mercados. A expansão do luxo de renda resulta num aumento da produtividade do trabalho decorrente da acumulação de capital e do avanço das técnicas. Atingese o desenvolvimento se cumpridos os requisitos quantitativos, pois os qualitativos são decorrentes do primeiro. Já que o aumento de bens e serviços por unidade de tempo é o que pontiica a ocorrência do crescimento, gerar emprego para solucionar as questões relativas ao desenvolvimento econômico. Na mesma linha de Furtado (2001), Singer (2003) airma que para se ter desenvolvimento econômico, há que se ter geração de renda e esta por sua vez requer geração de empregos. Como a coletividade necessita de emprego e renda, então o emprego tem de oferecer as condições adequadas para que seja exercido. Nesse caso, o emprego formal, apesar das suas deiciências em determinadas atividades, ao garantir ao trabalhador a sua inclusão na estrutura de proteção social do trabalho, como seguro desemprego, previdência social, abonos e demais garantias expressas na legislação trabalhista, tornase também referência do processo de desenvolvimento econômico.

3. Emprego formal na região sul do brasil

A Região Sul é composta pelos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, num total de 1.188 municípios, que são agrupados em

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23 mesorregiões, sendo dez no Paraná, seis em Santa Catarina e sete no Rio Grande do Sul.

Conforme Tabela I, observase que a distribuição dos empregos formais na Região Sul, não sofreu variações signiicativas no período estudado. O setor terciário é o que mais emprega com 66% de participação, e dentro do setor secundário as indústrias tradicionais ainda empregam mais que as dinâmicas e as nãotradicionais.

Tabela I – Emprego formal na Região Sul do Brasil por setor e população residente

[TABELA EM PDF ANEXO]

Fonte: RAIS/MTE e IBGE

Os dados da Tabela I refletem o perfil produtivo da Região, cujo “carrochefe” é o agronegócio assentado na transformação agroindustrial. Apesar do processo de desenvolvimento econômico exigir rupturas estruturais que fortalecem o continuum urbano industrial, no Sul do Brasil a divisão social do trabalho demonstra pouca mudança na composição estrutural dessa ruptura. Ou seja, internamente a economia urbana é fortalecida, mas na sua composição as atividades tradicionais e não-tradicionais são extremamente representativas na ocupação da mão-de-obra. Enquanto as indústrias dinâmicas são concentradas nas metrópoles regionais, as mesorregiões do interior continuam atraindo atividades de baixo valor agregado. Assim, o perfil da divisão social do trabalho reflete uma economia ainda dependente da transformação de produtos in natura.

As indústrias tradicionais, não-tradicionais e o setor terciário geram mais empregos que as indústrias dinâmicas. Apesar do baixo valor adi

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cionado, essas atividades tornamse importantes frente ao...

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