Reforma trabalhista e desenvolvimento humano: uma análise legislativa à luz do fenômeno 'pejotização

AutorVinícius Pinagé Alves de Lima e Jaílton Macena de Araújo
CargoBacharel em Direito pela Universidade Federal da Paraíba - Doutor e Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba
Páginas134-154
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REVISTA TRABALHISTA DIREITO E PROCESSO — ANO 15 — N. 57
Reforma trabalhista e desenvolvimento
humano: uma análise legislativa à luz
do fenômeno da “pejotização
Vinícius Pinagé Alves de Lima(*) e Jaílton Macena de Araújo(**)
Resumo:
A reforma trabalhista vem sendo apontada pelo discurso neoliberal desenvolvimentista
como a alternativa para acabar a recessão e retomar o crescimento econômico do Brasil. É
justamente de discurso que se trata o desenvolvimento, termo que ganhou popularidade,
mas que apenas reete as aspirações mais abstratas e comuns à maioria dos indivíduos
e das coletividades de uma nação, razão pela qual os maiores detentores do poder eco-
nômico, devido a ampla representatividade no Congresso Nacional, lograram difundir
ecientemente a mensagem de que a legislação trabalhista é arcaica e se faz de óbice ao
desenvolvimento (econômico). Compartilhando com a reforma trabalhista a mesma ori-
gem — aqui chamada de onda neoliberal precarizante do trabalho humano —, surgiu o
fenômeno da “pejotização, prática de se exigir de um trabalhador a constituição de pessoa
jurídica para que possa ser contratado, o que tende a se expandir no mercado. Através
de uma análise da legislação brasileira promulgada nos últimos anos, tratando direta ou
indiretamente da pejotização, e como plano de fundo à reforma trabalhista, este artigo
questiona esse discurso “pseudo” desenvolvimentista em busca de respostas à crise que
não impliquem na redução dos direitos dos trabalhadores.
Palavras-chave:
Reforma trabalhista — Desenvolvimento humano — Precarização — Pejotização —
Trabalho decente — Valor social do trabalho.
Abstract:
e labor reform has been pointed by a neoliberal-developmental speech as an alternative
to end recession and recover Brazilian economic growth. is brings to mind that
development means no more than speech, considering its popularity in spite of the fact
that it reects the most abstract and common social hopes, reason why the economically
powerful groups, due to enough representativeness in National Congress, managed to
propagate eciently that labor law is an ancient legislation that hinders (economic)
(*) Bacharel em Direito pela Universidade Federal da
Paraíba.
(**) Doutor e Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade
Federal da Paraíba.
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development. Sharing with that reform the same origin — here called neoliberal wave of
labor precarization, the “hiring-free-of-labor-rights” phenomenon has risen as a practice
whereby potential workers are demanded to constitute themselves a legal person in order
to get hired, which tends to spread throughout the job market. By analyzing recently
promulgated legislation, focusing the “hiring-free-of-labor-rights” phenomenon and
having the labor reform as a background, this article questions that developmental speech
and searches for answers to the slump that do not imply on labor rights reduction.
Key-words:
Labor reform — Human development — Precarization — Decent work — Hiring-free-
of-labor-rights — Social value of work.
Índice dos Temas:
1. Introdução
2. Trabalho como alicerce do desenvolvimento humano
2.1. Desenvolvimento como discurso e como paradigma
2.2. Valor social do trabalho e trabalho decente: nortes principiológico e instrumental
para o alcance do desenvolvimento
3. Reforma trabalhista e pejotização na esteira da onda neoliberal precarizante do trabalho
humano
3.1. Reestruturação produtiva, exibilização e precarização
3.2. A pejotização (e a reforma trabalhista) no contexto do terceiro espírito do capita-
lismo
4. A desconformidade da reforma trabalhista com a realização do desenvolvimento humano
4.1. A pejotização no contexto da reforma trabalhista
4.2. Alternativas à crise através do trabalho decente
5. Considerações nais
6. Referências bibliográcas
1. Introdução
A adoção político-econômica do neolibe-
ralismo pelas nações iniciada nos anos 1970
gerou para as empresas um receituário de
flexibilização das relações de produção e
de trabalho, surgindo daí novos pers ideais de
trabalho e de trabalhador, os quais, por sua
vez, deram origem a formas atípicas e preca-
rizantes de exploração como a terceirização
— mais comum — e a “pejotização(1), prática
(1) O termo advém do acrônimo “PJ”, utilizado para
representar a expressão pessoa jurídica. Optou-se por
trazê-lo inicialmente entre aspas, considerando que se
de se exigir que um trabalhador constitua
pessoa jurídica como requisito para a sua
contratação.
Paralelamente, empreendeu-se no Brasil
uma verdadeira tentativa de desconstrução
dos direitos sociais, que se iniciou lenta e sor-
rateiramente para agora ser operada de modo
escancarado, porém apoiada por um discurso
desenvolvimentista. Trata-se do que se pre-
tende chamar de reforma trabalhista, o braço
trata de um neologismo ainda não consolidado como
parte do Vocabulário Ortográf‌ico da Língua Portuguesa
— VOLP.
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